Por Gérson Simão1
Promovido pela Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ), o Brazilian Cattle Genetics surgiu em virtude da constatação de que o zebu brasileiro, apesar de seu alto potencial de produção de carne e leite, é pouco conhecido no exterior.
O Brasil possui um dos menores custos de produção de proteína animal do mundo, sendo muitas vezes 50% menor do que dos principais países exportadores como os Estados Unidos.
Parte desta eficiência é advinda dos nossos imensos recursos naturais, clima favorável e enormes extensões de terras agricultáveis. Outra parte vem da riqueza genética que representa o zebu brasileiro.Originário da Índia, o zebu encontrou no Brasil as condições bioclimáticas ideais para o seu crescimento e desenvolvimento. Suas raças alcançaram atualmente uma performance produtiva e programas de melhoramento e seleção racial muito mais avançadas que no país de origem. Hoje, considera-se que do rebanho de 180 milhões de cabeças, aproximadamente 80% do rebanho nacional tenha em seu sangue os genes do zebu.
O zebu brasileiro é um animal altamente produtivo, mesmo em condições adversas de meio ambiente, sendo extremamente adaptado ao calor e capaz de produzir carne e leite a baixo custo, já que é criado exclusivamente a pasto. É ainda um animal rústico, bastante resistente aos endo e ectoparasitas existentes nas zonas tropicais. Conta ainda com uma ampla variedade de raças, possibilitando a utilização do zebu nos mais diversos sistemas de produção. Sua carne é de altíssima qualidade, com baixo teor de gordura e sabor incomparável, atendendo perfeitamente aos mais exigentes mercados e paladares.
Ao optar pelo zebu brasileiro, o criador adquire um produto de alto valor agregado, testado e comprovado como eficiente produtor de carne e leite, resultado dos processos de seleção e melhoramento genético implementado por seus criadores. Mesmo quando raças européias desejam se instalar nos trópicos ou regiões mais quentes, só conseguem faze-lo de maneira efetiva através dos cruzamentos com o zebu, caso contrário os custos com instalações e mudanças necessárias do ambiente tornam sua exploração inviável. No campo do melhoramento genético, o Brasil possui empresas de nível internacional, com laboratórios capacitados para a realização de exames e diagnósticos equiparados aos mais modernos do mundo. Conta ainda com modernas centrais de inseminação e transferência de embriões, FIV, abastecidas por criadores de animais de padrão genético superior e disponíveis em grande escala.
O que estará faltando para o zebu conquistar o mundo?
Admitir que nosso zebu no exterior é um ilustre desconhecido não basta. Apesar da exportação brasileira de sêmen e embriões e mesmo de animais vivos serem muito pequenas no mercado internacional, nossa genética pecuária pode ser uma opção bastante interessante para outros países produtores de carne e leite, principalmente os localizados nas zonas tropicais e sub tropicais.
É praticamente impossível desvincular os mercados de material genético, entenda-se sêmen, embriões e animais vivos para reprodução ou abate, dos seus produtos, no caso leite e carne.
Entretanto é preciso levar em conta que exportar vida, seja sêmen, animais ou embriões, é um processo muito mais complexo do que a princípio possa parecer. Quando se trata de organismos vivos, os fatores bioclimáticos de adaptação ao novo meio e fatores sanitários requerem uma logística de venda muito mais elaborada do que por exemplo um corte de carne congelada. A busca de alianças estratégicas é imprescindível, sob vários aspectos. Primeiramente, contar com o apoio das entidades responsáveis pelos protocolos sanitários e pelos processos de quarentena e todos os exames exigidos pela OIE para que um produto possa alcançar um outro país sem que haja o risco de propagação de doenças. É preciso estar qualificado e certificado para entrar nessa briga
A rastreabilidade da produção não é um simples código de barras na orelha do animal, mas sim uma ferramenta gerencial, pré-requisito se quisermos nos inserir no mercado, deixando de ser uma dúvida se iremos adotá-la, para uma certeza de que iremos conseguir implementar o sistema dentro dos prazos previstos.Barreiras tarifárias e não tarifárias, protocolos sanitários inatingíveis, proteção de mercados e subsídios aos produtores são apenas alguns dos subterfúgios praticados por alguns concorrentes, onde o aspecto diplomático e técnico serão decisivos. Mas estes problemas sempre existiram e quando desaparecerem outros novos certamente surgirão. Países como EUA, Austrália e Nova Zelândia vinham desfrutando da ausência de concorrentes de peso no mercado internacional, até bem pouco tempo, não ficarão parados ao perceberem a mobilização do setor brasileiro. Aliás, parados nunca estiveram, pois investem como nunca na promoção de suas raças e produtos nos principais mercados há bastante tempo. Se para entrar nesse mercado o Brasil terá que se preparar, estes países também terão que continuar investindo para garantir seu espaço.
É preciso, porém, um posicionamento bem claro da política para o setor e que seja também o pensamento e atitude da cadeia produtiva a busca da qualidade como diferencial do nosso produto no exterior. E qualidade no mais amplo sentido da palavra, tanto nos processos produtivos, da comercialização à remuneração do produtor, deverão ser encarados como prioridade pelos governos e iniciativa privada. Outro aspecto fundamental é a necessidade da modernização de nosso gerenciamento, logística de produção, transporte e distribuição.
As reformas estruturais, política e tributária também serão um passo importante à diminuição do custo-Brasil e seu impacto nefasto sobre a competitividade dos nossos produtos lá fora.
A busca de parcerias com os países-alvo, agregando valor à pecuária destes através do intercâmbio técnico-educacional e transferência de tecnologia é também uma questão se quisermos obter sucesso na internacionalização de nossa genética. É um desafio para o qual o Brasil está preparado, estando ciente de que será preciso o aperfeiçoamento técnico e comercial constante, além de investimentos em Marketing, Promoção de seus produtos no exterior e a dedicação de todos os setores produtivos da cadeia.
Sermos os maiores exportadores de bovinos e seus produtos pode tornar-se uma realidade a médio e longo prazo, e nunca dependeu tanto de nós mesmos.
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1Gerson Simão é zootecnista e consultor em agronégocios, gerente de relações internacionais da ABCZ e gerente executivo do Consórcio de Exportação Brazilian Cattle Genetics.Tem 31 anos, é pós-graduado em Gestão Empresarial pela FGV, possui curso de Administração de Empresas pelo Queensland Business Center, Austrália e trabalhou como gerente de logística da empresa Burnham Logistics, em Cambridge, Inglaterra.
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O problema do Brasil está no baixo poder de compra da população consequentemente o produtor trabalha mais apertado, impedindo que o mesmo possa investir captal em tecnologia.
Ainda há o problema cultural que impede a união da classe p/ que haja maior poder de barganha e reinvidicações.
Resultando assim em um atraso em toda cadeia produtiva do bovino no Brasil.
Parabéns Gerson. É exatamente isto, só depende de nos mesmos. Parabéns!!