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O marketing e a cadeia produtiva da carne bovina

Miguel da Rocha Cavalcanti1

O ano de 2001 foi muito positivo para a cadeia produtiva da carne bovina brasileira. Inúmeros fatores como aftosa na Argentina, “vaca louca” na Europa e a desvalorização do real facilitaram em muito a entrada da carne brasileira em muitos novos mercados.

Mas será que estamos realmente nos tornando líderes mundiais no mercado de carne bovina? Será que seremos o maior exportador de carne bovina em 2005 ? Realmente, nosso potencial produtivo é enorme. Com o rebanho atual e uma melhoria em nossos índices (reprodutivos e produtivos) teremos uma enorme produção.

Para ser possível vender toda essa produção é preciso estar atento a vários fatores muito importantes.

No mercado interno, que é muito grande e serve como pilar da cadeia da carne, o grande problema é a renda do consumidor. Isso realmente está fora do alcance do produtor e da cadeia como um todo. Existem segmentos de renda mais elevada que não estão sendo explorados, a quem poderia ser oferecido um produto diferenciado e com preço premium. No Brasil, 25 milhões de pessoas tem um padrão europeu de qualidade de vida.

Outros problemas são a concorrência com outros países e a concorrência com outras carnes.

Apesar de podermos produzir carne com baixo custo, saudável, com pouca gordura, sem agredir o meio ambiente e com um sabor excepcional, a carne brasileira ainda não tem uma imagem de excelência no exterior.

Nunca foi desenvolvido um trabalho bem feito de marketing nesse sentido. Marketing não é apenas propaganda. O primeiro passo é produzir e oferecer ao consumidor o que ele deseja. Para isso, são necessárias pesquisas sobre hábitos e preferências do consumidor.

Esses hábitos estão mudando rapidamente e, hoje, o consumidor, em várias partes do mundo (para onde o Brasil quer exportar) deseja e muitas exige um produto com qualidade e padronização, que tenha total garantia de que não é prejudicial à saúde ou que não agrida o meio ambiente. Muitas vezes essas exigências parecem tolas, mas se não as atendermos, outros fornecedores venderão em nosso lugar.

A Austrália tem como principal mercado exportador o Japão, que é o maior comprador de carne do mundo e que paga os melhores preços. Desde setembro do ano passado, quando houve alguns casos de BSE no Japão, o consumo de carne caiu bastante nesse país. Qual foi a resposta da Austrália ? Além de fazer uma forte campanha reforçando as qualidades da carne australiana, hoje muitos produtores e frigoríficos estão se preparando (ou em muitos casos, já estão prontos e produzindo) para atender às normas de rastreabilidade da Comunidade Européia, com o objetivo de exportar o excedente de carne para lá. E o Brasil, será que estamos prontos para competir com tanta eficiência ? Acredito que sim; no entanto, é preciso agir.

Outro bom exemplo é a Nova Zelândia. Há 10 anos, todo o setor de carnes deste país estava em crise, com baixa lucratividade. Hoje, toda a indústria da carne tem rendimentos elevados e as expectativas são muito positivas. Mas tudo isso não ocorreu por acaso. Todo o setor se modernizou e buscou se adequar à nova situação de mercado, que exigia tecnologia e inovação. Há 20 anos, 85% da carne ovina era exportada em forma de carcaça inteira, ao passo que, hoje, apenas 8% ainda é exportada dessa maneira. A agregação de valor ocorre dentro do país, trazendo dividendos para todos os elos da cadeia. Além disso, houve aumento da eficiência dos processos produtivos, possibilitando uma diminuição de custos.

Outra frente de batalha são os produtos substitutos. No mundo inteiro, a cada dia, o frango é mais consumido e a carne bovina se mantém estável ou perde espaço. Esse ano, as previsões indicam uma produção de frangos de corte maior do que de bovinos. Tudo isso ocorre porque as indústrias da carne suína e de frango estão sendo mais rápidas e capazes de atender ao que o consumidor deseja. A cada dia são lançados novos produtos. Hoje, existe uma infinidade de produtos de frango de preparo rápido, ao passo que a última grande novidade em produtos de carne bovina foi o hambúrguer !

A carne bovina não possui marca. Não são feitas pesquisas de mercado em número suficiente, não existem produtos inovadores lançados recentemente, etc. Por esses motivos, seria um fracasso como produto. Por que não o é ? A resposta está no aroma do churrasco, na suculência do bife feito na hora, no sabor daquele cozido tradicional.

Carne bovina é um excelente alimento, une sabor e nutrição. Para completar, o Brasil pode produzir com baixo custo e atendendo às novas tendências do mundo, que são a saúde e o meio ambiente. Só é necessário que se mostre o que fazemos, e nos adequemos ao desejo de quem paga a conta, o consumidor final.

Com o objetivo de disseminar conceitos, divulgar exemplos bem sucedidos de iniciativas do setor e estimular a adoção de estratégias que se preocupam com o consumidor, o BeefPoint está lançando uma nova seção com o nome de Marketing da Carne.

Mande suas críticas, comentários e sugestões. E aproveite.

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1 – Engenheiro Agrônomo, Coordenador do BeefPoint

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