A silagem de milho apresenta alguns aspectos que podemos considerá-los como negativos. Por Thiago Fernandes Bernardes e Rafael Camargo do Amaral.
A silagem de milho é o volumoso mais utilizado nas dietas de bovinos de leite e de corte no Brasil, conforme mostraram os levantamentos realizados por Bernardes (2012) e Millen et al. (2009). Este cenário ocorre porque esta espécie reúne diversas características positivas, tais como: alta ensilabilidade, produtividade e elevado valor nutritivo.
Contudo, a silagem de milho apresenta alguns aspectos que podemos considerá-los como negativos: a) a cultura é agronomicamente complexa, ou seja, exige tratos culturais frequentes e intensos (uso de fertilizantes, herbicidas, inseticidas e fungicidas), b) a colheita durante o período chuvoso também pode ser um limitante quando se pensa em compactação do solo, c) o cultivo próximo as zonas urbanas se torna inviável pelo roubo de espigas e d) o custo de produção fica vinculado ao mercado internacional.
Este último fator é quem nos chamou a atenção para a definição do título deste artigo, pois nas últimas semanas o preço da tonelada do milho grão teve um aumento exorbitante, o que afeta diretamente o preço dos insumos destinados ao cultivo desta espécie, principalmente o da semente. Desta forma, o custo da tonelada de silagem de milho neste ano e, possivelmente, nos que virão experimentará uma elevação. Considerando os itens que estão embutidos no custo de produção da silagem de milho (insumos, preparo do solo, plantio e cultivo, ensilagem e desabastecimento/distribuição), os insumos representam 49,5% do total, conforme o trabalho de Daniel et al. (2010).
Tradicionalmente, o custo da tonelada de silagem de milho é moderadamente elevado quando comparado, por exemplo, ao custo da silagem de sorgo e de cana-de-açúcar. Desse modo, só se justifica o seu uso em dietas de animais que possuem alta eficiência alimentar e produtiva, ou seja, indivíduos (animais) de baixo potencial genético não devem ser alimentados com esse tipo de silagem, pois há outras opções mais adequadas do ponto de vista logístico e econômico.
O gráfico abaixo elucida a relação de troca entre litros de leite e tonelada de matéria seca de silagem produzida, ou seja, considerando o pagamento do leite a R$ 0,85 (média do mês de julho: RS, SC, PR, SP, MG, GO e BA) a fazenda teria que produzir 366, 346 e 241 litros de leite para pagar os custos de uma tonelada das silagens de milho, sorgo e cana-de-açúcar, respectivamente. Portanto, por meio da relação de troca fica mais claro para o produtor ou para o técnico (nutricionista) compreender o quanto os volumosos conservados custam e, a silagem de milho frente as outras opções, é onde se emprega mais recursos financeiros.
Figura 1. Produção de leite (litros) necessária para custear uma tonelada de matéria seca de silagem de milho, sorgo ou cana-de-açúcar
Baseado no questionamento do título deste artigo, muitos poderão nos questionar qual deveria ser a produtividade do rebanho para que a silagem de milho valesse a pena. Infelizmente, nós não temos números exatos para tal pergunta, contudo, o objetivo é alertá-los que nem todo animal é merecedor deste volumoso e, no Brasil, ainda há muitos rebanhos de baixo (ou baixíssimo) potencial produtivo que plano alimentar é a base de silagem de milho, o que torna a atividade menos viável do ponto de vista logístico e financeiro.
Produtor, leve consigo esta mensagem: ‘Dieta contendo silagem de milho, é dieta para animais de média e alta exigência nutricional’. Pense nisso!
4 Comments
URGENTE: O custo das silagens mencionadas está em materia seca , ou na matéria original.
Prezados Thiago e Rafael,
Quantos quilos de silagem de sorgo e de cana são equivalentes nutricionalmente a um quilo de silagem de milho?
Caro André,
Os cálculos foram feitos com base na matéria seca. É incorreto utilizar matéria natural.
Att,
Thiago & Rafael
Caro José,
Para responder ao teu questionamento podemos utilizar como variável nutricional o NDT (nutrientes digestíveis totais). Em média, as silagens de sorgo e de cana-de-açúcar apresentam 92% e 85%, respectivamente, do valor média de NDT da silagem de milho (considerada como 100%). Ou seja, a cada 100 kg de NDT de silagem de milho, nós teríamos cerca de 92 e 85 kg de silagem de sorgo e cana-de-açúcar.
Ressalta-se que no exemplo usado anteriormente nós consideramos a média. Valores diferentes podem ocorrer porque as silagens produzidas no nosso país são muito heterogêneas quanto ao valor nutricional.
Att,
Thiago & Rafael