Com escalas mais folgadas frigoríficos voltam a pressionar e indicador recua R$ 1,71 na semana
27 de novembro de 2008
Mercados Futuros – 28/11/08
1 de dezembro de 2008

O mundo mudou. E as perspectivas do mercado?

A crise ainda não está definida, não se sabe sua extensão. Ainda estamos no "olho do furacão", ou tentando ler o rótulo de uma garrafa, estando dentro dela. O que podemos analisar até o momento a respeito de como será o mercado do boi da carne nesse final de ano e em 2009?

Em outubro publiquei o artigo “Mercado mundial da carne bovina – perspectivas para o Brasil“, onde fiz uma revisão das principais tendências que influenciam o mercado do boi e da carne, no Brasil. Muitas cartas comentando, analisando e criticando o artigo foram enviadas, enriquecendo o conteúdo do artigo, melhorando o debate. Obrigado pela participação. Em palestras sobre o tema, muita gente também me pergunta sobre o impacto da crise mundial no Brasil.

A crise ainda não está definida, não se sabe sua extensão. Ainda estamos no “olho do furacão”, ou tentando ler o rótulo de uma garrafa, estando dentro dela. O que podemos analisar até o momento a respeito de como será o mercado do boi da carne nesse final de ano e em 2009?

Oferta no curto prazo

A oferta de gado gordo para abate continua muito restrita. Os abates dos últimos 12 meses (Nov/07 a out/08) estão 11% abaixo em relação aos 12 meses anteriores (Nov/06 a out/07). Nos últimos 3 meses, a diferença é ainda maior, 13%. A perspectiva é que nos próximos meses a oferta seja ainda menor.

Esse ano, os confinadores da pesquisa Top 50 BeefPoint de Confinamentos reportaram ter comprado garrotes mais caros, de pior qualidade e a uma distância maior. Ou seja, esgotaram ainda mais os estoques de animais, que não sendo terminados na entressafra, seriam engordados e abatidos nessa safra que agora se inicia. Em resumo, haverá menos gado para abate nos próximos meses do que no mesmo período do ano passado.

Oferta no longo prazo

Os altos custos de produção e diminuição do crédito para grandes projetos pecuários também devem diminuir a velocidade com que a produção de bezerros se recupera. Muita gente tem perguntado: quanto tempo irá demorar para a produção voltar a crescer, e derrubar novamente os preços? Essa dúvida é correta, visto a corrida pelo aumento da produção de cana-de-açúcar, após os preços recordes de 2006. Em pouco tempo, a produção aumentou mais rápido que a demanda, diminuindo os preços.

Com esse cenário de custos mais altos, apenas os mais eficientes, produtivos, conseguirão lucratividade. Com isso, menos gente deve investir pesado. Antes de investir será preciso se profissionalizar. O preço pode cair por outros fatores (como menor demanda mundial), mas continua sendo improvável a ocorrência de uma avalanche de oferta nos próximos anos.

Alguns grandes projetos pecuários, que captavam recursos no mercado financeiro para aumentar sua escala e volume de produção, agora também sofrem com a escassez de crédito, e têm menor possibilidade de saltos no volume produzido. Isso também reduzirá, pelo menos no curto prazo, aumentos significativos na oferta.

Exportações no curto prazo

As exportações devem se manter nos atuais níveis, com possibilidade de queda nos volumes. A queda na cotação do preço do petróleo, quase 1/3 do pico desse ano, e cerca de 40% mais barato do que há um ano, diminui a capacidade de compra dos principais parceiros comerciais do Brasil, em carne bovina.

A solução, nesse ponto, é aumentar o acesso brasileiro, inclusive a mercados que o Brasil já atuou no passado recente, como União Européia (que compra pequenos volumes hoje) e Chile que já foi um dos maiores parceiros brasileiros, e que tem dificultado enormemente o acesso do produto brasileiro.

Por outro lado, a valorização do dólar aumenta em muito o poder de compra dos frigoríficos brasileiros. Ao se avaliar a relação de troca (carne exportada X arrobas de boi), percebe-se que a situação, graças ao dólar, melhorou enormemente nos últimos meses. De outubro/07 a setembro/08, cada tonelada de carne comprava em média 79@ de boi gordo. Em outubro/08, o poder de compra da carne exportada saltou para 105@.

Margem dos frigoríficos

A margem dos frigoríficos continua apertada, mesmo com a melhora na relação de troca (venda de carne, no mercado interno e externo e compra de boi gordo). O grande problema é que o baixo volume de abate, que traz como conseqüência uma menor diluição dos custos fixos. Quando uma planta opera com capacidade máxima, gasta menos por animal abatido, podendo até ter uma menor margem entre a venda da carne e a compra do boi.

A grande expansão das empresas frigoríficas nos últimos anos aumentou esse problema. Há estimativas de capacidade atual de abate do parque industrial brasileiro na casa dos 68 milhões de cabeça ao ano, para um abate em torno de 40-45 milhões de cabeças/ano.

Esse cenário atual dos frigoríficos não descarta no médio prazo novas aquisições ou fusões, ou problemas de pagamento em frigoríficos menos capitalizados.

Escassez de crédito

Os últimos anos foram caracterizados pela abundância de crédito no mundo. Até meados de setembro desse ano, era fácil, rápido e barato conseguir linhas de crédito para exportação, para expansões, para aquisições. Ouvi de um pecuarista que captava no mercado financeiro: “Negócio bom não acaba nunca, mas o dinheiro acaba. Agora, o dinheiro não acaba, com isso consigo comprar muito bem, sempre”. Desde então, o mundo mudou. O que antes era uma operação corriqueira, se tornou difícil e demorada. O crédito aos poucos volta, mas não aos níveis pré-setembro. Isso tem afetado principalmente os frigoríficos, um setor com uma grande necessidade de crédito.

Efeitos da crise no Brasil

A princípio, a crise será mais amena no Brasil do que em países europeus e nos EUA. Mas nosso país não passará imune. As vendas de automóveis e imóveis caíram e devem continuar em baixa nos próximos meses.

O desaquecimento de setores importantes da economia leva um efeito cascata. Se todos apertam os cintos, há menos vendas em todos os setores, mesmo os que não seriam impactados inicialmente. As vendas de alimentos, no mercado interno, devem ser pouco afetadas, em menor escala que as vendas de bens de maior valor, e que dependem de financiamento.

Um fator positivo é que o mundo está atuando cada vez mais fortemente para conter a crise, impedir uma recessão em maior escala. Os EUA já injetaram mais de US$ 1,5 trilhão, buscando manter o consumo.

A China, que é uma das economias mais centralizadas e influenciadas pelo estado, também já tomou uma série de iniciativas para impulsionar sua economia e fortalecer seu mercado interno. O lado positivo é que a China tem enormes reservas, podendo se dar ao luxo de investir mais.

O Brasil segue relativamente blindado. Como disse um colunista do jornal Folha de São Paulo: “os amortecedores brasileiros contra a crise funcionaram e estão intactos: reservas, contas públicas, inflação ruim mas não descabelada e contas externas sem deterioração adicional“.

Em resumo: o mundo vai crescer menos em 2008 e 2009, mas segue em crescimento, se recuperando a partir de 2010. Em 2009, que será pior que 2008, mesmo os países desenvolvidos terão (algum) crescimento.

Gráfico 1. Crescimento da economia mundial

Clique na imagem para ampliá-la.

Emergentes, hoje e no longo prazo

Num cenário de mais longo prazo, continuam válidas as projeções de que as economias emergentes irão sustentar o crescimento mundial e é de lá que virá o grande crescimento do consumo mundial. Um estudo publicado em Novembro pela revista inglesa The Economist sobre o mercado de carros em países emergentes é instigador. As vendas de carros nos países do BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China) ultrapassa a venda de carros nos EUA.

Até 2020, a frota de veículos mundial vai crescer enormemente, em especial devido às vendas em países em crescimento. É um dado que deve preocupar os ambientalistas e acelerar o aquecimento global, mas não podemos deixar de fazer um paralelo entre o consumo de carne e venda de carros.

Milhões de pessoas, que graças ao aumento de renda começam a comprar carros. São os mesmos milhões, que antes tinham uma dieta vegetariana forçada e agora começam a provar os sabores e qualidades de uma dieta com carnes e lácteos.

Gráfico 2. Venda de carros (EUA x BRIC)

Gráfico 3. Vendas de carros de baixo custo no mundo (US$ 3.100 a US$ 7.800)

Clique na imagem para ampliá-la.

O que os pessimistas dizem

Há gente esperando preços mais baixos para o boi gordo no primeiro semestre de 2009. A justificativa seria uma queda na demanda, especialmente internacional, maior do que a oferta (que está enxuta e deve continuar assim). Se isso ocorrer mesmo, o que considero pouco provável, vai atrasar ainda mais a recuperação da produção brasileira, prolongando o problema de baixa oferta e alta ociosidade dos frigoríficos.

Olhando no longo prazo

A Nestlé anunciou há poucas semanas que irá comprar duas empresas entre 2008 e 2009. A explicação: o momento é ruim, mas no médio longo prazo o cenário é muito positivo. Vamos ficar por aqui por muitos anos, disse o presidente da empresa.

Perguntaram-me o que eu achava da recessão. Pensei a respeito e decidi que não participaria dela“, Sam Walton, fundador do WalMart, maior rede varejista do mundo.

O que fazer diante da incerteza

Há duas opções, diante do cenário atual. A primeira é colocar o pé no freio, esperar para ver o que acontece, esperar por mais segurança, e só daí investir. Como o ciclo de produção é longo, e os resultados demoram para aparecer, esse tempo perdido agora pode custar caro lá na frente.

A segunda opção é investir agora, com um aguçado foco em intensificação. Entenda intensificação como aumentar/otimizar o resultado por cada recurso investido. O lucro virá da extrema capacidade de produzir com eficiência e custo competitivo e na habilidade em implantar tecnologias que aumentam a produção, de forma economicamente viável.

O lucro pode vir também de preços mais altos, graças a baixa oferta, mas apostar suas fichas apenas nisso, é arriscado. Mesmo com todo o cenário de demanda mundial crescente e com o Brasil estando numa posição de destaque para aumento de produção, com custo competitivo.

Um setor que está carente de investimentos, e de produção de alta qualidade, e com volume, é a cria. Faltam bezerros de alta qualidade, em quantidade, e deverá faltar ainda mais.

“O melhor temperamento para um bom investidor é ser ganancioso quando os outros estão assustados, e ficar assustado quando os outros são gananciosos”, Warren Buffet, investidor de 78 anos, homem mais rico do mundo, fortuna pessoal de US$ 62 bilhões.

E você, o que vai fazer?

0 Comments

  1. Paulo E. F. Loureiro disse:

    Miguel,

    Parabéns pelo artigo, você fez um apanhado geral da crise, mostrando tendências e alternativas.

    Sobre a sua pergunta sobre o que fazer, no meu caso, vou acordar mais cedo ainda e trabalhar mais.

  2. Maurício Menegotto de Almeida. disse:

    Parabéns, como sempre, seus artigos são práticos e lúcidos.

  3. Roberto Ribeiro Carvalho Pini disse:

    Miguel,

    Parabéns! Como estamos agora, “de dentro da garrafa”, você fez a melhor analise possivel, abrangente, mostrando tendências, conjunturas e vários pontos de vista.

    Contamos com você, sempre muito atento, para reconhecermos os novos sinais que devem começar a aparecer quando sairmos do olho do furacão.

    Abraços

  4. Luciano Guimaraes disse:

    Parabéns pelo artigo.

    Realmente precisamos é nos profissionalizar mais. Planejamento estratégico e operacional, estas são duas coisas que devemos aprender a fazer rotineiramente dentro de uma fazenda. Para aqueles que buscaram e buscam produzir “melhor”, com certeza a crise será mais branda. Ao contrário, será longa e penosa.

    O agropecuarista precisa saber “ler” o mercado para tomar decisões mais acertadas e assim, garantir sua permanência no mesmo.

    E vamos em frente.

  5. Joao Batista Haro de Almeida disse:

    Parabéns, pela clareza, visão de futuro, e lucidez com que foi escrito seu artigo, e a nós pecuaristas de nascimento nos resta apenas mais dedicação e firmeza para dirigirmos nosso negócio, pois não sabemos fazer outro e nem queremos aprender, porque estamos no melhor ramo e negócio que existem, seremos para sempre com crise ou sem ela criadores de bom gado Nelore, para cada vez mais firmarmos nossa posição no mercado internacional, que precisa da nossa preciosa proteina vermelha, saborosa, e sem igual.

    Boa sorte, fé e coragem a todos os colegas, muitas crises ainda virão e também por elas passaremos altivos e esperançosos com um grande futuro que nos está reservado no cenário da Bovinocultura Mundial.

  6. Luiz Henrique Dantas Carrijo disse:

    Parabéns Miguel,

    O que você acredita que pode acontecer com o consumo interno, após o aumento da carne no varejo e qual a influencia deste no cenário de falta de bois para o abate?

    Quanto aos frigoríficos, as paradas de algumas plantas podem ter um alto impacto no custo fixo das operações?

  7. Carlos Alberto Borges disse:

    Caro Miguel,

    Parabéns pelas avaliações, acredito que atualmente fazermos previsões a médio e a longo prazo não é uma tarefa das mais facéis, mas conforme um de seus comentários, podemos levandar os custos de produção para tomada de decisões. Avaliar o custo de produção da cria, recria, como da engorda, levantando o valor da @ produzida, poderá ser a melhor ferramenta que dispomos para o auxílio da tomada de decisões e poderemos nos surpreender, caso o momento a melhor opção seja investir na produtividade, reduzindo o custo de produção.

    Sucesso.

  8. Rafael Henrique Ruzzon Scarpetta disse:

    Sempre muito interessante seu ponto de vista.

    Parabéns.

    E respondendo sua pergunta, cuja resposta está acima dela. Acho que é a hora de ser ganancioso, não é a toa que o Warren Buffet é o homem mais rico do mundo!

  9. Manoel Terra Verdi disse:

    Acho que você tocou de passagem em um ponto importante para a cadeia produtiva da carne, quando se referiu ao enorme aumento do custo industrial dos frigoríficos, motivado pela matança a meia capacidade.

    Se sabe que os grandes frigoríficos apostam que os pequenos não sobreviverão, e eu particularmente, acho que nem eles. Estou neste ramo a muito tempo, e sempre percebi que em nosso negócio, mais do que em qualquer outro, sempre prevaleceu a lei da oferta e procura; clara, sem subterfúgios; faltava boi, subia, escala comprida, caia.

    Mas os grandes frigoríficos resolveram anular esta lógica, e para isto resolveram empastar garrotes e confinar bois, e através disto manipular o mercado. Como esta ferramenta, apesar de importante, é insuficiente, resolveram usar a estratégia das meias escalas. Isto é veneno puro, se de um lado, quebra os frigoríficos e penalisa os produtores, de outro, não deixa que possiveis baixas cheguem ao consumidor. O possivel resultado se anula no aumento do custo industrial. A pecuária deixa de ter seu momento de alta, naquele movimento que antigamente era de sete anos e que agora poderia ser de cinco, e acaba caminhando para a diminuição do rebanho.

    As grandes redes de frigorícos, deviam avisar a seus novos executivos, que a carne não é uma commodity, e muito menos uma commodity qualquer, não se produz carne bovina, como de frango e de suinos em giros rapidissimos ou rápidos, e muito menos como minerios e petróleo que são extraidos em estado bruto na natureza, ou ainda os grãos que da decisão de produzí-los a polos no saco só vão alguns meses. Na pecuária ainda tudo começa na vaca. É preciso visão de longo prazo, um negócio realizado hoje não se extingue neste ato, ele repercute lá na frente. Um abraço,

  10. Marcos Francisco Simões de Almeida disse:

    Miguel, parabéns! mas de todo o artigo vou destacar a máxima de Warren Buffet:

    “O melhor temperamento para um bom investidor é ser ganancioso quando os outros estão assustados, e ficar assustado quando os outros são gananciosos”.

    Sabe porquê?

    1º) Produtor de carne não passa de um investidor. Quem não tem esta mentalidade corre sérios riscos com a atividade;

    2º) Estamos num mundo globalizado;

    3º) A carne do Brasil é a carne do mundo;

    4º) Antes da crise tínhamos problemas de falta de mercadoria, que continua até hoje;

    5º) Enquanto a crise se espalha pelos países consumistas, aqui ela é localizada apenas nos setores dependentes de créditos;

    6º) O mercado interno de alimentos não deverá ser muito afetado;

    7º) Sabe daquelas histórias de que sempre há algum setor que se beneficia com a crise? Pois é, vejo esta situação para a carne brasileira.

    Sugestão: Vamos aproveitar esse marasmo no mundo para recompor (ajustar) nossa produção e principalmente nosso Marketing internacional, pois por oportunidade de mercado e pelo preço baixo do nosso produto, poderemos ampliar nossas exportações.

    Abraço,

    Minha mentalidade é: viva a carne brasileira.

  11. Marco Aurélio marinho Costa disse:

    Parabéns pelo artigo.

    Passo no momento por grandes dúvidas, pois estou preparando o lançamento da minha linha de suplemento mineral para bovinos de corte na minha região de atuação, porém mesmo para uma queda esperada para o período para a área de nutrição animal (ração), em novembro as minhas vendas caíram quase 60%, o que me deixou bastante preocupado, pois começo a sentir a crise real bater a minha porta com redução de crédito, aumento dos juros para troca de recebíveis e redução nas vendas, no entanto continuo acreditando no longo prazo.

  12. orlando nascimento ferreira disse:

    Parabéns Miguel,

    Ótima matéria, você conseguiu reproduzir o que está acontecendo no mundo e a crise que estamos atravessando, não por nossa culpa, mas estamos pagando a conta, trabalho em um grande frigorifico como representante comercial, vejo algumas tendencias de mercado, não é preciso só produzir produtos de qualidade, os frigorificos também tem que investir na formação de profissionais de vendas com cursos e palestras sobre o assunto, não adianta só produzir bem tem que se vender bem e atender com qualidade.

    Desde que começou a noticia sobre a crise mundial, não fiquei só assistindo reportagem pela televisão, investi mais em mim e na minha empresa, pois sou um empresário, e o resultado vem sendo bastante favorável, pois desde que começou a crise minha venda vem aumentado todo mês gradativamente. Não adianta só observar tem que se trabalhar mais.

  13. Esdrhas Sestak Rodrigues disse:

    Muito bom o seu assunto. Vanos continuar a nossa luta pela sobrevivência da pecuária. Para que nós brasileiros continuemos a comer o nosso churrasco de todo domingo.

  14. Gustavo Adolfo Pereira Lima Ubida disse:

    Parbéns pelo artigo, as colocações foram de muito bom censo!

    Grande abraço e tudo de bom!

  15. Antonio Pereira Lima disse:

    Miguel parabéns pela amplitude do assunto e pela convicção do seu raciocínio, aproveito a oportunidade para deixar aqui a minha opinião.

    – A oferta a curto prazo será ainda menor, a maioria dos confinadores já abateram e os bois de pasto ainda não chegaram, não tivemos chuvas regulares até agora, vamos entrar num período que a gente chama de buraco negro da oferta.

    – A oferta a longo prazo, próximos 5 a 6 anos, também não deve mudar, devemos ter bolhas de oferta e será o reflexo dos anos anteriores, o boi que esta morrendo em 2008 a grande maioria nasceu em 2005, e a rapidez com que o produtor deixa de criar não é a mesma de quando ele resolve voltar na cria, muitos até gostariam mas não tem fôlego para entourar uma novilha, que esta pronta para o abate, e ficar no mínimo 2 anos sem renda esperando para vender um produto desmamado. Nos últimos anos quando a maioria achava que o Brasil estava aumentando a produção de carne, eu fiz parte da minoria, que tinha certeza que nós estávamos comendo o estoque.

    – Tudo que ofertamos de carne até agora foi consumido, nunca eu vi falar que alguém jogou carne fora porque não vendeu e estragou, 80% pelo mercado interno e 20% exportado, se nós tivemos uma redução de plantel e consequentemente uma redução na oferta de 15%, ou vai faltar carne no mercado interno ou falta para exportar.

    – Quando se fala em margem do frigorífico, até parece que o boi só tem carne, que não existe sub-produto, que a maioria dos produtores só sabem que eles vendem, mas não tem a mínima idéia por quanto, que é a unica parte do boi que só dá lucro, tanto que os frigoríficos maiores que aproveitam melhor os sub-produtos, pelo volume abatido, tem colocado carne no mercado abaixo do seu custo quebrando os pequenos, que tem o lucro principal na carne, e tirando um concorrente que era o principal puxador de preço, hoje em qualquer boteco de beira de estrada tem carne embalada do Friboi e Bertin e isto me dá medo, me lembro quando os supermercados começaram a vender carne abaixo do custo e quebraram os açougueiros, hoje é o item de maior lucro do supermercado, e giram todo dia. Os frigoríficos aprenderam a lição, tanto que a Nestlé vai ficar por aqui para aproveitar esta cama que esta sendo preparada, já estamos começando a sentir na pele, a carne sobe e o boi desce, leite cai e queijo sobe e assim vai,estão conseguindo provar que carne e boi são duas mercadorias distintas, quando as empresas falam que a coisa vai melhorar pode ter certeza, se o bonde continuar nesta toada, que não vai ser para o produtor, é a ótica da crise, se o dono da funerária falar que a coisa está boa é porque tá ruim para muitos.

    – As duas opções que você me oferece para enfrentar o momento, prefiro o meio termo, não vou pisar no freio com medo da derrapagem e nem acelerar nos investimentos com medo de não fazer esta curva da incerteza, vou ficar atento as oportunidades que com certeza vão surgir e não esquecer que são nas grandes crises que surgem as grandes fortunas.

    Um grande abraço.

  16. Gustavo Juñen disse:

    Como siempre, buen análisis e información. Salvando las diferencias de tamaño con Uruguay, comparto lo de la inversión en la cría. Aquí también sería una oportunidad.

    Saludos
    Gustavo Juñen
    Maldonado uruguay

  17. José Reinã do Couto disse:

    Parabéns pelo artigo. Vou aguardar, observando as oportunidades para crescer na crise.

  18. Pedro Eduardo de Felício disse:

    Prezado Miguel,

    Sua análise é primorosa e fico feliz de poder acompanhar a evolução de suas competências há alguns anos.

    Concordo com sua análise e sei que você tem os dados, enquanto nessa matéria (mercado) eu só tenho sensibilidade e muito tempo de observação.

    Claro que, como tantos outros eu já estava preocupado com a perda do mercado europeu – que não voltou e não voltará no primeiro semestre – e com o predomínio de países exportadores de petróleo entre os maiores importadores; não fosse pela queda nos preços de petróleo, seria pelo temperamento dos russos, que suspendem as compras a bel-prazer como já faziam com a carne suína brasileira.

    Concordo com você que deve mesmo ser tão grande a capacidade instalada de abate de bovinos no país e, para piorar, não são 40-45 milhões de cabeças abatidas, são somente 25 milhões em abate com SIF ou 30,5 milhões pelo IBGE (2007, ano de pico de abates; inclui estabelecimentos registrados em estados e municípios). Deve haver outros 5 milhões, se tanto, de bovinos de baixo peso de carcaça, na clandestinidade, ou para consumo próprio no meio rural, mas com esses a indústria organizada não poderia mesmo contar. Daí que virão as novas aquisições ou fusões a que você se refere, ou seja, peixes grandes comerão os pequenos, mas muitos desses, por motivo de localização, péssimas instalações e agressão ao meio ambiente não poderão ser deglutidos, irão quebrar e transferir o prejuízo para os seus fornecedores de gado.

    Eu creio que as vendas serão sim afetadas, tanto no mercado interno como externo; no interno pode ser só no primeiro semestre até ajustar preços entre supermercados e consumidores, mas teremos problemas aí sim, é o que eu penso, pois as carnes embaladas a vácuo em pacotes pequenos, com valor agregado para a indústria, já estão sobrando nas gôndolas refrigeradas. E é nesse ponto que o pessimista a que você se refere não é senão um realista, porque não se pode negar que o primeiro semestre de 2009 será muito difícil, ou quem sabe, até o ano todo será complicado, como se deu este ano em relação ao embargo da União Européia, que os otimistas acreditavam que se resolveria em poucos meses e, para não cair na realidade, publicam em todos os sites, jornais e revistas que a UE habilitou os estados x, y e z, para exportação de carne in natura, mas de que adianta habilitar se não compram?

    É hora de repensar todo o sistema da indústria da carne nacional; pensar em sair da crise com produtividade, qualidade e, sobretudo organização, tanto ao nível de cada agropecuária, como da institucionalização de um modelo nacional de gestão da cadeia produtiva em termos de sanidade animal, gerenciamento pela qualidade total, tipificação de carcaças, rastreabilidade, bem estar animal, combate ao trabalho escravo e ao desmatamento, e certificação dos ingredientes utilizados na alimentação do gado.

    Bom final de ano e Feliz Natal a você e todos os seus leitores.

  19. Julio Pacheco disse:

    Crise na simbologia oriental é sinonimo de OPORTUNIDADE.
    Na terminologia da bolsa – comprar em baixa e vender na alta.
    Análise simples, didática e orientativa. Quem quizer invista!

  20. Julio M. Tatsch disse:

    Caro amigo Miguel

    Parabenizo seu artigo, pela qualidade da análise, abrangência e recomendações práticas. Como já citado, o amigo demonstra evolução constante em seus artigos e diria que mais uma vez se superou.

    Faço coro em sua recomendação aos colegas pecuaristas, de particular atenção na busca pela eficiência econômica nas explorações agropecuárias.

    Tomo a liberdade de acrescentar dois pontos:
    o mais importante, que os colegas pecuaristas acrescentem em sua administração, “formas” de fazer uma gestão do risco econômico. Pois a exemplo do atual momento, onde todo o indicativo é de estarmos presenciando uma descarada manipulação baixista dos preços ofertados aos pecuaristas, praticada pelos demais integrantes da cadeia da carne e conivência de outros. Portanto, demonstrando a necessidade de nos anteciparmos, traçando alternativas a estas manipulações, pois acreditar num mercado regido puramente pelas leis da oferta e da procura, demonstra-se temerário a economia e patrimônio dos pecuaristas.

    Como segundo ponto, lembro que existem soluções para otimizar a rentabilidade da propriedade, fora do “quadrado” da pecuária de corte. Destacando que só atingimos altos preços pecuários pela redução da oferta. Portanto, atenção com aumentos de produção, que resultem em aumentos de custo de produção unitário. Lembro, quantidade não é sinônimo de lucratividade.

  21. Paulo Cesar Bastos disse:

    Prezado Miguel Cavalcanti

    Parabéns por mais um editorial direcionado para a necessidade de inovar e profissionalizar a cadeia produtiva da carne.

    A mais nova e presente, cantada em prosa e verso, crise financeira internacional poderá ser novamente a oportunidade da pecuária de corte brasileira. Precisamos aprender as lições, mudar os conceitos e inovar nas ações.

    Apesar da fundamental importância das exportações de carne, o mercado interno é, ainda, e será por muito tempo, o fiel da balança. A grande parte do aqui produzido aqui será consumido. Lembremos todos disso.

    Torna-se, desse modo, urgente e necessário um caminho inovador no sentido de racionalização e modernização produtiva e comercial da cadeia produtiva da carne bovina.

    Precisamos inovar nos produtos, processos e serviços para, como resultado de melhores práticas e inovações tecnológicas e mercadológicas, gerarmos melhores resultados na indústria de modo a permitir melhores preços para os produtores sem repasses inviáveis para os consumidores, esse elo importante e imprescindível para a cadeia produtiva.

    Precisamos, também, repensar a forma de relacionamento entre pecuaristas, frigoríficos, distribuidores e o varejo.

    O atual cenário de disputa precisa evoluir para o moderno cenário negocial do ganha-ganha, onde todos conseguem a sua correspondente fatia, compartilhando bons resultados, praticando preços justos e viáveis, vendendo para muitos, por muito tempo e por todo o tempo. O mundo não foi feito em um dia e não vai durar poucos dias.

    As sugestões, idéias e metódos inovadores devem ser fomentadas e serão sempre benvindas. Ninguem é dono da verdade. Vamos avançar, vamos pensar e vamos inovar. O tempo não pode parar.

  22. Eduardo Madeira Castilho disse:

    Miguel,

    Mais uma vez te parabenizo pelas brilhantes abordagens de teus artigos, sendo estes de forma pontual e coesa.

    Abraços e feliz fim de ano!

  23. adriano alves de urzedo disse:

    Caro Miguel, parabéns pelas ponderações do artigo.

    Demorei um pouco para comentar seu artigo, mas acho que agora, depois de tantas quedas no preço da arroba do boi, principalmente em minha região, quero dar a seguinte opinião:

    A tendência de queda de maneira abrupta do valor pago pelos grandes frigoríficos não encontra justificativa plausível.

    A única explicação seria para forçar uma forte queda nos preços, para lucrarem ainda mais, especulando com a “crise” mundial.

    Esta tendência de queda também se acentua no momento em que colegas pecuaristas, desesperados e por que não dizer despreparados para aguentar pressões como esta pela qual passamos, reduzem e aceitam vender por preços que já chegam a não cobrir seus custos de produção.

    Esta é cruel lei de mercado, se me oferecem muito, eu pago o que quero.

    Os pecuaristas devem ter cautela para não cairem neste jogo de interesses dos grandes compradores.

    Do contrario teremos um ano novo com velhos problemas.

    Abraços a todos e Feliz Natal e prospero ano novo

  24. Ubiratan Antônio Deienno disse:

    Caro Miguel,

    Aos 15 dias do mês de dezembro de 2008, tardiamente venho ler este artigo, datado de 28/11/08, com a lucidez que o futuro hoje me proporciona.

    Então concluo que:

    Pecuarista não é investidor, e nunca será, não tem como ser investidor e tentar analisar mercado numa atividade de tão longo prazo.

    “Sempre haverá uma pedra no meio de um caminho tão longo.”

    Para continuar nesse caminho o jeito é andar de “luz alta”, talvez assim se possa enxergar mais adiante as pedras maiores e passar por cima das menores sem muito estrago.

    Afinal já passamos por atalhos piores do que esse.
    Talvez esta baixa seja mais uma manipulação dos frigoríficos para retornar rapidamente suas margens de entressafra às margens de safra. Esse tratamento de choque já tem se tornado frequente nos últimos dezembros ou janeiros.

    Assim espero!

    Ou melhor; que assim seja;

    Amém.

  25. Adimar Leonel Souto disse:

    Parabens,

    Muito oportuno o artigo, pois faz uma analogia geral sobre o momento, embora como mencionado pelo autor trata-se de uma incognita e ninguém poderá precisar o real desfecho. Penso que devemos nos profissionalizar, investir com cautela e eficiência e trabalhar um pouco mais para compensar a possível redução da margem operacional. E como já diziam os mais antigos “quem chega primeiro bebe a água limpa”.

    Saudações.

  26. Carlos Marcelo Saviani disse:

    Caro Miguel,

    Excelente artigo de macroeconomia! Pena que muitos pecuaristas se baseiam apenas nisso para as suas decisões. Como se a solução para tudo estivesse no valor da arroba.

    De que adianta conhecer o valor futuro da arroba se você não sabe o quanto ela custa para você? Ou saber a margem do frigorifico se não se conhece a sua própria margem por ha? Ou como se compõem os seus custos por Kg de carne produzida?

    Pode parecer óbvio, mas muitos pecuaristas não possuem estas informações de forma segura. Ou se possuem não sabem o que fazer com elas. Nós que rodamos o Brasil todo visitando pecuaristas podemos afirmar isso. Tudo se resume a dica de microeconomia no segundo paragrafo da última parte do seu artigo: “aumentar/otimizar o resultado por cada recurso investido”. Quanto lucro hoje não é perdido apenas neste aspecto, independente do valor da arroba?

    Apenas para ficar em um exemplo, que vem da saúde animal: solicitamos recentemente um estudo junto a uma séria e profissional consultoria do setor, que foi realizado junto a 350 fazendas de gado de corte (diferentes atividades) espalhadas pelo Brasil. Eles avaliaram o impacto econômico da introdução de um programa sanitário preventivo e estratégico feito com produtos veterinários de qualidade superior (primeira linha). Apenas alterando esta tecnologia, que representa menos de 5% dos custos totais da empresa, a rentabilidade, na média, foi melhorada em 17,9%! Logicamente esta não é a tecnologia mais barata, mas quem disse que mínimo custo significa máximo lucro? Imagina então aplicar o mesmo na sanidade, na genética e na nutrição.

    A verdade é que precisamos de profissionais competentes para saberem tomar decisões como esta. Uma pequena mas competitiva industria, por menor que seja, possui hoje pelo menos um administrador, um engenheiro, um profissional de qualidade e um contador ou economista, só para citar o básico. Isto por que trabalham em um galpão fechado, com processos conhecidos e controlados.

    Muitas fazendas que já visitei, faturando o dobro, o triplo ou até mais tem apenas um administrador geral muitas vezes nem com o segundo grau completo. Excelentes práticos e muito necessários para a fazenda, mas não para estarem no seu comando. Ainda mais em um negócio que envolve incertezas, biologia, ambientes e processos de dificil controle. Quando muito vemos um veterinário ou um zootecnista, mas cumprindo um papel de “peão de luxo”. Não sabem nem os índices zootécnicos da fazenda e quando os conhecem, não sabem o que fazer com eles. Logicamente existem as exceções e como é bom encontrá-las! Invariavelmente acontecem em empresas saudáveis e de elevada rentabilidade.

    É Miguel, o mundo mudou. E nós na pecuária, teremos a capacidade de fazer o mesmo?

    Um Grande Abraço.

  27. Jose Eduardo da Silva disse:

    É tempo de arrumar a casa, pois no fim de 2010 a crise termina e quem não tiver estruturado vai ficar para traz, oferta de bezerros em 2011 normaliza e ai pode ficar como estar pois a demanda será mais que a oferta.

    Acredito que muitos frigorificos até 2009 vão fechar e ai vai ficar um grupo seleto deles, dolar a R$ 2,20 bom para exportar e comprar arrobas no Brasil e no Uruguai.

    Na nossa região norte de minas e num raio de 300 km acredito que a oferta de bois gordos deva cair em mais de 25%, pois de abril de 2008 até outubro, animais de 6 a 14 foram exportados ou mortos antecipadamente pelos frigorificos, e em abates de 800 -900 cabeças 500 eram vacas, vai ser dificil arrumar 1000 bois dia.