Oportunismo e oportunidade

Por Luis Fernando Cabrino1

Recentemente, tenho visto entrevistas nos meios de comunicação rural, dadas por criadores de taurinos, ou seja, gado europeu, mais especificamente, da raça Limousin.

Honestamente falando, estou decepcionado com a posição de alguns colegas.

Crio Limousin há 8 anos e foi às custas de muito estudo e experiência no ramo, que me convenci de que esta é a raça mais apropriada, em vários aspectos, quando se quer produzir carne.

São muitas as vantagens do processo de cria desta raça. Na desmama, os bezerros são mais pesados e 20% mais valorizados e continuam com esta precocidade, sendo abatidos de 6 meses a 1 ano, antes que um zebuíno, por exemplo. Além disso, há sistemas de premiação em vários estados do Brasil, para animais precoces, por terem, realmente, uma carne diferenciada.

De repente, ouço falar nos “botequins” da pecuária, que os frigoríficos estão rejeitando os animais cruzados. Que cruzado, tatu com cobra? Deve ser, porque, assim como o cruzamento com o Limousin, os cruzamentos industriais são provenientes do taurino com o zebuíno, que são abatidos precocemente e se recebe mais no mercado frigorífico, com incentivo fiscal ao novilho precoce. Além disso, tem as portas abertas para a exportação.

O mundo quer importar esta carne, por preencher os requisitos do padrão internacional, e porque traz mais lucros ao produtor. Por que não?

Para nos tornarmos, realmente, um grande país exportador de carne bovina e deixarmos de ser, simplesmente, apenas um grande potencial (e faz tempo que estamos nesta fase…), deveremos produzir qualidade, que se enquadre nos quesitos exigidos pelo primeiro mundo, nos quais o Limousin adapta-se como nenhuma outra raça.

Nossos custos de criação são imbatíveis no mercado internacional. Se tivermos muita qualidade, as supostas barreiras cairão. Temos um exemplo disso, na agricultura, que é o caso da nossa soja, que apesar das dificuldades normais, é destaque no mundo inteiro.

Contraditoriamente, segundo dados oficiais da EMBRAPA, conseguimos alcançar, na exportação do couro bovino, o dobro do valor da exportação da própria carne (sendo que somente 10% do nosso couro é de primeira qualidade). Não parece estranho???

Quero deixar bem claro, que não estou criticando nenhuma outra raça, pois além de ser também criador de Nelore, faço inseminações com outras raças européias, e tenho uma visão muito mais ampla do quanto podemos expandir o conceito da pecuária moderna.

Sou confiante quanto ao futuro da pecuária brasileira, e chego a acreditar que, em breve, poderemos vir a ser os maiores produtores de carne do planeta!

Mas, não basta acreditar. Há muito trabalho pela frente e deve haver, entre os pecuaristas brasileiros, uma consciência coletiva, de que a união faz a diferença.

Podemos e devemos acender as nossas velas, sem que pra isso precisemos apagar as de outros.

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1Luis Fernando Cabrino é criador do Nelore e Limousin Rancho Fundo e sócio-diretor do Montana Premium Beef

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  1. Guilherme Azevedo Sodré disse:

    Cabrino: Parabéns. Não faço cruzamento industrial com Limousin mas sim com Brangus e Simental, mas respeito a sua opinião. Mandamos 600 animais para o Marfrig no ano passado supostamente para o seu programa Montana que considero de grande valia para todos nós produtores de novilho precoce.Sodré

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