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O profissionalismo na produção e comercialização de feno

Conforme discussão em artigos anteriores sobre qualidade de feno (O que avaliar para comprar um feno de boa qualidade, partes 1 e 2), as análises físicas são fundamentais para uma avaliação correta da qualidade de um feno, contudo, as análises químicas são tão importantes quanto, e se complementam para uma avaliação final correta. O aumento do número de laboratórios, de novas metodologias e de equipamentos mais rápidos para avaliação química, deverão tornar a análise bromatológica mais utilizada para avaliação dos fenos. O preço e a rapidez de execução desses serviços deverão também tornar-se mais aceitáveis que os apresentados atualmente.

Os valores dos parâmetros avaliados em uma análise bromatológica, que podem ser considerados adequados para um bom feno de gramínea são apresentados na Tabela 1, em porcentagem, para matéria seca, e em porcentagem desta para as demais variáveis:

Tabela 1 – Características químicas referenciais para avaliar qualitativamente um feno.

O envio de amostras para análise bromatológica, deverá fazer parte da rotina das transações de compra e venda de feno entre compradores preocupados com a qualidade do alimento e fornecedores idôneos de feno. Essas rotinas de amostragem deverão ser feitas com metodologia adequada e padronizada, para que essas amostras sejam significativas e homogêneas, visando informações precisas sobre a disponibilidade de alimento das diferentes qualidades. A importância da avaliação correta e criteriosa dos fenos comercializados, mesmo sem considerarmos sua relevância para a produção animal, destaca-se economicamente quando considerarmos apenas o volume produzido e o valor desse produto.

Estudo de Caso

Para exemplificar a discussão dos artigos anteriores, vamos apresentar na Tabela 2 alguns resultados de um acompanhamento efetuado conforme a recomendação acima, em uma propriedade que utiliza feno de coast-cross como alimento volumoso dos animais.

Gostaríamos primeiramente de salientar que a propriedade em questão levantou a questão da qualidade do feno ao perceber que o desempenho animal não estava condizente com o desempenho esperado e o volume de feno descartado estava bem acima do desejado. Questionado sobre análises químicas do produto adquirido, a resposta foi a mais comum possível: “Não fazemos qualquer controle de qualidade química, apenas fazemos algumas avaliações visuais”. Questionado sobre contrato de compra e venda que apresentasse parâmetros qualitativos, a resposta foi também negativa.

Recomendou-se, antes de qualquer análise mais profunda, que fossem realizadas análises periódicas do produto adquirido no Laboratório de Bromatologia do Instituto de Zootecnia, em Nova Odessa, SP. Os resultados da Tabela 2 representam um período aproximado de 120 dias de uso.

As duas variáveis mais fáceis de serem avaliadas são a PB (proteína bruta) e a fibra – FDN (fibra em detergente neutro). O que chama mais atenção é a grande variabilidade destes valores, principalmente proteína bruta, durante o período avaliado.

Tabela 2 – Resultados parciais do controle de qualidade de feno de uma propriedade agropecuária.


%MS = porcentagem de matéria seca; %PB = porcentagem de proteína bruta; %FDN = porcentagem de fibra em detergente neutro; %EE = porcentagem de extrato etéreo; %MM = porcentagem de matéria mineral; %CNF = porcentagem de carboidratos não fibrosos; %CHOT = porcentagem de carboidratos totais e %FDA = porcentagem de fibra em detergente ácido.

A espécie avaliada é a mesma, portanto pode-se questionar inicialmente a amostragem para envio ao laboratório. É fundamental que os fardos amostrados sejam representativos do lote avaliado, abrindo-se os mesmos para fazer a coleta de material. Cuidados devem ser tomados para evitar separação das folhas e hastes. A amostra deve ser colocada em sacos de papel e enviada ao laboratório no menor tempo possível, através de entrega pessoal ou correio. Todas as amostras devem ser identificadas corretamente com fornecedor, data de coleta, numeração dos lotes, espécie fenada, data de recebimento do produto, etc. Também deve-se anotar em livro apropriado dados referentes aos aspectos visuais / físicos, e qualquer outra informação sobre indício de problemas ou características particulares do lote avaliado. Podem ocorrer fraudes, como a pulverização de amônia, o que aumenta o teor de PB.

Se a amostragem foi adequadamente realizada, a qualidade dos lotes realmente diferiu, provavelmente pela diferença de idade das plantas colhidas e perdas durante as fases de secagem e armazenamento.

Do ponto de vista do produtor rural, que recebe o produto, essa variação dificulta o balanceamento correto das rações animais, provocando redução de desempenho animal ou aumento dos custos do arraçoamento. Para evitar esse problema, há a necessidade de um contrato de compra que inclua cláusulas de garantia de entrega de produtos com pequena variação qualitativa e dentro da faixa estipulada.

Se houvesse um contrato, e o mesmo exigisse um mínimo de 11% de PB, apenas 40% dos lotes avaliados seriam aceitos (qualidade ótima), e conseqüentemente, 60% seriam devolvidos por apresentarem qualidade ruim. Com relação ao FDN, os mesmos percentuais de descarte seriam aplicados, mas não nos mesmos lotes, se o limite de fibra fosse de 78%. Porém, alguns dos valores encontrados são incoerentes (amostras 4 e 6), uma vez que espera-se que valores elevados de proteína indiquem plantas colhidas mais precocemente (plantas mais novas), e vice-versa. Parece que a análise de carboidratos totais reflete melhor a qualidade do que o valor de FDN isolado, corrigindo as imperfeições citadas anteriormente.

Comentário BeefPoint: a qualificação dos técnicos e profissionais ligados a essa área é de fundamental importância, principalmente técnicos agropecuários, médicos veterinários, zootecnistas e engenheiros agrônomos. Esse treinamento visa à seleção dos melhores fenos a partir de compras criteriosas em função da qualidade do produto. Isso deverá ser fundamental para o estabelecimento e formalização desse mercado no país. È importante que se crie também o hábito de coletar e analisar o produto adquirido, além de exigir contratos de compra com cláusulas de qualidade mínima. O preço não pode ser o único parâmetro para aquisição de fenos, já que fenos mais baratos significam incremento nos custos com concentrados e maiores perdas por descarte e seleção efetuada pelo animal, além da menor digestibilidade. Acredita-se que só assim haverá estímulo para produtores especializados de feno garantirem uma lucratividade adequada para seu sistema de produção. Como consequüência, produtores de carne, leite ou eqüinos terão a garantia de continuidade da entrega de um produto de alta qualidade.

Fonte: Artigos Milkpoint e Beefpoint e Laboratório de Bromatologia do Instituto de Zootecnia da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo (PqC – Rosana Possenti).

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