Mercados Futuros – 21/02/08
21 de fevereiro de 2008
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25 de fevereiro de 2008

Oferta curta mantém preços firmes e reflexos do embargo ainda não são sentidos pelos produtores

Apesar da suspensão das compras de carne bovina in natura pela União Européia (UE) preocupar todo o setor, os reflexos ainda não atingiram os preços pagos ao produtor. A demanda de carne, interna e externa, está crescendo, e a oferta de animais continua restrita. Os preços devem continuar assim até que oferta aumente, as escalas se alonguem e a "safra" realmente comece.

Apesar da suspensão das compras de carne bovina in natura pela União Européia (UE) preocupar todo o setor, os reflexos ainda não atingiram os preços pagos ao produtor. A demanda de carne, interna e externa, está crescendo, e a oferta de animais continua restrita. Os preços devem continuar assim até que oferta aumente, as escalas se alonguem e a “safra” realmente comece.

Os preços da carne vendida no varejo de São Paulo, apresentaram recuo na semana passada. Mesmo sabendo que a decisão da UE deve aumentar o volume de carne no mercado, principalmente cortes de maior valor agregado. Tudo vai depender do volume de carne, que era exportado para Europa, que conseguirá ser redirecionado para outros países e quanto dessa carne será colocada no mercado interno e se esse volume será maior que a demanda atual, pressionando negativamente os preços. Segundo dados da Pesquisa da Cesta Básica, do Procon-SP, no dia 14 de fevereiro a carne bovina de 1ª foi cotada a R$ 9,61/kg, recuo de 2,63% em relação à semana anterior. Em relação ao começo do ano a queda foi de 6,61%.

Gráfico 1. Preços da carne bovina de 1ª no varejo paulista


No atacado da carne bovina, os preços permaneceram praticamente estáveis durante esta semana, com o traseiro valendo R$ 5,40, o dianteiro R$ 3,80 e a ponta de agulha R$ 3,00. O equivalente físico foi calculado em R$ 66,96/@, alta de 0,88% na semana. Como a valorização do equivalente foi maior do que a do indicador, o spread (diferença) entre indicador e equivalente recuou de R$ 8,41/@ na quarta-feira passada, para R$ 8,27/@. Apesar do recuo está diferença continua alta, já que a média dos últimos 12 meses é de R$ 6,14/@. Quanto maior for o spread menor será a margem bruta do frigorífico.

Tabela 1. Cotações do atacado da carne bovina


Gráfico 2. Indicador Esalq/BM&F boi gordo x equivalente físico


O indicador Esalq/BM&F boi gordo à vista acumulou alta de 0,60% (R$ 0,45) na semana. O indicador à prazo apresentou variação positiva de R$ 0,43, sendo cotado nesta quarta-feira a R$ 75,97/@. Em relação ao mesmo período do ano passado, a valorização é de 35,59% (em 20/02/07 o preço da arroba a prazo foi cotado a R$ 56,03).

Tabela 2. Principais indicadores, Esalq/BM&F, relação de troca, câmbio


Com o indicador de bezerro se valorizando 0,44%, nesta quarta-feira o bezerro no MS valia R$ 505,26/cabeça, segundo cotação do Cepea. A relação de troca subiu para 1:2,46. Este valor da relação de troca (boi gordo de 16,5@ por bezerros) mostra que apesar dos preços altos a reposição ainda é interessante nesse momento.

Gráfico 3. Indicador Esalq/BM&F boi gordo x relação de troca (boi gordo de 16,5@ por bezerros)


Outro indicativo de que a reposição ainda está interessante é a margem bruta na reposição, que mostra quanto de dinheiro sobra ao pecuarista depois de vender um boi gordo e comprar um bezerro para repor o rebanho. A margem bruta na reposição está em R$ 736,04, valor superior à média dos últimos 12 meses, que é de R$ 601,05.

A reposição continua valorizada, esse longo período de altas se deve à pouca oferta desse tipo de animal em todo o Brasil. Enquanto a oferta continuar restrita, não deve existir espaço para grandes recuos no preço do bezerro, mas sim mais valorizações no curto e médio prazo. Leia mais no artigo, Reposição: pouca oferta causa valorização em todo país.

No mercado físico do boi gordo, alguns compradores informam que as ofertas começam a melhorar. Mas o que se vê são frigoríficos trabalhando com escalas curtas e comprando um maior volume de fêmeas para completar suas linhas de abate. Em média, as escalas se encontram em 4 dias.

No MS, informantes do BeefPoint reportam que os frigoríficos pagaram um pouco mais e conseguiram alongar as escalas, que estão em 6 dias, mas a oferta ainda é curta e muitos pecuaristas preferem segurar seus animais no pasto. Em SP, as compras seguem devagar, a maioria das indústrias do estado tem se abastecido com animais do MS, MT, MG e GO.

Com pouca oferta de machos prontos para o abate, os frigoríficos recorrem às fêmeas para evitar a ociosidade das plantas sem provocar novas altas no preço do boi gordo. Pedro Luiz Araujo Filho, leitor do BeefPoint de Cuiabá/MT, comenta que frigoríficos da região já negociaram lotes de fêmeas a R$ 60,00/@.

Os dados preliminares do SIF (Serviço de Inspeção Federal), continuam indicando redução no abate de bovinos. Em janeiro de 2008 foram abatidos nos frigoríficos com inspeção federal, 1.664.795 bovinos, valor 9,62% inferior aos 1.842.026 de abates registrados em dezembro, e 26,62% menor em relação aos abates de janeiro de 07.

Gráfico 4. Número de cabeças abatidas em estabelecimentos com SIF


No último dia 14, mais uma lista com propriedades brasileiras aptas a exportar carne foi rejeitada pela União Européia (UE), em Bruxelas. Durante a reunião foi discutido como será a missão dos veterinários europeus que virá ao Brasil, com chegada prevista para dia 25 de fevereiro. Os europeus pretendem visitar de 30 fazendas indicadas, com base nessa visita, os veterinários vão sugerir se o embargo deve ser mantido ou não.

Com a UE alegando que só irá liberar o comércio de carne com o Brasil após ter garantias de que o produto é seguro, o ministro, Reinhold Stephanes, declarou que acredita que as negociações podem demorar. Segundo ele, além da lista inicial, o governo terá que discutir como será o processo de agregação de novas propriedades a ela e lembrou que os europeus não questionam a sanidade, mas a rastreabilidade do rebanho brasileiro.

No centro das discussões sobre os problemas da rastreabilidade brasileira, o ministro da Agricultura, não isentou o governo federal da responsabilidade, mas disse que pecuaristas, exportadores e certificadoras também são responsáveis pelo bom funcionamento do Serviço Brasileiro de Rastreabilidade da Cadeia Produtiva de Bovinos e Bubalinos (Sisbov). “A cadeia produtiva também precisa fazer sua parte”, resumiu.

Enquanto o setor espera a missão européia que concluirá se o embargo deve permanecer ou não, frigoríficos e suas associações buscam novos mercados para a carne bovina brasileira. A fim de tentar ampliar os negócios com o Oriente Médio, superando a marca de US$ 422 milhões de vendas de carne in natura em 2007, o presidente da Associação Brasileira da Indústria Exportadora de Carne (Abiec), Marcus Vinícius Pratini de Moraes, viaja hoje para a região. Depois do Oriente Médio, ele pretende trabalhar o mercado chinês, aproveitando os eventos em torno das Olimpíadas de Pequim, além de Marrocos e Indonésia.

Outros setores da pecuária brasileira reclamam que já estão sofrendo consequências do embargo à carne bovina. Enquanto o impasse da carne bovina não for resolvido, a União Européia (UE) não pretende avaliar a suinocultura catarinense. Segundo o pecuarista e presidente da Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Carne Suína (Abipecs), Pedro Camargo Neto. “A principal questão hoje é de credibilidade. O Brasil precisa reconstruir sua credibilidade”, disse.

“Estive duas vezes em Bruxelas em 2007 e só escutei isso: precisávamos colocar ordem no Sisbov. O pleito do setor de suínos de ser avaliado como possível exportador para a União Européia está paralisado como resultado dessa pendência”, emendou.

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