Por Orestes Prata Tibery Junior1
O artigo do Dr. Gilberto Pires de Oliveira Dias reforça a minha preocupação com relação às seleções paralelas de grupos de “inconformados”, como ele mesmo cita em seu artigo.
Baseia-se em testes feitos por Preston & Willy (Intensive Beef Production, de 1974). Este Dr. Preston descobriu que os critérios para a exposição de Perth, na Escócia, eram arcaicos.
Descobriu também que a Holanda favoreceu as exposições e ficou tão atrás que teve de recomeçar. Acredito que esta seleção tenha sido de vacas holandesas leiteiras, que, se não encherem o balde, realmente não adianta raça, carcaça e beleza.
Outra descoberta importante foi que os selecionadores de gado para exposição, em geral tratam os animais em cocheira, com ração e que por isso ganham muito peso.
Critica o registro da ABCZ, demonstrando sua defesa às seleções paralelas, deturpa a minha matéria dizendo da minha preocupação com os critérios atualmente usados nas exposições, induzindo o leitor que não leu o meu artigo a acreditar que defendo a seleção dos super alimentados não me preocupando com o nelore selecionado a pasto.
As exposições existem em todo o mundo e mostram muito bem o trabalho dos selecionadores que se preocupam com a melhoria e harmonia da carcaça e da precocidade, aumentando o volume das garupas, dos aprumos com angulação correta capazes de suportar até as 1.500 gramas dia que critiquei no meu artigo, mas, da maneira que o Dr. Gilberto coloca, parece que estou enaltecendo. No artigo o Dr. Gilberto deixa bem claro que exposição não serve para nada.
Diz que o exame do DNA mostra na maioria dos nelores a presença de Bos Taurus e que o registro da ABCZ não garante qualidade.
Muito bem, realmente existe a presença de Bos Taurus na maioria dos nelores, só que, nos PO registrados pela ABCZ, cujas genealogias defendo, esta presença do europeu está diluída por mais de 80 anos de seleção, de criadores competentes como Rubico Carvalho, Torres Homem, Otávio Machado, Nenê Costa, Durval G. de Menezes, Rodolfo Machado, Celso Garcia Cid, etc, que nos proporcionaram com este material, condições de chegarmos com o nelore na posição de destaque que desfruta com todo o merecimento. Se podemos aproveitar estes mais de 80 anos de seleção, por que começarmos do Zero, com os caras limpas?
O selecionador criterioso, ao longo destes anos vem reservando as melhores famílias, as vacas mais férteis, as “barrigas de ouro”, que dão sempre bons produtos.
O Senhor acha que podemos desprezar tudo isto, todo este trabalho, só porque a zootecnia diz que raça é um conjunto de animais que apresentam grande número de características iguais?
Se pegarmos um bom touro nelore, cruzarmos com “qualquer coisa”, na filha deles colocarmos outro touro nelore “turbinado” e neste produto mais uma vez outro bom nelore, com certeza vamos encontrar o que o Dr. Gilberto defende através da zootecnia. Está correto?
Nelore é nelore, não vamos copiar o que não deu certo na Escócia ou na Holanda. Nós estamos fazendo um trabalho com nelore no Brasil, é diferente.
O Senhor cita os trabalhos sérios da CFM, da Jacarezinho e da USP, quero dizer que fiquei muito feliz em saber que estão acertando com a ABCZ para fazer um trabalho unificado que, com certeza só beneficiará a raça, aproveitando as suas pesquisas que reconheço e respeito, mas, também aceitando a “Cara do Nelore” da qual a ABCZ não abre mão.
Os meus amigos criadores tem ligado perguntando quem é o Dr. Gilberto, eu respondo que não sei, e acho que ele também não me conhece, porque no seu artigo ele me chama de Dr. Orestes e, pelo sim, pelo não eu também taquei um Dr. nele.
De uma coisa eu tenho certeza, como todo nelorista, ele deve ser um cara legal.
Quero aproveitar a oportunidade para dizer ao meu amigo, irmão e “cumpadre” Viacava que não esqueci do mocho quando descrevi o padrão racial com a cara do indiano. Todos nós neloristas sabemos da importância e das qualidades do nelore mocho, só que, no meu artigo, eu procuro descrever como deve ser o “nelore com chifre”.
Viacava vai receber com muita justiça, por decisão unânime da diretoria da ABCZ o Mérito Pecuário, pelo seu fantástico trabalho de reconhecimento das qualidades da carne do nelore, trabalho este que atinge as outras raças zebuínas cuja carne tem as mesmas características e qualidades da do nelore. Don Carlos é tão jeitoso que tira a nossa grana e ninguém chia, porque todos sabemos que será muito bem empregada.
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1Orestes Prata Tibery Junior é criador de nelore desde 1957, ex-diretor da Associação dos Criadores de Nelore do Brasil, diretor da Associação Brasileira dos Criadores de Zebu e membro do Conselho Técnico da Raça Nelore.