Apesar da suspensão das compras de carne bovina in natura pela União Européia (UE) preocupar todo o setor, os reflexos ainda não atingiram os preços pagos ao produtor. A demanda de carne, interna e externa, está crescendo, e a oferta de animais continua restrita. Os preços devem continuar assim até que oferta aumente, as escalas se alonguem e a "safra" realmente comece.
Apesar da suspensão das compras de carne bovina in natura pela União Européia (UE) preocupar todo o setor, os reflexos ainda não atingiram os preços pagos ao produtor. A demanda de carne, interna e externa, está crescendo, e a oferta de animais continua restrita. Os preços devem continuar assim até que oferta aumente, as escalas se alonguem e a “safra” realmente comece.
Os preços da carne vendida no varejo de São Paulo, apresentaram recuo na semana passada. Mesmo sabendo que a decisão da UE deve aumentar o volume de carne no mercado, principalmente cortes de maior valor agregado. Tudo vai depender do volume de carne, que era exportado para Europa, que conseguirá ser redirecionado para outros países e quanto dessa carne será colocada no mercado interno e se esse volume será maior que a demanda atual, pressionando negativamente os preços. Segundo dados da Pesquisa da Cesta Básica, do Procon-SP, no dia 14 de fevereiro a carne bovina de 1ª foi cotada a R$ 9,61/kg, recuo de 2,63% em relação à semana anterior. Em relação ao começo do ano a queda foi de 6,61%.
Gráfico 1. Preços da carne bovina de 1ª no varejo paulista
Tabela 1. Cotações do atacado da carne bovina
Tabela 2. Principais indicadores, Esalq/BM&F, relação de troca, câmbio
Gráfico 3. Indicador Esalq/BM&F boi gordo x relação de troca (boi gordo de 16,5@ por bezerros)
A reposição continua valorizada, esse longo período de altas se deve à pouca oferta desse tipo de animal em todo o Brasil. Enquanto a oferta continuar restrita, não deve existir espaço para grandes recuos no preço do bezerro, mas sim mais valorizações no curto e médio prazo. Leia mais no artigo, Reposição: pouca oferta causa valorização em todo país.
No mercado físico do boi gordo, alguns compradores informam que as ofertas começam a melhorar. Mas o que se vê são frigoríficos trabalhando com escalas curtas e comprando um maior volume de fêmeas para completar suas linhas de abate. Em média, as escalas se encontram em 4 dias.
No MS, informantes do BeefPoint reportam que os frigoríficos pagaram um pouco mais e conseguiram alongar as escalas, que estão em 6 dias, mas a oferta ainda é curta e muitos pecuaristas preferem segurar seus animais no pasto. Em SP, as compras seguem devagar, a maioria das indústrias do estado tem se abastecido com animais do MS, MT, MG e GO.
Com pouca oferta de machos prontos para o abate, os frigoríficos recorrem às fêmeas para evitar a ociosidade das plantas sem provocar novas altas no preço do boi gordo. Pedro Luiz Araujo Filho, leitor do BeefPoint de Cuiabá/MT, comenta que frigoríficos da região já negociaram lotes de fêmeas a R$ 60,00/@.
Os dados preliminares do SIF (Serviço de Inspeção Federal), continuam indicando redução no abate de bovinos. Em janeiro de 2008 foram abatidos nos frigoríficos com inspeção federal, 1.664.795 bovinos, valor 9,62% inferior aos 1.842.026 de abates registrados em dezembro, e 26,62% menor em relação aos abates de janeiro de 07.
Gráfico 4. Número de cabeças abatidas em estabelecimentos com SIF
Com a UE alegando que só irá liberar o comércio de carne com o Brasil após ter garantias de que o produto é seguro, o ministro, Reinhold Stephanes, declarou que acredita que as negociações podem demorar. Segundo ele, além da lista inicial, o governo terá que discutir como será o processo de agregação de novas propriedades a ela e lembrou que os europeus não questionam a sanidade, mas a rastreabilidade do rebanho brasileiro.
No centro das discussões sobre os problemas da rastreabilidade brasileira, o ministro da Agricultura, não isentou o governo federal da responsabilidade, mas disse que pecuaristas, exportadores e certificadoras também são responsáveis pelo bom funcionamento do Serviço Brasileiro de Rastreabilidade da Cadeia Produtiva de Bovinos e Bubalinos (Sisbov). “A cadeia produtiva também precisa fazer sua parte”, resumiu.
Enquanto o setor espera a missão européia que concluirá se o embargo deve permanecer ou não, frigoríficos e suas associações buscam novos mercados para a carne bovina brasileira. A fim de tentar ampliar os negócios com o Oriente Médio, superando a marca de US$ 422 milhões de vendas de carne in natura em 2007, o presidente da Associação Brasileira da Indústria Exportadora de Carne (Abiec), Marcus Vinícius Pratini de Moraes, viaja hoje para a região. Depois do Oriente Médio, ele pretende trabalhar o mercado chinês, aproveitando os eventos em torno das Olimpíadas de Pequim, além de Marrocos e Indonésia.
Outros setores da pecuária brasileira reclamam que já estão sofrendo consequências do embargo à carne bovina. Enquanto o impasse da carne bovina não for resolvido, a União Européia (UE) não pretende avaliar a suinocultura catarinense. Segundo o pecuarista e presidente da Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Carne Suína (Abipecs), Pedro Camargo Neto. “A principal questão hoje é de credibilidade. O Brasil precisa reconstruir sua credibilidade”, disse.
“Estive duas vezes em Bruxelas em 2007 e só escutei isso: precisávamos colocar ordem no Sisbov. O pleito do setor de suínos de ser avaliado como possível exportador para a União Européia está paralisado como resultado dessa pendência”, emendou.