O SISBOV jamais foi desenvolvido como ferramenta de gestão, nunca teve esta pretensão, e nunca terá. É assim aqui no Brasil e é assim em todos os países do mundo que possuem sistemas análogos. Rastreabilidade tem o objetivo de rastrear, possibilitar o Trace Back e ponto.
Sempre que se fala em SISBOV, a coisa literalmente pega fogo. Parece que estamos falando de tabus tais como religião, direito ao aborto, legalização das drogas, uso de células tronco ou discutindo sobre os times para os quais torcemos. É paixão a flor da pele. E isso é bom, pois fomenta a discussão, traz idéias e mobiliza os envolvidos.
Mas, desde que o homem tornou-se uma espécie com a capacidade de raciocinar, só existe um jeito de se transformar tabu em consciência: a informação.
Então é nosso dever implodir as barragens de contenção e deixar fluir todas as torrentes de informação para que, de posse delas, cada um forme sua opinião, tal qual uma casa sólida sobre a pedra (olha um tabu voltando só para assombrar).
Uma das grandes discussões que se faz ao redor do SISBOV é justamente a questão da Gestão. E uso o termo “ao redor” porque esta não está inserida no cerne do programa. O SISBOV, um menino de apenas dez anos, ainda imberbe, não é sinônimo e nem pretende ter a sabedoria da Senhora Gestão, centenária em suas origens. Ambos podem se complementar e se ajudar sim, se o produtor desejar. Mas não são gêmeos siameses.
Exatamente como num time de futebol vencedor, o certo não é misturar medalhões experientes com jovens cheios de energia e vontade? (outro tabu, só para não perdermos o hábito).
O SISBOV jamais foi desenvolvido como ferramenta de gestão, nunca teve esta pretensão, e nunca terá. É assim aqui no Brasil e é assim em todos os países do mundo que possuem sistemas análogos. Rastreabilidade tem o objetivo de rastrear, possibilitar o Trace Back e ponto.
Mas os inúmeros dados que ele gera são sim bônus colaterais que o produtor recebe. E que o Estado também recebe para lhe ajudar na tão importante formação das políticas públicas.
Neste ponto cabe uma grande reflexão aos apaixonados pelo tema: os produtores brasileiros sabem sim, e muito bem, produzir. Criamos animais e colhemos safras como poucos no mundo.
Mas a grande maioria, a grande maioria mesmo, não faz de forma eficaz ou simplesmente não faz a gestão do seu negócio. E por Gestão com “G” maiúsculo entende-se o controle eficaz de dados, de custos, de oportunidades de mercado, de visão de longo prazo e etc, etc, e mais etecéteras.
Fazer como dizem os gringos e “go to the balcony” para ter a visão ampla de onde o negócio que se dirige está inserido. Fazer gestão bem feita, isto é, conseguir chegar a informações que possam levar a tomada de decisões para aumento da rentabilidade de um negócio exige muito esforço, investimento e principalmente comprometimento do produtor, do empresário do campo. Quem faz sabe. É bem mais difícil e complicado do que o SISBOV, que se torna quase brincadeira de criança perto da venerável Senhora Gestão.
Luciano Medici Antunes – Engenheiro Agronomo, sócio fundador da empresa Planejar, presidente por cinco anos da entidade que congrega as certificadoras SISBOV e participante de vários grupos de trabalho do Governo Federal ligados a rastreabilidade bovina, inclusive em missões junto a União Européia.
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Parece-me que a aplicação da rastreabilidade para solucionar o que ela se propõe(identificar a origem dos produtos e daí a origem de possíveis problemas-zoonoses,má concervação,etc) deveria ter sido programado e acompanhado por tecnicos que tenham conhecimento da realidade do campo.O que vemos são pessoas com amplo conhecimento(?) teórico e o mínimo de conhecimento prático.Se fosse diferente não defenderiam tantas idéias ilusivas e fora da nossa realidade.
Sr. Airton, agradeço os comentários. Apenas complemento que todos nós que trabalhamos com rastreabilidade e gestão o fazemos no campo, na mangueira,nos bretes. Sem o conhecimento prático da realidade do campo não teríamos como implantar nenhum processo de controle ou gestão. Como disse, plantar, criar e colher é algo que o produtor rural domina largamente do Brasil. Se os processos de controle e gestão apresentarem melhoras, a tendência é de grande aumento em renda e desempenho.
O Brasil ainda chega lá, questão de certificação e rastreabilidade da cadeia produtiva de bovinos e bubalinos, porque temos que tratar a certificação de propriedade e rastreabilidade como ferramenta de garantia de origem da nossa produção, e não como um inimigo do produtor brasileiro.
Precisamos encarar o sistema com muita seriedade para podermos alavancar os preços do nosso produto, dando garantia ao consumidor de que ele esta consumindo um alimento seguro.
A certificação e rastreabilidade na cadeia produtiva de bovinos e bubalino representam segurança alimentar, e contribui significativamente para saúde publica do nosso pais e ao mercado internacional.
Temos que agregar valor a produção, mas também temos que mostrar e comprovar a forma que produzimos os nossos alimentos, a certificação de propriedades, a rastreabilidades de animais tem que acontecer não só para o mercado internacional, mas deve de ser também voltado para o mercado brasileiro, afinal de contas nossos consumidores merecem todo o nosso respeito.
As empresas de processamentos de carne devem de forma urgente, premiar e manter a premiação aos produtores em patamares definidos para todos os períodos do ano, assim facilitando os investimentos necessários para implementação do sistema nas propriedades e facilitando a vida de quem produz.
A premiação para animais habilitados para Europa, já estão sendo pago o diferencial de preço na arroba em todas as praças da zona habilitada pela EU, isso vale para frigoríficos habilitados, ou seja, exportador para aquele mercado.
A Sisbov é importante para o produtor, para o frigorífico, consumidor e para o pais, é uma questão de bom senso.
Prezado Luciano,
Após ler seu artigo ainda não consigo entender para que serve mesmo o SISBOV.
Ele simplesmente identifica o animal (determina regras sobre perdas do brinco, regras sobre substituição do mesmo etc) e o registra em uma BND.
Entretanto Identificar é o passo básico para rastrear, mas o sistema não faz isso, não há registro algum do que aconteceu em sua vida, a não ser sua movimentação entre propriedades, e o destino final, morte na propriedade ou no frigorífico…
Aparentemente, nem isso que seria o mais básico está sendo feito.
Afinal, os embargos ainda continuam de pé, e até o momento não nos disseram a origem dos animais que forneceram partes de sua carne que foram exportadas com problemas sanitários mencionados pelo importadores.
Se o sistema funcionasse, já saberíamos há muito tempo de quais propriedades se originaram, e poderíamos fazer como você mesmo mencionou algum "trace back", para tentar entender as causas que originaram as "não conformidades apontadas pelos importadores"… Isso se a propriedade possuísse algum registro de manejo sanitário e alimentar… caso contrário não teríamos nada… a não ser, saber de onde veio…
É muito pouco benefício para justificar a burocracia e a quantidade de agentes envolvidos, com os custos pagos por quem produz…
Afinal, para serem exportadas as "carnes" se originaram em propriedades certificadas, com os animais devidamente "brincados" e registrados na BND do sisbov…
Os frigoríficos que as exportaram deveriam saber de onde vieram…
Para que o sistema tenha um mínimo de credibilidade, deveriam registrar sua origem nas partes resultantes dos respectivos desmembramentos… se não o fazem, está mais do que provado que o sistema não serve nem para o básico, que é: saber de onde se originaram os animais identificados… Qual a serventia de identifica-los e registrá-los em uma BND, se após desmembrado perde-se a possibilidade de fazer o que você menciona como "possibilitar o Trace Back e ponto"?
Ademais, esperar que não percamos a paciência com os fatos, é brincar com nossa inteligência.
Analogias de que o "sisbov" é uma criança de apenas 10 anos, também não é adequada, pois ele (sistema sisbov) não teve geração espontânea, foi gerado por pessoas de muito mais idade, de formação superior, que ocupavam e ocupam posições técnicas relevantes que acredito não menores que as suas (registradas no final de seu artigo)… Não é o sisbov o culpado, ele simplesmente personifica o tipo de "inteligência" utilizada para criá-lo… A cada nova versão nos pediam paciência, e novamente paciência…
Tanto na aftosa, como no "sisbov" o erro é humano, o tal sistema é fruto da "sabedoria" instalada nos órgãos do "ente estado", pagos com nossos impostos, para no final "brincarem" e dificultarem nosso negócio, com a ajuda dos que orbitam a atividade em busca de ganhos "cartoriais", resultantes das "inteligências" envolvidas…
Nada pessoal, mas fatos são fatos…
Concordo inteiramente contigo Mesquita.
Nada pessoal também.
Acredito ser no mínimo obtuso o comentário feito pelo sr. José Manuel de Mesquita. A típica visão de uma parcela de produtores que, seja por comodismo, pensamentos retrógrados ou até pela incapacidade de gerar, extrair e gerir os dados de suas propriedades, são contra quaisquer mudanças na cadeia produtiva da carne.
Para um esclarecimento, há sim no SISBOV o cadastramento das ocorrencias relativas aos manejos nutricinais, reprodutivos e sanitarios, não havendo apenas a obrigatoriedade da inclusão destes registros na BND. Mas garanto ao senhores que os produtores com conhecimento de gestão (que são os que conseguem se manter na lista traces) mantem esses registros no livro de campo de suas propriedades.
O SISBOV, como bem disse o sr. Luciano, não é uma ferramenta de gestão e nem o pretende ser. Muito menos é um conjunto de regras simples que levam a melhoria da propriedade. O SISBOV é uma normativa federal que atende muito bem às expectativas de mercados consumidores exigentes e que não está mais aberto a negociação e flexibilização de suas normas restritivas. Aderem a ele os produtores que querem e permanecem nele os que tem capacidade.
Não estou dizendo com isso que o SISBOV é um programa perfeito. Aliás, pelo contrario, mas tenho ficado positivamente satisfeito com as melhorias do programa que, como qualquer outro bom programa elaborado por pessoas, não pode permanecer estático, mas deve ser aprimorado porém sem perder a essencia.
Nada pessoal, sr. José Manuel de Mesquita, mas são os fatos…
Primeiro, cumprimento o Luciano pelo texto e pela coragem de escrever sobre este tema. Também gostei de todas as considerações que li. Tem razão o Sr. José Manuel de Mesquita em suas opiniões.Excelente este debate.
Este é um assunto complicado para emitir opiniões, pois está envolto em um manto de incertezas e incredulidade. Existem razões para esta atmosfera. Criaram-se múltiplas expectativas e esperanças junto aos produtores e frigoríficos sobre a capacidade do SISBOV em se transformar num sólido e consistente trampolin à nossa inserção no mercado internacional, principalmente naqueles países que elegem a rastreabillidade como condição indispensável para adquirirem a carne brasileira.
A desunião entre os elos da cadeia podutiva é um dos elementos que explicam o insuceso do nosso trace back. Existem vários outros alheios à nossa vontade. Já por várias vezes, neste mesmo espaço, propus que frigoríicos e produtores esqueçam as questões comerciais e, através de suas entidades de classe, sentem e discutam sobre problemas comuns que os afetam. A rastreabilidade seria um dos temas prioritários da pauta.
Vamos unir a CNA, SRB, ABRAFRIGO, ABIEC, ABCZ e discutir a nossa proposta,do setor privado, independentemente do MAPA num primeiro momento. Após as idéias discutidas e consensadas levamos ao Ministro Mendes Ribeiro e dizemos como nós queremos que as coisas sejam feitas. O Ministro certamente vai organizar uma reunião técnica entre nós e os seus técnicos para avalizar se o conteúdo da proposta apresenta o rigor técnico e legal, e, eventualmente propor alguma sugestão. Os certificadores deverão estar presentes.
Desde que não faltem vontade, iniciativa e disposição de nossa parte, e que não sobrem salto alto, esnobismo e arrogância, temos tudo para fazer do Brasil a maior potência pecuária do mundo, em termos de quantidade e qualidade.
Quem vai dar o primeiro passo ?
Faço das palavras de Mesquita as minhas!!!