Com nove frigoríficos de bovinos fechados desde o ano passado, o Estado de Mato Grosso só deve apresentar recuperação consistente da oferta de boi gordo a partir de 2017 ou até mesmo 2018, avalia o superintendente do Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea), Otávio Celidonio. Com 15% dos abates, Mato Grosso tem o maior rebanho e é o principal produtor de carne do Brasil.
Pelas estimativas do instituto, que é vinculado à Federação de Agricultura Pecuária de Mato Grosso (Famato), os abates de gado bovino produzido no Estado recuaram 16,1% no primeiro semestre, totalizando 2,2 milhões de cabeças. No atual ritmo, os abates em 2015 chegariam a 4,5 milhões de cabeças, queda de mais de 20% na comparação com os 5,5 de milhões animais abatidos em 2014, projeta.
Na avaliação do superintendente do Imea, a menor oferta de gado em Mato Grosso – e também no país – é um resultado natural do ciclo da pecuária. Ele explica que, entre os anos de 2012 e 2013, os preços do bezerro estavam mais baixos, desestimulando a criação e acelerando o descarte de vacas para o abate. Tanto que, há dois anos, os abates em Mato Grosso bateram o recorde de 6 milhões de cabeças.
Como consequência do ciclo de descarte de fêmeas, o momento seguinte, já a partir do ano passado, foi de forte alta dos preços do bezerro. No semana passada, o preço médio do bezerro estava em R$ 1,210 mil por cabeça, valorização de 23,9% sobre um ano atrás. Com isso, a retenção de vacas para a criação de bezerros é estimulada, movimento que acaba reduzindo a oferta de bovinos.
Segundo Celidonio, a queda dos abates ficou acima das expectativas. A questão é que, além da redução que resulta do ciclo da pecuária, há uma pressão adicional. Como os preços do boi magro estão altos, os confinamentos (engorda sob sistema intensivo) serão menores neste ano, avalia ele.
Conforme estimativa do Imea, bovinos engordados nesse sistema somarão 620 mil neste ano em Mato Grosso, queda de 2,52% ante os 636 mil animais do ano passado. No Estado, a região médio-norte é a mais afetada, justamente pela maior presença de pecuaristas que precisam comprar boi magro para o sistema de confinamento, afirma Celidonio.
Nesse cenário de menor oferta, o nível de utilização de capacidade dos frigoríficos de Mato Grosso está abaixo da média histórica calculada pelo Imea, que é de 84%. Neste ano, porém, a taxa de utilização média é de cerca de 75%, o que implica ociosidade de ao menos 15%.
Essa ociosidade seria ainda maior se os frigoríficos instalados no Estado não tivessem fechado unidades. No primeiro semestre, sete deixaram de operar. Desde o ano passado, foram fechadas nove de um total de 31 que estavam em funcionamento. Considerando todo o parque industrial de Mato Grosso, inclusive as plantas que já estavam sem operar antes de 2014, o Estado tem ao todo 39 unidades.
Para Celidonio, o parque industrial de Mato Grosso está superestimado. Ao todo, as 39 unidades têm capacidade para abater 11 milhões de bovinos por ano. O máximo abatido em um ano no Estado foi 6 milhões de cabeças. “Sempre houve muito mais frigorífico do que o necessário”, afirma. Se todas os frigoríficos com Serviço de Inspeção Federal (SIF) estivessem funcionando, a ociosidade média seria de 60% neste ano.
Fonte: Valor Econômico, adaptada pela Equipe BeefPoint.