O Painel ao qual teria assento versará sobre a questão sanitária e os impactos das ocorrências do vírus da febre aftosa para as exportações de carne bovina, bem como a espancada reedição da eterna proposta de uma frente sul-americana para a erradicação da referida enfermidade.
Meus caros leitores, recebi esta semana convite para participar de Congresso a ser promovido por um Instituto de desenvolvimento regional agrícola. O Painel ao qual teria assento versará sobre a questão sanitária e os impactos das ocorrências do vírus da febre aftosa para as exportações de carne bovina, bem como a espancada reedição da eterna proposta de uma frente sul-americana para a erradicação da referida enfermidade.
Ora, muitos pensariam: “Interessante! Devemos levar a cabo um programa como este, em conjunto com os nossos “irmãos” de fronteira”. Eu, por outro lado, não suporto mais este tipo de rodeio e de discussão complacente e inconcludente. Por isso, condicionei minha presença ao real debate que se deve procurar aplicar daqui em diante, e há muito tempo já: o de novos desafios e estratégias tangíveis.
A verdade é que em alguns momentos nós temos que ser duros para tentar romper alguns conceitos enraizados e já ultrapassados. Pertenço a uma nova geração que não mais se contenta em discutir o passado. Queremos o contrário. Desejamos discutir e debater o futuro à luz da sobriedade técnica e jurídica. Com um enfrentamento político agressivo e de nível, sempre em harmonia com as regras internacionais de comércio e, principalmente, de saúde animal e vegetal.
Somos inquietos. Essa constante, cansativa e ultrapassada abordagem da questão do combate da febre aftosa, que renunciou o nível técnico e a cada dia consolida o entendimento de que essa enfermidade é exclusivamente econômica, nos causa sentimento primitivo de volta ao passado. A única saúde que ela acomete é a financeira, dos produtores e da economia do País.
A questão é a seguinte: nós não podemos admitir a continuidade deste sistema que aí está, onde as regras sanitárias internacionais são intensa e abusivamente aplicadas com o objetivo de protecionismo comercial, sendo que tudo o que propomos não pode ou não é factível.
Temos que ser insistentes e firmes. Temos que questionar o papel de Organismos e Instituições como a OIE – Organização Mundial de Saúde Animal, que, em tese, deveria discutir com mais seriedade e transparência questões sobre a saúde animal no comércio internacional.
A meu ver, a OIE – nos últimos tempos – tem se mostrado mais uma dessas instituições internacionais sofisticadas que se dedicam à omissão em questões já espancadamente reconhecidas.
A inocuidade de alimentos que seguem estritamente as regras técnicas internacionais emanadas pelo seu Código Zoossanitário Internacional, por exemplo, ainda não são suficientes para derrubar as obscenas barreiras que a carne bovina brasileira sofre no comercio internacional, alijada de 60% de todo o comércio mundial.
O que quero deixar claro é que, apesar de já termos avançado muito em questões relativas à defesa e inspeção animal, que abriram novas possibilidades para que países, como o Brasil, pudessem elevar sua inserção no mercado mundial de carne bovina, as práticas desleais aliadas à não aplicação de normas cientificamente comprovadas no comércio internacional de carne bovina são hoje o maior desafio que o Brasil enfrenta na tentativa de ampliar, ao seu limite, o comércio para os mercados que já exportamos nossos produtos e para aqueles que, ainda, não abriram suas portas.
Eu e muitos da minha geração consideramos ser preciso nas nossas discussões, no plano internacional, além de aplicar com extremo rigor a objetividade e o pragmatismo, muita firmeza para demonstrar nosso desconforto com a perpetuação dos interesses econômicos internacionais sobre aqueles estritamente técnicos, bem como do duplo conceito: onde nós temos que nos submeter a tudo e “eles” nada aceitarem.
Temos que cravar mudanças! Não suporto mais essa “orgia” Regional, onde Organismos, Institutos, entre outros, se capitalizam com discussões ultrapassadas, seja pela mais simples e pura incapacidade intelectual de formular novas idéias, ou pelo escancarado objetivo de manter suas estruturas inúteis e irrelevantes a serviço da mediocridade.
Enfim, temos que ser duros nestes momentos. Temos que dizer aquilo que nos interessa e ao agronegócio brasileiro. Devemos transformar o discurso medíocre em prática grandiosa.
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Realmente temos que mudar essa política que aí está…
Acho inaceitável o fato de uma doença como a febre aftosa ainda não ter sido erradicada em nosso país! Vejo que como tudo em nosso país, as discussões e planejamentos de ações, foram para o lado única e exclusivamente econômico, deixando de lado o lado técnico e sanitário!!
Acho um absurdo a forma como age o Panaftosa…o Brasil faz sua parte, ou engana muito bem. E os países vizinhos, fazem? Claro que não!!!
Acho que a base de tudo é comprometimento e seriedade das autoridades envolvidas.
Achei muito bom seu artigo!!
Parabéns.
Bom dia, caros amigos.
Na realidade eu só gostaria de levantar uma questão:
Quem realmente perde com o aparecimento de focos de aftosa no país? Pois no que me toca, as exportações de carne só tem aumentado, não é?
Sem contar o monopólio dos dois maiores grupos frigoríficos deste país, para não dizer “cartel”.
Agora, o principal de tudo isso o que chega a ser uma piada de mal gosto, sem contar descaso de todos, do governo federal, dos próprios produtores etc…
Aqui vai a grande pergunta: Por que só aparece focos de aftosa aqui quando os preços da @ de boi estão subindo, e nunca o inverso? Muito estranho não?
Já li alguns artigos que você escreveu e concordo com tua linha de pensamentos. Tenho 41 anos, mas me considero como parte desta tua turma que está cheia de blablabla…
Vamos lá.
Estive no Congresso Mundial de carne na Austrália em abril deste ano. O assunto sanidade foi muito comentado. Porém, para meu espanto, ficou somente no blablabla. E tinha representação brasileira lá. Assistimos (eu e um amigo paraguaio) a palestra do Dr. Alex Thiermann, da OIE, e falou somente de padrões de sanidade, mas não adressou o mais importante. Fizemos a pergunta por escrito, “Por que continuar usando aftosa como barreira sanitária?”, não foi respondida.
Em outra palestra, proferida pelo Dr. Gary Smith – este foi um dos 7 profissionais eleitos para lidar com o primeiro caso de BSE nos Estados Unidos, durante o Beef Australia 2006 – ele falou sobre problemas sanitários no mundo. Gostaria de ressaltar duas afirmações feitas: a primeira pelo Paul Kitching (Canadian National FAD Center) “Because of the trade consequences of reporting an outbreak of FMD, it is — in many counties — a political decision, and it is not always truthfull” (Devido às conseqüências no comércio de comunicar um foco de aftosa, isso é – em muitos países – uma decisão política, e não é sempre confiável). Isso dá um bom suporte para o que você falou no seu artigo.
Isso é, se ela não fosse usada com barreira sanitária, todos poderiam comunicar o problema e resolvê-lo imediatamente. A outra afirmação foi do próprio Dr. Smith. Os Estados Unidos têm muito medo que usem o vírus da aftosa como bioterrorismo contra eles. Pois, a doença se esparrama muito rápido. Então, a recomendação dele para o governo americano foi muito simples. Simplesmente começa a vacinar o rebanho todo do país, que reduz enormemente este risco. A resposta do governo americano é que eles não podem fazer isto por causa da conseqüência comercial. Então, eles preferem continuar com medo e correndo o risco.
Enfim, espero não ter sido muito chato com estas citações, mas tudo isto é para concordar plenamente com você e me colocar à sua total disposição quando necessitar de alguém para gritar junto com você, ou para qualquer outro embate.
É isto aí. Se não mudarmos os paradigmas, e buscarmos evoluir o debate, seremos sempre discriminados no mercado. Veja agora a discriminação da produção da região da Amazônia. Isto se não fosse tétrico, seria hilário.