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O pecuarista e o produtor de algodão

Por Marcelo A. B. F. Alves1

Quero, para ajudar no entendimento dos conceitos envolvidos na pecuária moderna e eficiente, fazer uma analogia entre pecuaristas e agricultores. Utilizarei como exemplo para isto, pelo fato de eu ser de uma região onde a produção de fibras é muito expressiva – Campo Verde, no Mato Grosso – o produtor de algodão.

Para produzir algodão com qualidade e viabilidade econômica, o cotonicultor, primeiramente, recorre a uma assistência técnica competente. Faz a análise do solo para a indicação da necessidade da aplicação de calcário para a correção da acidez e de fertilizantes para correção dos níveis de nutrientes.

A semeadura é feita na época mais indicada pela pesquisa científica, utilizando-se sementes de qualidade comprovada por laboratórios oficiais e cultivares previamente selecionadas, adaptadas à região de cultivo. Após o plantio, atenção especial é dada ao controle do mato e ao monitoramento de pragas e doenças, que devem ser prontamente combatidos para a garantia da produtividade.

No final do ciclo, a colheita é efetuada por máquinas modernas e bem reguladas, capazes de oferecer o máximo de rendimento possível, preservando a qualidade. Daí a fibra segue para o beneficiamento nas usinas algodoeiras, onde se extrai o caroço e as impurezas e o algodão é prensado, embalado, classificado e identificado, tornando-se pronto para a comercialização.

O objetivo final de todo cotonicultor é produzir matéria-prima de boa qualidade e obter lucro em sua atividade, certamente.

Bem, vamos então a nossa comparação, que será feita de forma retroativa.

O pecuarista, como o cotonilcultor, também deve desejar produzir matéria-prima, digo carne, de boa qualidade e obter lucro em sua atividade, não? Pois bem. Assim como o produtor de algodão possui a usina algodoeira para o processamento de sua fibra, transformando algodão em caroço em pluma, o pecuarista também possui a “máquina” de benefício que, no seu caso, é a mesma “máquina” que faz a colheita da lavoura.

A tal “máquina” nada mais é do que o seu animal, que ingere alimento ou colhe, no caso das pastagens, e o transforma em carne. Assim como o seu colega aqricultor, deve dispor de “máquinas modernas e bem reguladas, capazes de oferecer o máximo de rendimento possível”.

Deparamos, aqui, com o primeiro conceito envolvido: genética. O pecuarista tem que trabalhar com boa genética, ou seja, com animais ou “máquinas” capazes de oferecer o máximo de rendimento em colheita e beneficiamento, o que significa dizer uma genética adaptada ao meio, prolífica, com disposição para buscar alimento quando em pastagens e com alta capacidade de conversão alimentar.

Como o cotonilcultor zela de sua lavoura, não descuidando do controle do mato, pragas e doenças, o pecuarista deve zelar pelo seu rebanho, evidenciando o segundo conceito: manejo. É essencial oferecer ao rebanho um manejo adequado no que se refere às vacinações, ao controle de endo e ectoparasitos, controles zootécnicos, conforto; enfim, todos os itens capazes de assegurar as condições apropriadas para que o “animal-máquina” possa expressar todo seu potencial genético.

A atitude do produtor de algodão de analisar o solo, corrigi-lo com calcário e aplicar fertilizantes aponta a preocupação que este tem em garantir à sua lavoura nutrição adequada. Terceiro conceito aplicado à pecuária: nutrição. O alimento que é fornecido aos animais, no cocho ou o próprio pasto, tem que apresentar a melhor qualidade possível, para que, valendo-se de sua genética e das boas condições de manejo, o “animal-máquina” possa, por fim, expressar o seu máximo potencial produtivo.

Daí torna-se muito importante a produção de alimentos de boa qualidade e em quantidade suficiente. Em se tratando de pastagem, o pecuarista deve ser tão ou mais eficiente em produzir forragem do que o cotonicultor em produzir algodão. Pois, no caso do produtor de fibras, estão envolvidos na produção o solo, as plantas, o clima, os insumos, as máquinas e os recursos humanos. Já na pecuária, além destes fatores, temos ainda compondo o sistema os animais. O pecuarista que quiser ser bem sucedido em seu empreendimento deve encarar o pasto como o agricultor encara o seu algodão: como uma lavoura merecedora de todos os cuidados, enfim, como um dos elementos que irá levá-lo ao lucro.

O cotonicultor iniciou o seu trabalho recorrendo a uma assistência técnica eficiente, fator que também nunca pode faltar ao pecuarista. Trata-se do quarto e último conceito: gerenciamento. É preciso dispor de profissionais qualificados e aptos a auxiliar na gestão da genética, do manejo e da alimentação, combinando da melhor forma possível todos os fatores de produção.

Tentei, com esta comparação, evidenciar os tais conceitos relacionadas à pecuária moderna. A mensagem que desejo deixar aos amigos pecuaristas é que não é possível fazer pecuária eficiente sem incorporar aos sistemas produtivos os mesmos conceitos inerentes à agricultura empresarial.

É preciso encarar a fazenda de gado como uma empresa. É preciso tratar o pasto como uma lavoura. É preciso cuidar dos animais como máquinas de beneficiamento de matéria-prima. Aquele que, a partir de agora, não atentar para estes conceitos, poderá ser comparado aos piores cotonicultores e, a estes, não restará outro resultado senão a decadência e a falência.

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1Marcelo A. B. F. Alves, engenheiro agrônomo, consultor em sistemas agropecuários na região de Campo Verde/MT

0 Comments

  1. Jose Sergio Garcia disse:

    Caro companheiro: pecuaristas sérios deste país investiram em genética, pastagens rotacionadas adubadas, rastreabilidade, sanidade e tecnologias. Nos tornamos os maiores produtores de carne do mundo, as exportacões bateram recordes, e o que aconteceu??? Com o rotacionado ficamos refém dos adubos, que hora o preço subia por causa do dólar, hora por causa do frete. Fizeram nos engolir uma rastreabilidade falha, totalmente incompatível com a dimensão continental deste País e com todos os custos arcados pela classe pecuária, e como era de se esperar, não virou em nada. Compramos máquinas que mal conseguimos tirar da garagem, culpa do preço do diesel. Nunca fomos tão mal remunerados em toda história. Portanto, não inventem moda, pois o verdadeiro pecuarista está no fundo do poço.