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O uso de tecnologias promissoras como ferramentas de produção passa pela mudança do perfil do produtor

Um debate muito importante sobre inseminação artificial (IA) está acontecendo na lista eletrônica de discussão da SBMA (Sociedade Brasileira de Melhoramento Animal). Essa discussão começou após a seguinte colocação do Prof. Fernando Madalena:

“Há anos tenho para mim a hipótese de que a IA não cresce mais no Brasil porque não oferece melhoramento genético que aumente o lucro do produtor de maneira muito clara, de forma que ele se de ao trabalho de implementá-la. Eu sei que deve haver outros fatores, mas gostaria de conhecer as reações de vocês a esta afirmativa”.

Provavelmente essa intervenção do Prof. Madalena tenha surgido em razão do artigo “Inseminação Artificial vem impulsionando o crescimento da pecuária” do Eng. Agr. e Agropecuarista Donário Lopes de Almeida, ex-presidente da ASBIA, publicado na edição de Janeiro da Revista Gestão Pecuária e reproduzido na seção Espaço Aberto do BeefPoint. Entre os vários aspectos abordados nesse artigo, está o que aborda o pequeno uso dessa técnica no Brasil.

A colocação do Prof. Madalena despertou reflexões e intervenções dos membros da SBMA que certamente serão importantes para que essa técnica venha a ser reconhecida e usada mais intensamente como uma ferramenta nos sistemas mais eficientes de produção de gado de corte.

Os principais problemas para a adoção regular de tecnologias promissoras estão ligados ao entusiasmo inicial e, portanto falta de racionalidade, com que as mesmas são divulgadas e implementadas.

Normalmente novas tecnologias ou tecnologias que passaram por adaptações são divulgadas como solução quase definitiva dos problemas existentes. Esse fato aconteceu muitos anos atrás com a IA. Essa técnica foi divulgada e implementada de tal maneira que parecia a solução para todos os problemas ligados à eficiência reprodutiva e ao melhoramento dos rebanhos.

Como no caso de introdução de outras tecnologias cuja divulgação e implementação foram feitas de modo semelhante, como confinamento, manejo intensivo de pastagens, irrigação de pastagens, integração lavoura pecuária, cruzamento, etc, tem ocorrido um recuo na extensão da adoção após o entusiasmo inicial. A partir desse ponto, os que passam a usar regularmente a nova tecnologia são os que conseguiram introduzi-la como uma ferramenta nos seus sistemas de produção, tornando-os mais eficientes e lucrativos. A ampliação do uso vai ocorrer em função da competitividade, isto é, se aqueles que usam uma tecnologia não usada pela maioria passarem a auferir mais lucros, a tendência é de haver aumento de interesse do uso da mesma.

No uso de qualquer tecnologia, o gerenciamento tanto de aspectos técnicos quanto das condições nas quais ela está sendo implantada, são muito importantes para a avaliação da conveniência de seu uso dentro do sistema de produção.

Todas as tecnologias citadas acima, como é o caso da IA, ainda são usadas de maneira incipiente no Brasil. Os que fazem uso são os que estão mais preparados em termos técnicos e ou de gerenciamento, normalmente também aqueles que estão ficando mais competitivos. Portanto, o aumento do uso de tecnologias promissoras passará por uma mudança do perfil dos pecuaristas, o que sem dúvida está ocorrendo rapidamente para o bem da pecuária brasileira.

0 Comments

  1. Caio Junqueira disse:

    Caro Professor Celso Boin,

    Como sempre muito oportuna sua colocação.

    As novas tecnologias trazem um apelo somente quanto à melhoria da produtividade, posicionando-se como tábua de salvação do sistema produtivo, esquecendo da Lucratividade.

    Toda tecnologia nova, antes de ser adotada pelo produtor, deve passar por uma análise econômico-financeira,com avaliação da rentabilidade, ou seja, retorno do capital investivo, da lucratividade, quanto ao lucro obtido e do custo de oprtunidade do capital investido na nova tecnologia.

    Certamente, uma mudança do perfil dos pecuaristas, com quebra de paradigmas e visualização do seu negócio como uma opção de investimento, vem ocorrendo rapidamente, como podemos observar nas cartas de leitores e no Fórum do BeefPoint.

  2. Dartangnan Aquino disse:

    A imagem da bovinocultura no Brasil esta vinculada a ocupação dos grandes espaços pastoris e até então sem necessidade de gestão mais apurada.

    Se o produtor não buscar a ferramenta da gestão eficiente não estará preparado para desfrutar do grande “boom” de mercado que deverá acontecer a partir de 2005.

    Embora o produtor seja consciente das tecnologias disponíveis tem grande dificuldade de implementá-las por possuir barreiras culturais que desacreditão as técnicas de gestão.

    Se não mudar, será substituido por empresas que visualizam o futuro promissor da atividade e estão comprando grandes áreas. A pecuária exige alta eficiência de gestão e tecnológica por ser uma atividade com grande número de variáveis para determinar seu sucesso.

    O SENAR-RS, em parceria com os Sindicatos, esta disponibilizando aos produtores gaúchos treinamento de gestão rural focado na superação desta dificuldade.