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6 de junho de 2006

O Itamaraty e as frutas chilenas

Por Otávio Hermont Cançado ¹

Após escrever tantos artigos que claramente demonstraram a falta de compromisso do Governo com o agronegócio, a sua espancada ausência de valores e princípios e a descompassada falta de respeito com o povo brasileiro, resolvi firmar promessa, em pleno embargo chileno às carnes brasileiras, desde outubro de 2005, de não mais criticar o atual Governo que definha por si só, a cada dia.

Mais oportuna não poderia ser a escolha da Santa para tal feito: “a Virgem del Carmo”, “Senhora das alturas andinas”. Mas, infelizmente, meus caros leitores, o que fazer se a eterna perspectiva e esperança de contribuir para a recuperação de valores perdidos, que eu imaginava ser possível me distanciar, abateu-me?

Portanto, confesso: vou descumprir a promessa com a Santa chilena e justifico:

i) virar as costas para o problema e fingir que ele não nos diz respeito não o resolve, talvez o agrave;
ii) o Governo é inigualável, consegue até o impossível; e
iii) me dei conta de que não há nada tão prazeroso quanto apontar exaustivamente a falta de competência administrativa do PT.

Na semana passada, um dia depois de suspender as importações de dezenove tipos de frutas do Chile, devido a detecção de ácaros quarentenários provenientes daquele país, o Governo brasileiro, mais uma vez, deixou clara a sua ainda ativa, porém fracassada política de relações exteriores.

Nem perderia meu tempo com este assunto, não fossem as repetidas derrotas sofridas pelo Brasil no campo externo, o descaso, a falta de transparência e irregularidade nas decisões chilenas contra o comércio bilateral, a postura do atual Governo que posa de rico para seus vizinhos e arrota arrogância para o resto do mundo. Enfim, não fosse a frouxidão da atual gestão do Itamaraty com a defesa dos interesses nacionais.

Em particular, onde está a observância da sempre aclamada teoria da reciprocidade da diplomacia no tratamento do caso da importação das frutas chilenas e das exportações de carne bovina brasileira para aquele mercado, que um dia (até outubro de 2005) foi o segundo maior mercado consumidor do Brasil?

Infelizmente, a atual agenda externa brasileira se concentra em fazer pouco e do que é de menor relevância. Não se visualiza uma agenda de Estado, percebe-se uma instituição que age, na maior parte das vezes, sem nenhum alvo ou motivo concreto. “Como se estivesse mirando outro mundo, como se estivesse respondendo à influência de coisas invisíveis e de seres ocultos”2. É incrível a atual capacidade do Itamaraty de agir contrariamente aos interesses nacionais em benefício de países vizinhos.

Após derrotas históricas e lutas infrutíferas ainda em curso, como o insano desejo de pleitear um assento permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas (ONU), a perda da Presidência do BID, da Diretoria-Geral da OMC, a manutenção de relações terceiro-mundistas caracterizadas pelo retrocesso ao populismo com países como a Venezuela e a Bolívia, ex-aliados do Presidente Lula – que tem governantes insignificantes do ponto de vista moral e ético -, a crise no Mercosul e o fiasco do Haiti, o mínimo que o Itamaraty poderia ter feito era poupar o Ministro Roberto Rodrigues de aturar ataques diplomáticos sem embasamento técnico algum.

Para a total desmoralização do Brasil no cenário internacional, nosso Governo perdeu a batalha para as frutinhas-contaminadas-e-quarentenárias-que-podem-nos-fazer-perder-30%-da-colheita-nacional, quando o Itamaraty resolveu dar-lhes livre acesso ao Brasil, com a anuência do Senhor Presidente-Lula-o-articulador-regional.

Por isso, meus caros, se nem à mesa de negociações com uvas chilenas o Itamaraty logrou sucesso, é justo que eu recorra mesmo à Padroeira do Brasil, Nossa Senhora Aparecida, “que nos ensina a viver alegremente a caminho da cruz”.

_______________________________
1Otávio Hermont Cançado, Bacharel em Relações Internacionais pela Universidade de Brasília (UnB), MBA pela Universidade de São Paulo (USP). O tema objeto do artigo foi abordado de acordo com a análise e visão pessoal do autor.

2Eduardo Giannetti, em O Valor do Amanhã.

0 Comments

  1. Elio Micheloni Jr disse:

    Obrigado Otávio.

    Suas palavras colocadas de maneira sóbria, esclarece a real situação política agrícola interna e do comércio exterior. Neste momento, todos os brasileiros são passageiros nesta nau sem rumo, onde os remadores são os produtores rurais.

    É visível a total incomPeTência desses indivídiuos. Suas palavras, caro Otávio, são fortes e necessárias para que ao menos os pecuaristas saiam da passividade em que se encontram.
    Elio Micheloni Jr.

  2. vilmar primão disse:

    Profundamente esclarecedor o seu artigo. Não concordo apenas com o Item III – “… não há nada tão prazeroso em apontar exaustivamente a falta de competência do PT”. E justifico. Afinal o “home” foi eleito por mais de 35 milhões de votos, onde, por si só demonstrou todo o anseio popular de toda uma nação. Por outro lado, não há necessidade de ser um adivinho, porque uma grande parcela da nação já sabia de antemão que o resultado futuro era isso aí: os olhos para o próprio umbigo, embaçados pelo pêndulo da concentração do teor etílico. Já dizia minha avó: “barata que nunca viu melado, quando come, se lambuza”, e de pronto vemos a arrogância e prepotência sobrepujar qualquer resquício de humildade que deveria existir pela própria origem e ascendência tanto humana quanto política.

    Vamos continuar queimando combustível no “busão” de US$ 60.000,00 e artimanhas mil’s na profusão de compra de votos legais, tendo como amparo as “obras sociais” que nada mais são do que o auto-atestado de incompetência de gerenciamento da coisa pública. O que se vê hoje no país é o cinismo descarado imperando, com o mentiroso fazendo nos querer crer que a sua mentira é que é a verdade…

  3. mario centini disse:

    De fato, o articulista tem a mais absoluta razão quando se refere à incompetência do atual (des)governo, em qualquer área, mas, especialmente quanto ao Itamarati. A escória que se abancou de tão importante ministério, conseguiu acabar com mais de um século de trabalho sério e comprometido com os interesses nacionais.

    O nosso “ilustre” presidente pensa que vai liderar a América Latina utilizando os mesmos métodos que seu partido implantou no congresso. Porém os países que ele pretende liderar são mais ávidos que nossos nobres parlamentares. Eles não querem muito, eles querem tudo e o (des) governo, no melhor estilo petista e seus “movimentos dos sem…”, tenta dispor daquilo que não lhes pertence, por exemplo a produção agropecuária nacional.

    Quanto ao ministro Roberto Rodrigues, até hoje não disse a que veio. Não teve, não tem e não terá peito de impor ao governo que a sua pasta é a mais importante, tendo em vista que carregamos as contas do país nas costas. Ele só sabe dizer que “o cobertor é curto”. Tenha paciência…