O Brasil tem 554 milhões de hectares de vegetação nativa, o que representa quase 65% da área do país. Desse total, 107 milhões são Unidades de Conservação, aproximadamente 104 milhões são terras indígenas regularizadas, 274 milhões são áreas de vegetação existentes nas fazendas – Áreas de Preservação Permanente (APPs), áreas de Reserva Legal e outros remanescentes – e 69,5 milhões representam outras áreas de vegetação nativa.
Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) mostram que entre 2004 e 2012 o desmatamento na Amazônia Legal caiu 83%, ficando em 4.656 km2. Considerando que a redução do desmatamento é a base das metas voluntárias assumidas pelo Brasil perante a Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças do Clima, é plausível dizer que as metas serão cumpridas antes do prazo, que é 2020.
A meta também compreende a redução do desmatamento no Cerrado, a adoção de práticas de baixo carbono na agricultura, o aumento da área de florestas plantadas e do uso de carvão vegetal renovável, a expansão do uso de etanol e biodiesel, dentre outras ações que compõem a Política Nacional sobre Mudança do Clima.
Entre 2013 e 2015 as negociações da Convenção do Clima serão voltadas para a criação de um novo acordo, nos moldes do Protocolo de Kyoto, que obrigue ao menos os principais países emissores a adotar metas de redução de emissões. Assumindo que o Brasil é um potencial candidato a ter metas, é essencial ponderar se o imenso estoque florestal brasileiro poderá ter algum valor em um futuro acordo.
Os benefícios da redução do desmatamento são inegáveis. O valor das florestas, não só em termos de emissões evitadas de gases de efeito estufa, mas traduzidos na forma da conservação dos recursos da biodiversidade, solo, água e clima, são cada vez mais valorizados em todo o mundo, pois beneficiam toda a sociedade.
Projetos de Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação, conhecidos pela sigla “Redd plus”, começam a ser implementados nos países ricos em florestas, mas ainda em uma escala muito pequena. Estima-se que no Brasil US$ 231 milhões foram doados para fomentar projetos dessa natureza.
Como as florestas são reservatórios de carbono, mantê-las em pé é um dos mantras das políticas de mudanças do clima e das negociações da Convenção. No entanto, a lógica de projetos Redd plus é a doação de recursos para que as florestas sejam preservadas, preferencialmente em grandes áreas públicas ou terras indígenas.
Como até 2020 as metas brasileiras são voluntárias, não parece factível imaginar que a redução do desmatamento e, consequentemente, a manutenção do carbono nas florestas e no solo terão algum valor no futuro. Além disso, carbono florestal é um tema delicado quando se trata de cumprir metas de redução de emissões.
Isso exige que o Brasil aprove uma lei que incentive, de forma concreta, projetos Redd plus abrangendo não só terras indígenas e Unidades de Conservação, mas também áreas privadas. Para que as florestas brasileiras passem a ter valor, o que vai muito além de projetos de manejo florestal e coleta de frutos e outros recursos naturais, o governo precisa criar programas de pagamentos por serviços ambientais que premiem quem conserva e recompõe a vegetação nativa.
Esperar que o imenso estoque de carbono florestal se transforme em recursos no futuro é uma estratégia arriscada e fadada ao fracasso. Os benefícios sociais gerados pelas florestas exigem remodelar o enfoque das políticas brasileiras, a fim de transformar as florestas e seus recursos em bens que na prática tenham valor concreto.
– Rodrigo Lima, advogado, é gerente-geral do Instituto de Estudos do Comércio e Negociações Internacionais (Icone).
2 Comments
Deveríamos dar valor a nossas florestas, se considerar o valor da produção em uma das atividades de menor remuneração como a pecuária a uma produtividade de 5@ por ha esta área de reserva daria de resultado ,( 554.000.000ha x 5@ x R$80,00)=R$221.600.000.000,00 ano sem contar o valor da madeira que se avaliarmos em metros cubicos de lenha para energia valeria aproximadamente, considerando 30m³ por ha ano no valor de R$30,00 por m³ seria (30×554.000.000 x R$30,00)=R$498.600.000.000,00 num total de R$720.200.000.000,00 ano, se considerarmos que em economia R$1,00 gera R$7,00 então o valor desse patrimônio é tão grande que para compensar cada habitante do planeta teria que nos pagar R$720,00 por ano como compensação pelo não uso de nossa riqueza e pelos benefícios que ela traz, não sou economista mas tenho noção do valor desta riqueza e acho que todo brasileiro deveria mostrar e cobrar do mundo a compensação destes benefícios.
Na constituição de ecossistemas rurais mais avançados do mundo, aqui os que tratam do meio ambiente ignoram o ganho da pesquisa agropecuária brasileira nas ultimas décadas. Lamentavelmente, teses ambientais contundentes desestimulam a continuidade do enfoque sistêmico da pesquisa rural do país. Não levam em conta, por exemplo, a evolução dos seres vivos, ao exigir a preservação da biodiversidade original em cada propriedade, ao invés de atribuir esta tarefa aos Parques Nacionais estabelecidos nos diferentes domínios ecológicos brasileiros. Desconhecer a existência da seleção natural como regra, excluindo também a produção rural em escala como sina, não é cientificamente aceito.