Bezerros cruzados de carne com leite (beef-on-dairy) deixaram de ser apenas uma tendência; eles se tornaram uma estratégia de negócio para produtores que buscam extrair mais valor de cada decisão reprodutiva. Para os produtores de leite, oferecem uma maneira de transformar vacas de menor produção em uma nova fonte de receita. Para os confinamentos, prometem maior eficiência alimentar e carcaças mais desejáveis.
“Produtores de leite estão acasalando vacas de menor produção leiteira com touros de corte para aumentar a receita com bezerros,” diz Melanie Concepcion, doutoranda na Michigan State University, que recentemente apresentou um estudo sobre a economia dos animais beef-on-dairy. “A ideia é agregar mais valor aos bezerros Holandeses existentes, melhorando a musculatura, a qualidade do couro e a atratividade no mercado.”
Segundo a CattleFax, os cruzamentos beef-on-dairy começaram a aparecer nos abates confinados por volta de 2019. Hoje, eles representam uma estimativa de 2 a 3 milhões de cabeças por ano, contribuindo com cerca de 15% a 20% da produção total de carne bovina nos EUA, sinalizando uma mudança significativa na forma como a genética leiteira pode servir à cadeia de suprimento da carne.
“Eles vieram para ficar,” acrescenta Concepcion. “E o número de bovinos beef-on-dairy só tende a crescer.”
Para medir o desempenho desses cruzamentos, Concepcion lançou um estudo avaliando 75 bois Holandeses e 75 bois beef-on-Holstein de criadores de bezerros de Michigan. Criados em condições idênticas, os animais passaram de dietas iniciais para de terminação, e as diferenças de desempenho não surpreenderam.
Bovinos beef-on-dairy:
“Eles são mais eficientes na alimentação e têm maior área de contrafilé e espessura de gordura que os Holandeses,” explica Concepcion. “O rendimento também é melhor, o que é bom porque significa mais carne e musculatura.”
No entanto, a saúde do fígado acende um alerta. Concepcion constatou que 39% dos bois beef-on-Holstein desenvolveram abscessos hepáticos, alguns graves o suficiente para aderirem o fígado à carcaça.
“Nesses casos, há perdas por necessidade de cortes,” diz ela. “E isso reduz o valor total da carcaça.”
Economicamente, o estudo mostra que os bezerros beef-on-dairy têm maior valor, mas também um preço difícil de justificar.
“Pagamos US$ 310 a mais por bezerro beef-on-Holstein, mas nossos dados mostram que deveríamos ter pago apenas US$ 273 a mais,” diz Concepcion. “Sim, eles devem valer mais, mas não tanto quanto pagamos.”
Com alguns cruzamentos carne/leite recém-nascidos chegando a mais de US$ 1.000, Concepcion afirma que os números simplesmente não justificam o ágio em muitos casos.
“Esses bezerros claramente têm mais valor que os Holandeses, mas não tanto quanto alguns compradores estão pagando,” ela diz. “Ainda vemos preços inflacionados que não refletem o desempenho real no confinamento ou o retorno da carcaça.”
Buscando resolver as preocupações com o fígado, Concepcion liderou um segundo estudo focado na fibra da dieta. A hipótese: aumentar a inclusão de silagem de milho na dieta de terminação poderia ajudar a reduzir a incidência de abscessos hepáticos, promovendo melhor saúde do rúmen.
O estudo incluiu 65 bois Holandeses e 65 beef-on-Holstein. Cada grupo recebeu uma dieta de terminação com 20% ou 40% de silagem de milho.
“Queríamos ver se aumentar a fibra por meio de maior inclusão de silagem reduz os abscessos,” diz ela.
Os resultados foram claros:
“Aumentar a inclusão de silagem de milho reduz efetivamente a quantidade de abscessos hepáticos nos bovinos, independentemente da raça,” afirma Concepcion.
Mesmo com a mudança na dieta, os bois beef-on-Holstein continuam a demonstrar uma clara vantagem em características de carcaça e rendimento de processamento em comparação aos leiteiros puros. Esses cruzamentos apresentam:
“Adicionar genética de corte aos Holandeses resulta em mais musculatura,” observa Concepcion. “E isso leva a um maior valor de carcaça.”
Curiosamente, o marmoreio e a classificação de qualidade permanecem semelhantes entre as raças e dietas. A maioria dos animais atinge a classificação choice baixa a média, oferecendo qualidade aceitável sem custos excessivos de alimentação. Além disso, o menor teor de gordura KPH e o maior rendimento de carcaça oferecem mais produto comercializável aos processadores, aumentando ainda mais o benefício econômico.
“Mesmo com diferenças de alimentação e estrutura corporal, os bovinos beef-on-dairy continuam mostrando consistência na composição da carcaça,” ela acrescenta. “Essa previsibilidade é valiosa tanto para confinadores quanto para frigoríficos.”
Apesar dos benefícios no desempenho, a questão dos preços retorna. No segundo estudo, os bezerros beef-on-Holstein custaram US$ 353 a mais que os Holandeses, mas os dados de ponto de equilíbrio mostram que deveriam custar apenas US$ 281 a mais.
“Pagamos demais de novo, assim como da outra vez,” diz Concepcion. “Esses estudos nos mostram que os bezerros beef-on-dairy devem ser vendidos com prêmio, mas não tão alto quanto o mercado atual sugere.”
Os custos de alimentação foram, na verdade, menores para os beef-on-dairy, graças ao menor número de dias em alimentação. E embora a dieta com 40% de silagem de milho tenha aumentado ligeiramente o custo da ração, ela não impactou o custo por ganho, tornando-se uma estratégia viável para melhorar a saúde do fígado sem comprometer a eficiência.
Embora os bezerros beef-on-dairy ofereçam vantagens claras em desempenho no confinamento e qualidade de carcaça, Concepcion observa que o mercado ainda precisa de ferramentas para alinhar os preços ao valor real.
Ela continua explorando os fatores que influenciam saúde, ganho e classificação nesses cruzamentos, e seus estudos mais recentes incluem pesquisas sobre saúde intestinal e hepática, além de comparações entre raças como Simmental-Angus, Holandês e bovinos de corte.
“Quanto mais entendermos como esses animais crescem, classificam e, no final das contas, como são consumidos, melhor poderemos manejá-los e comercializá-los,” ela conclui.
Fonte: Drovers, traduzida e adaptada pela Equipe BeefPoint.