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19 de agosto de 2003
Análise Semanal – 21/08/03
21 de agosto de 2003

O novo mundo dos transgênicos

Em congresso realizado na cidade de Basiléia, Suíça, o cientista Dr. Marc van Montagu da Organização Internacional de Biotecnologia Vegetal – IBPO, apresentou um trabalho com o título de “A Biotecnologia em Sintonia com o Manejo dos Nutrientes”. Alguns trechos:

“A engenharia genética pode ser uma ferramenta valiosa para manipular características novas, criando, por exemplo, plantas resistentes ao estresse biótico, como pragas e doenças, ou ao estresse abiótico, tais como a salinidade e a seca. Pode também ser utilizada para controlar características físicas tais como maturação, a arquitetura da planta, a deiscência das vagens ou a persistência dos capulhos, bem como as características dos produtos tais como o conteúdo e a qualidade do amido, da proteína, do óleo e de outros elementos nutritivos”.

“Os benefícios resultantes de plantas que sejam mais resistentes às pragas e moléstias não podem ser subestimados. As plantas suscetíveis não somente têm custos de produção mais elevados, mas ainda requerem agro-químicos para sua proteção, motivo de preocupação tanto dos consumidores como dos ambientalistas. A resistência à salinidade e à seca viria expandir a área agricultável, estendendo-a para solos sujeitos a alto teor de sal ou á estiagem. Viria também contribuir para safras menos oscilantes, que ocorrem quando as culturas estão sujeitas aos estresses climáticos e aos inerentes ao solo. Os pesquisadores já identificaram uma completa série de proteínas funcionais e reguladoras que poderiam estar envolvidas na resistência à seca”.

“O ferro e o zinco são as principais metas para os bio-fortificantes. Estes nutrientes essenciais são armazenados quase que exclusivamente nas cascas dos grãos de cereais sendo, por conseguinte, perdidos durante o beneficiamento e brunirão. Não é à toa que 63% das crianças em idade pré-escolar e 76% das mulheres gestantes no sudeste da Ásia sofrem de anemia porque elas dependem do arroz brunido para sua alimentação básica. Transferindo, por exemplo, os genes de ferritina da soja para o arroz, este cereal geneticamente modificado se tornaria uma fonte de ferro”.

“O potencial de melhoramento das plantas cultivadas nunca foi tão grande graças aos recentes avanços no mapeamento do genoma vegetal”. Além disso, de acordo com van Montagu, “os produtos GM são tão seguros quanto os produtos convencionais”.

“Por outro lado, a transição para o desenvolvimento sustentável é inconcebível sem o apoio da ciência, da engenharia e da tecnologia. As plantações do século 21 serão de plantas geneticamente modificadas-GM” – concluiu van Montagu.

Fonte: IFC – International Fertilizer Correspondent no 8, anais do Congresso para Celebrar o Jubileu de Ouro do IPI, Out. 02. Iniciativa Fundação Agrisus, São Paulo.

0 Comments

  1. José Roberto Puoli disse:

    Meu caro e estimado Sr. Fernando Cardoso,

    É sempre um prazer muito grande ler os seus artigos. Eles sempre trazem um misto de conhecimento de elevado nível associado com uma boa pitada da experiência de vida do Sr.

    Como cientista que sou de formação e profissional na área de produção, tenho pensado muito a respeito de OGM e consequentemente me posicionar a respeito deles. Já estou conseguindo formar algumas idéias bem gerais e depois de ler o artigo do Sr. penso que consigo fazer a seguinte análise(ainda que superficial, pois, estou bem longe de conseguir me posicionar sem ser radical):

    1. Tenho muito medo (pode ser por pura falta de conhecimento) de mudanças genéticas associadas à resistência do OGM à qualquer coisa. Como por exemplo, resistência de uma planta a um certo herbicida. Qual a garantia que temos que este gene não será transmitido para uma outra planta? Por exemplo, para uma erva daninha, que tenha parentescos com a planta GM. Por conseguencia passará a ser, também, resistente ao herbicida.

    Como disse no começo, este tipo de informação pode estar disponível na literatura e eu desconheça. Mas, de novo, tenho receio dos OGM neste aspecto.

    2. Por outro lado, quando falamos de mudanças genéticas para aumentar o teor de Fe do arroz, através de um gene da soja, como o Sr. mostrou no seu artigo, então penso que este tipo de mudança genética é muito útil.

    Por fim, a conclusão que chego é que: é impossível simplesmente generalizar os OGM. Penso que é quase impossível dizer que os OGM’s estão liberados ou não.

    Acredito, então, que a liberação dos OGM’s deva ser feita idividualmente. Cada caso deve ser estudado e por fim resolver se deve ou não ser liberado.

    Bem Sr. Fernando, que bom seria se nós pudessemos sentar na farmácia do meu avô em Descalvado e debater este assunto pessoalmente. Naquela época não existia este assunto e hoje não existe a farmácia.

    Forte abraço do seu admirador.

    José Roberto Puoli

  2. Fernando Penteado Cardoso disse:

    Meu caro José Roberto Puoli:

    Foi-se a farmácia e chegaram os transgênicos. Como a vida, sempre se renovando e deixando saudades. Grato por suas amáveis palavras. De fato, a matéria não é minha, pois limitei-me a traduzir, com a intenção de chamar a atenção para uma nova era da agricultura, que mostra a possibilidade de se criarem cultivares e talvez espécies sob encomenda. Haverá erros e inconvenientes, mas, vai sempre aparecer os bons frutos da inteligência.

    O triste é acompanhar a turba anti-tecnologia, buliçosa e barulhenta, retardando o progresso e atrasando o país. Enquanto cacarejam, os políticos permanecem em cima do muro, com medo que a propaganda de fantasmas e assombrações venha a impressionar as massas eleitorais pouco esclarecidas, sensibilizadas pela TV. O importante é lembrar que a transgenia é muito mais doque obter variedades tolerantes ao glifosato. Vamos ter novos alimentos mais saudáveis, mais atraentes, menos perecíveis, mais abundantes e mais baratos em benefício das populações consumidoras por todo o mundo. O futuro dirá sobre o poder da inteligência.

    Grande abraço.