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Oferta dá sinais de aumento, mas preços seguem firmes e boi gordo tem nova semana de alta

O mercado do boi gordo fecha mais uma semana em alta e apesar de indícios de aumento na oferta de boi gordo aos frigoríficos, as escalas seguem curtas e não há espaço para pressões baixistas. Nesta quinta-feira o indicador à vista, foi cotado a R$ 77,43/@, alta de R$ 0,18 na semana. O indicador a prazo, acumulou valorização de R$ 0,08, sendo cotado a R$ 78,20/@.

Nesta semana a União Européia (UE) divulgou o relatório final a respeito da missão técnica que veio ao Brasil em novembro passado. Nesta quinta-feira, os principais jornais brasileiros noticiaram que o relatório da Direção-Geral de Saúde e Proteção do Consumidor da Comissão Européia identificou problemas no sistema de rastreabilidade brasileiro e aponta falhas nos controles oficiais do movimento de gado e na conduta das certificadoras. Apesar disso, os europeus reconhecem “melhorias” no combate à febre aftosa, campanhas de vacinação e controle de divisas estaduais e fronteiras internacionais.

Na avaliação do secretário de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura, Inácio Kroetz, que ainda não viu a versão final do documento, pelo texto preliminar submetido ao ministério, a situação já havia melhorado. Diplomatas brasileiros alegam que as informações que estão sendo publicadas são “velhas” e foram registrados avanços desde então.

A UE preferiu não comentar o resultado do relatório até que ele seja divulgado oficialmente. Mesmo assim, Bruxelas deixou claro que um novo documento começará a ser produzido pelos inspetores com base na viagem realizada em março.

Enquanto isso, o mercado do boi gordo fecha mais uma semana em alta e apesar de indícios de aumento na oferta de boi gordo, as escalas seguem curtas e não há espaço para pressões baixistas.

Na segunda-feira, o Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP, anunciou que o indicador Esalq/BM&F boi gordo à vista alcançou um novo recorde, sendo cotado a R$ 77,30/@. Este é o maior preço nominal registrado desde o início do levantamento da arroba, em março de 1994. Se considerada a inflação do período (valores deflacionados pelo IGP-DI), o indicador do boi é o maior desde dezembro de 2003, quando o preço médio da arroba foi de R$ 77,46 (nominalmente, o valor era de R$ 60,10/@). De lá pra cá, as valorizações foram diárias e nesta quinta-feira o indicador foi cotado a R$ 77,43, alta de R$ 0,18 na semana. O indicador a prazo, acumulou valorização de R$ 0,08, sendo cotado a R$ 78,20.

Tabela 1. Principais indicadores, Esalq/BM&F, relação de troca, câmbio


O valor da arroba do boi gordo em dólares também subiu, acumulando variação de 2,80% na semana. Além da valorização de 0,23% do indicador, o recuo da moeda americana (2,49%), que foi cotada a R$ 1,681, também colaborou para esta valorização.

Gráfico1. Indicador Esalq/BM&F boi gordo à vista em R$ e em US$


A BM&F fechou em alta nesta quinta-feira. Os contratos para maio fecharam a R$ 76,49/@, com variação positiva de R$ 0,94, na semana. Os contratos com vencimento em outubro fecharam a R$ 83,23/@, alta de R$ 0,36, em relação ao dia 03 de abril. Os contratos que vencem em dezembro foram os que apresentaram a maior variação da semana, R$ 2,00.


No mercado físico, frigoríficos que trabalhavam com grande capacidade ociosa tem aumentado o número de animais abatidos diariamente e reportam que a oferta começa a dar sinal de aumento. Apesar disso, as negociações se desenvolvem com lentidão, as escalas não evoluem substancialmente e ainda existem muitas plantas trabalhando em dias alternados e com dificuldade para comprar.

No momento, os preços continuam firmes e o pecuarista segue negociando na tentativa de melhor remuneração. Agentes do mercado comentam que em muitas regiões as chuvas começam a diminuir e a proximidade da campanha de vacinação deve incentivar um volume maior de vendas, quem estava segurando o boi gordo no pasto já começar a pensar em vender. Resta saber qual será o aumento dessa oferta e se ela será capaz de provocar recuos significativos nos preços. Em São Paulo as escalas giram em torno de uma semana e a maioria dos animais abatidos no estado vem do Mato Grosso do Sul.

Desde 25 de março, o BeefPoint está realizando uma enquete para saber, a opinião dos leitores sobre: Qual será o valor da arroba do boi gordo em maio de 2008?. Até o momento já tivemos 536 participações dos usuários, de acordo com os dados parciais, a maioria dos leitores acha que em maio as cotações serão maiores do que as atuais, 272 participantes, 50,75% dos que opinaram, acreditam que em maio deste ano arroba do boi gordo será negociada a valores acima do R$ 77,00. Confira a opinião dos participantes.

O mercado de reposição segue bastante aquecido e a cada dia os bezerros são negociados a preços mais altos, o que tem feito a relação de troca recuar. A pouca oferta de animais de todas as categorias tem garantido a firmeza dos preços e quem necessita repor, precisa buscar animais cada vez mais longe. Parceiros do BeefPoint, que atuam no mercado rondoniense reportam que é muito grande o número de compradores de MT e SP adquirindo animais no estado.

O indicador Esalq/BM&F bezerro MS à vista foi cotado a R$ 543,66/cabeça, alta de 2,50% (R$ 13,26), na semana. Em relação ao mesmo período do ano passado o bezerro teve valorização de 34,16%. Com o bezerro tendo maior valorização do que o boi gordo, a relação de troca recuou para 1:2,35.

O leitor do BeefPoint, André Luis Zanini Sverzut, de Barra do Graças/MT, comenta que na região o bezerro desmamado é negociado a R$ 550,00, mas já acontecem negócios em patamares mais altos, “neste final de semana foi realizado um leilão do João Andrade e o gado de reposição teve preço muito elevado chegando até a R$ 650,00 o bezerro nelore de boa qualidade (180 a 200 kg)”. Sverzut ressalta que todas as categorias estão sendo bastante procuradas e os preços são elevados.

No atacado da carne bovina, os preços seguem relativamente estáveis, com um leve aumento na oferta, mas não tem gerado excedentes. Agentes do mercado apontam um mercado equilibrado, com maior procura por dianteiros e reportam uma leve sobra de traseiros, em função da restrição nos envios para a UE, mercado que tradicionalmente compra este tipo de corte em maior volume.

Tabela 2. Cotações do atacado de carne bovina


O equivalente físico apresentou valorização de 0,27%, na semana, sendo calculado em R$ 71,19/@. O traseiro foi cotado a R$ 5,50, o dianteiro a R$ 4,20 e a ponta de agulha a R$ 3,60. O spread (diferença) entre indicador de boi gordo e equivalente físico ficou em R$ 6,24/@, apresentando recuo na semana. Este valor é menor que a média dos últimos 12 meses, que é de R$ 6,5/@.

Além do consumo interno estar aquecido, a demanda mundial por alimentos também tem aumentado, gerando boas expectativas para a agropecuária brasileira. Segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), as exportações do agronegócio brasileiro registraram novos recordes. Em março, as exportações totalizaram US$ 4,776 bilhões, superando em 6,4% o valor do mesmo mês de 2007, e o superávit chegou a US$ 3,939 bilhões. Outra marca histórica alcançada foram os US$ 60,5 bilhões das exportações entre abril de 2007 e março de 2008. No acumulado de 2008 as exportações tiveram um aumento de 17,8% em relação ao primeiro trimestre de 2007, somando US$ 13,9 bilhões. A alta de preços das carnes garantiu o desempenho positivo do produto.

A Rússia já divulgou a lista dos estabelecimentos brasileiros que serão liberados para exportação. Esta liberação pode aumentar ainda mais a demanda pelo produto brasileiro, já que nesta época do ano o consumo do mercado russo é crescente. Agentes que atuam na exportação de carnes acreditam que esta decisão deve influenciar os preços do mercado, já que os frigoríficos habilitados deverão dar prioridade aos russos, remanejando as vendas e diminuindo a oferta no mercado interno.

No final da semana passada, uma circular do Mapa causou agitação no mercado. A circular alertava os fiscais do órgão a tomarem cuidado com carregamentos de carne bovina in natura destinados a UE. O texto dizia: “Entendeu-se, após as visitas da UE a algumas propriedades rurais, que aquelas liberadas, em nº de 95, poderiam encaminhar animais para o abate e exportação de suas carnes, sem restrições. Não parece, no entanto, o entendimento das autoridades sanitárias européias, que alegam não terem ainda liberado, totalmente, as fazendas em condições de fornecer matéria-prima. Assim sugiro que se tenha precaução no abate de animais dessas fazendas, com vistas a exportação de carnes para a UE, até que se disponha de um posicionamento, formal e definitivo, daquelas autoridades sanitárias”.

Na segunda-feira, o secretário de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Inácio Kroetz, confirmou a validade da lista de 95 Estabelecimentos Rurais Aprovados no Sisbov (Eras), habilitados a exportar carne bovina in natura para a União Européia (UE). “É importante desfazer qualquer dúvida. A lista segue valendo”, afirmou.

Na Argentina, após o término do duro protesto agropecuário que deixou sem alimentos milhões de cidadãos, o mercado de Liniers recebeu no sábado quase 9 mil cabeças, em um dia incomum de negócios que busca normalizar a oferta local de carne. A decisão de comercializar bovinos neste fim de semana se somou a outros esforços visando compensar as faltas que provocaram os 21 dias de protesto e bloqueios de rodovias que terminaram se convertendo na maior crise política do país nos últimos cinco anos.

Apesar da trégua dos agropecuaristas argentinos terminar no dia 2 de maio, o governo ainda não iniciou nenhuma negociação, o plano de Cristina Kirchner é preparar uma ofensiva contra os produtores rurais, entre outras ações a intenção é pressionar o setor com uma operação pente-fino. Enquanto isso, os produtores esperam ser chamados para iniciar as negociações. Eles continuam mobilizados em todo o país, com permanentes assembléias, preparados para retomar os protestos que se transformaram na pior crise entre o setor e o governo.

Em tensas reuniões na semana passada, funcionários do governo chileno chegaram a exigir uma “retomada imediata” das compras de frutas, pelo Brasil, com o argumento que o mundo todo compra os produtos chilenos, inclusive mercados exigentes como EUA e Ásia. Uma das propostas seria reabrir o mercado do Chile para suínos e aves do Brasil em troca da retomada das importações de frutas. Mas o Ministério da Agricultura tem dado prioridade à reabertura do mercado chileno para a carne bovina in natura.

0 Comments

  1. Marcos Francisco Peres disse:

    O preço da arroba vai continuar subindo por todos os fatores citados no artigo, além do simples fato de que se abaixar, não compensa vender o boi gordo devido ao alto preço do gado de reposição.

  2. Elizeu Marcondes do Vale disse:

    Concordo com o nosso colega Marcos Peres, não é questão de especulação, sim de custo de produção.
    Outra coisa, sabemos que a UE é o “melhor” comprador de nossa carne, mas analisando esses recordes de vendas e a crescente demanda de carne pela Rússia, será que a UE merece toda essa preocupação que o Brasil dá a ela?

    Concordo que as melhorias no setor devem ser crescentes, mas onde estão tantas falhas que eles encontram na produção pecuária brasileira? Eles que são os especuladores, devemos valorizar nossos produtos e produtores.

    Eu faço compras nos lugares que mais me agradam e me oferecem bons produtos, não vou até a venda da esquina e fico fazendo chantagens ameaçadoras.

  3. Claudio Alberto Zenha Carvalho disse:

    Se não fôr possível trocar um boi gordo por pelo menos 2.5 bezerros, inviabiliza a atividade de recria/engorda. Até que a produção e oferta de reposição do boi não se estabilize, o preço da arroba vai subir. É a velha e boa lei da oferta e da procura que navega soberana apesar de políticas demagógicas e eleitoreiras dos políticos, e cartéis de frigoríficos inescrupulosos.

  4. jose enock castroviejo vilela disse:

    Sou criador de bezerro, e devido ao alto custo para se criar, se houver reduçao no preço do bezerro, reterei os mesmos e reduzirei minhas matrizes, somente com decisões e planejamento é que conseguiremos sobreviver. Devemos ter posionamento, pois, não conheço nenhuma entidade que defenda nossa classe. Apenas, defendem os invernistas e frigorificos.

  5. Vinícius Oliveira Machado disse:

    Boa reportagem. Está na hora do pecuarista se preocupar com o mercado e tentar rever em questão economica o seu trabalho perdido no anos anteriores.

    Obrigado.

  6. Ernani Quadros Costa disse:

    Finalmente estamos vicenciando um período de “vacas gordas” na pecuária nacional. Aguardamos pacientemente, por um longo período, sem nunca perdermos a esperança de que dias melhores viríam. Estou muito otimista e acredito que chegou o momento de recuperamos do tempo perdido.

    Um abraço a todos.