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O poder dos reemergentes

Os países emergentes já somam mais da metade do PIB mundial em paridade do poder de compra, ultrapassando os países desenvolvidos. Além disso, eles contam com 83% da população, consomem 54% da energia, detêm 70% das reservas financeiras e 43% das exportações (ante apenas 20% em 1970).

Os países emergentes já somam mais da metade do PIB mundial em paridade do poder de compra, ultrapassando os países desenvolvidos. Além disso, eles contam com 83% da população, consomem 54% da energia, detêm 70% das reservas financeiras e 43% das exportações (ante apenas 20% em 1970).

A edição desta semana da revista The Economist traz um ótimo relatório sobre o novo poder dos emergentes, que prova que o mundo deixou de ser uni ou bipolar e vai ficando cada vez mais multipolar. O relatório começa por corrigir uma imprecisão histórica: o termo ´emergentes´ seria incorreto e, a rigor, deveria ser substituído por economias ´reemergentes´, já que o grupo de países em questão ficou fora dos holofotes durante apenas um curto período de 180 anos, entre a revolução industrial européia e o final da década passada. Durante oito séculos, entre os anos 1000 e 1820, os hoje reemergentes, principalmente na Ásia, controlaram 80% da riqueza mundial!

A reemergência dos emergentes é o maior fenômeno deste início de milênio. Nos últimos cinco anos eles cresceram 7% ao ano, ante apenas 2,3% dos países ricos, taxas que se devem manter no próximo qüinqüênio. O crescimento sustentado desses países decorre de amplas reformas internas: abertura comercial, atração de capital externo, aumento da competição, dos investimentos e da produtividade dos fatores, rápida integração nas cadeias produtivas globais, aproveitamento das tecnologias de informação etc.

Mais de 1 bilhão de novos consumidores destes países vão ingressar no mercado global de consumo na próxima década. A Goldman Sachs estima que China, Índia, México, Rússia e Brasil estarão entre as dez maiores economias do mundo em 2040 e serão, juntos, maiores que o atual G-7.

Contudo, um dos grandes equívocos da atualidade é tentar agrupar os emergentes num suposto ´bloco´ que se estaria contrapondo aos países desenvolvidos. Ocorre que eles formam um grupo extremamente heterogêneo de países, muito menos unidos do que Europa e EUA foram nos últimos 150 anos.

O agrupamento do mundo ´emergente´ serve apenas como uma referência conceitual da completa redefinição da divisão internacional do trabalho, do comércio, dos investimentos, do poder de compra dos consumidores, do uso de recursos naturais e da inovação que está em andamento. Este grupo de países está ´redesenhando´ todos os mapas mundiais – econômicos, políticos, sociais, tecnológicos etc. A regra, porém, é cada um por si.

É obvio que a trajetória futura dos emergentes não será um mar de rosas rumo ao nirvana da prosperidade. Há graves problemas a serem solucionados por estes países, como a crescente disparidade entre as rendas urbana e rural, as imensas desigualdades regionais que se estão formando internamente, já gerando protestos e forte pressão migratória, principalmente na China e na Índia.

Há também riscos de crises bancárias, de aumento do protecionismo mundial e de agravamento dos problemas de infra-estrutura e ambientais. Os EUA possuem hoje 150 milhões de carros, 50 para cada 100 habitantes. Em 2040, China e Índia terão 750 milhões de carros (26 carros para cada 100 habitantes, comparados com apenas 2 atualmente). Imagine-se o gasto potencial de combustíveis e os congestionamentos!

Na semana passada, participei de uma conferência do Centro para a Inovação na Governança Internacional no Canadá, na qual se discutiu a emergência dos BRICSAM e a necessidade de reformar as instituições multilaterais (ONU, FMI, Banco Mundial, OMC). BRICSAM é a sigla em inglês que se criou para representar o conjunto dos BRICs (Brasil, Rússia, Índia e China) mais África do Sul, países da Asean (principalmente Malásia, Tailândia, Indonésia e Filipinas) e México. A definição ampliada busca corrigir a insuficiência do conceito original dos BRICs, agregando outros emergentes que têm grandes populações e mostram altas taxas de crescimento.

No grupo ampliado, a liderança do crescimento fica nas mãos da China (8,6% ao ano na última década), seguida por Índia (6%), países da Asean (4%), Rússia (3%), México (2,7%) e, na rabeira, o Brasil, com míseros 2,4% ao ano de crescimento entre 1995 e 2004.

O professor Marcelo de Paiva Abreu, da PUC-Rio, apresentou uma ótima palestra sobre o papel do Brasil nos BRICs, tentando responder à indagação shakespeariana ´Brazil: to be or not to be a BRIC?´. Marcelo mostrou que, além do crescimento medíocre, o país se posiciona abaixo da média dos BRICs na sua capacidade de poupar e investir, na alta carga tributária, nos elevados gastos públicos e no custo da dívida interna.

O Brasil iguala a média dos BRICs na estabilidade inflacionária e em alguns indicadores sociais e supera a média dos parceiros em recursos naturais, PIB per capita, solidez democrática, relações pacíficas com países vizinhos e outros. Ele conclui afirmando que, se o Brasil não conseguir crescer mais, corre o risco de ser brevemente descartado da lista dos BRICs.

Nossa única solução para continuarmos integrando o seleto grupo das melhores economias emergentes é o aprofundamento das reformas domésticas (previdenciária, fiscal, trabalhista), a melhoria das instituições (principalmente nos campos político e jurídico), o crescimento da concorrência e da produtividade (evitando a falsa solução do protecionismo e do isolamento) e o investimento consistente em bens públicos (segurança, infra-estrutura, educação e saúde).

A dicotomia clássica entre países do Primeiro e do Terceiro Mundo ou países do Norte e do Sul já perdeu o sentido. Neste início de milênio o mundo se divide entre os que estão conseguindo acompanhar a velocidade da globalização com reformas internas profundas, macro e microeconômicas, e os que estão comendo poeira, contemplando passivamente o sucesso de seus ex-companheiros subdesenvolvidos.

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