Por Nelson Pineda1
Partindo do produto final, deve-se, em primeiro lugar, cumprir quatro condições para iniciar uma campanha de marketing eficiente da carne bovina: segurança higiênico-sanitária, rastreabilidade, valor nutricional garantido e qualidade sensorial (Hardwick 1998). O produto tendo qualidade, o marketing enfoca o consumidor e suas necessidades trabalhando por uma parte o lado emocional e por outro o racional de seus impulsos, confirmando às vezes suas respostas e em outras oportunidades induzindo uma mudança de comportamento. Estes princípios são aplicáveis a qualquer produto ao começar uma estratégia de marketing.
Tradicionalmente a indústria da carne brasileira nunca se preocupou seriamente com publicidade, pois a cadeia produtiva é tão extensa que nenhum de seus integrantes se dispõe a financiar individualmente a campanha do produto. Como a carne chega ao consumidor simplesmente como um produto congelado sem marca específica, finalmente é a imagem do açougueiro, responsabilizando-se pela qualidade, que determina a decisão da dona de casa. Desta maneira, o investimento econômico seja para o produtor, para o frigorífico ou para o supermercado, torna-se difícil. É indispensável que o marketing da carne seja orientado e financiado por um órgão como o SIC que reúna os interesses de toda a cadeia e que cada elo colabore economicamente para o êxito da campanha. O marketing da carne precisa em primeiro lugar ser genérico e não específico.
Para que uma campanha de marketing de carne bovina alcance sucesso é preciso conhecer e entender profundamente o consumidor. As mudanças devem ser detectadas com antecedência por meio de pesquisas de opinião constantes e os aspectos emocionais e racionais devem ser trabalhados simultaneamente dentro de uma campanha institucional para aumentar e incentivar o consumo da carne bovina.
1 – Aspetos emocionais: o consumidor precisa de auto-afirmação, sentir-se bem com aquilo que está fazendo. É preciso mostrar-lhe que tem motivos para comer carne vermelha e que este comportamento faz parte da forma moderna de viver. Neste contexto a Inglaterra lançou na década de noventa a campanha Uma Receita de Amor e a Itália Carne, Amor e Fantasia, ambas mostrando a carne bovina associada à vida familiar e ao crescimento das crianças.
2 – Aspectos racionais: a maioria das pessoas gosta de comer carne; gosta de ouvir que isto é correto e precisa de argumentos lógicos para auto-afirmar-se e compreender que em toda dieta balanceada a carne vermelha é indispensável. Faz-se necessário divulgar as vantagens da carne e não assistir passivamente às campanhas pseudo-médicas de origem tendenciosa que unicamente estimulam a desinformação, não só do público em geral, como também dos médicos e nutricionistas. A seguir listamos um grupo de informações básicas sobre a carne e os vegetais que devem ser divulgadas:
A – A carne vermelha contém aminoácidos essenciais em quantidade e qualidade que não são sintetizados pelo organismo e que os vegetais contêm em baixas concentrações. É suficiente comer 100g de carne para se obter a mesma quantidade de lisina que 1kg de pão (Barbero, 2002).
B – A disponibilidade do ferro na carne vermelha é muito maior que nos vegetais. 100g de carne correspondem a 1kg de espinafre. Desta forma a carne vermelha assume vital importância em populações subnutridas onde a anemia é comum (Huerta-Leidenz, 1994).
C – Os hidrocarbonetos policíclicos e as aminas heterocíclicas relacionados ao câncer, são produzidos principalmente a partir do processo de cocção com carvão. Tanto o frango na brasa, como a carne assada desta forma ou qualquer outro alimento protéico, forma compostos muta-gênicos por influência do calor (Luchiari Filho, 1999).
D – A carne vermelha contém colesterol (que não é gordura e sim um esterol) em quantidade moderada (70 – 90mg/100g). A relação entre colesterol ingerido e circulante é de pouca importância para as pessoas que não têm taxas elevadas de colesterol (Luchiari Filho, 1999).
E – O colesterol presente na carne bovina, suína ou de aves é semelhante e inferior na da carne de búfalo (Vale, 1999, 2000).
F – Proteína não é sinônimo de gordura. A proteína da carne vermelha contém somente 2 a 3% de gordura na sua composição (intramuscular) sobretudo quando se trata de carne magra.
G – Muitos pensam que as gorduras de origem animal, como são saturadas, são daninhas e os óleos vegetais por conterem gorduras insaturadas são benéficos, quando na realidade em ambos casos, trata-se de uma mistura de ácidos grassos dos dois tipos, onde pode predominar um ou outro tipo de ácido dependendo do tipo de lipídio e não da origem vegetal ou animal (Huerta-Leidenz, 1994).
H – As dietas exclusivas de frutas e vegetais têm vantagens, porém também trazem riscos para a saúde e devem ter acompanha-mento médico por causa de possíveis desequilíbrios. Uma dieta equilibrada entre frutas, verduras e carne pode trazer mais benefícios que uma dieta exclusivamente vegetariana sem os riscos colaterais desta (Barbero, 2002).
I – Barbero (2002), cirurgião cardiovascular, professor da USP, cita vários autores quando comenta a relação da carne vermelha com os acidentes cardiovasculares.
“A carne magra não aumenta o colesterol quando adicionada à dieta.” O´Brien, Am. J. Clin. Nutr., 1980 Scott et al., Nut. Metab. Cardiovasc. Dis., 1991.
“A ingestão de carne magra, pode levar até a uma redução de 5% do colesterol sérico.” Kestin et al., J. Clin. Nutr., 1989.
“O aumento de colesterol se deve à ingestão de carne gorda.” Morgan et al., J. Am. Diet Assoc., 1993; O´Dea et al., Am. J. Clin. Nutr. 1990.
“Em adolescentes, a ingestão de 180g de carne magra por dia é recomendável como estratégia para a aquisição dos nutrientes necessários.” Niklas T. et al., The Bogalusa Heart Study J. am. Diet Assoc. 1995.
Concluindo, Barbero afirma: “o problema da carne vermelha não é a sua composição e sim a quantidade que ingerimos.”
O marketing da carne deverá ter estratégias definidas, simultâneas e interativas: uma racional orientada para a imprensa e os formadores de opinião e outra emocional mais adequada à mídia televisiva. Embora a doença da “vaca louca” e a febre aftosa tenham trazido enormes perdas para todo o setor da carne vermelha, sobretudo na Europa, esta crise deixou clara a necessidade de pesquisa científica para garantir a segurança do produto, sua inocuidade higiênico-sanitária e a elaboração de sistemas eficazes de rastreabilidade (Huerta-Leidenz, 2000; Smith et al. 2000).
Com uma séria reestruturação, o setor estará apto para enfrentar o seu maior concorrente que hoje sem dúvida é o frango. Nesta línea de pensamento o Serviço de Informação da Carne (SIC) participará ativamente para induzir a formação de parcerias de agregação de valor ao produto carne bovina incentivara a integração da cadeia produtiva e criará sistemas de informação ao consumidor e incentivará todos os processos que permitam ao Brasil adaptar-se às novas exigências da comunidade internacional e as novas tendências do mercado interno.
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1Nelson Pineda, Vice Presidente Internacional do SIC (Serviço de Informação da Carne)
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O Nelson Pineda está de Parabéns por mais este artigo, muito bem pautado em números e em informações. Que ele continue sempre escrevendo no BeefPoint!