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Os novos capitalistas e a carne brasileira

Em relação ao tema de nosso interesse, o consumo de carne bovina, atualmente ao redor de 17 kg per capita, as mudanças culturais em curso e o crescimento econômico do país podem representar uma grande virada de mesa. O aumento da renda aliado a chegada de hábitos alimentares ocidentais - aqui vale lembrar que em Moscou está estabelecida uma das lojas de maior movimento do McDonalds - deve estimular este consumo nos próximos anos.

A queda do muro de Berlim, que marcou o fim da era comunista e a derrocada do Império Soviético, foi apenas o primeiro passo de uma grande mudança em curso nas repúblicas do leste Europeu. Ao longo dos últimos anos as mudanças continuam e podem ser ainda observadas grandes alterações na cultura e nos hábitos dos antigos cidadãos comunistas, agora consumidores ávidos por artigos antes inacessíveis.

Quem visita a Rússia certamente fica impressionado com a disponibilidade de produtos globais e a profusão de marcas reconhecidas internacionalmente, o que provavelmente repulsaria Lenin, Stalin e seus colegas de revolução. Observando mais de perto, fica clara a rápida assimilação de hábitos de consumo até pouco tempo atribuídos ao mundo capitalista, inclusive no setor de alimentos, e aqui vemos uma oportunidade para nossa cadeia da carne.

A Rússia é o país de maior extensão territorial do planeta, estendendo-se por quase metade da Europa e por cerca de um terço da Ásia, com uma população que passa dos 145 milhões de habitantes, sendo que mais de 75% concentrada em zonas urbanas. Segundo o Banco Mundial a economia russa é a 15ª do mundo e, mais de uma década depois do colapso da União Soviética (1991), o país continua a tentar estabelecer uma economia de mercado moderna e alcançar um forte e consistente crescimento econômico. Nos últimos anos o país cresceu a taxas anuais elevadas, acima de 6,5% entre 2000 e 2004 e, conforme previsões da OECD, estas taxas anuais devem ser superiores a 4% nos próximos anos, ou seja, o país vive um momento interessante e promissor.

Em relação ao tema de nosso interesse, o consumo de carne bovina, atualmente ao redor de 17 kg per capita, as mudanças culturais em curso e o crescimento econômico do país podem representar uma grande virada de mesa. O aumento da renda aliado a chegada de hábitos alimentares ocidentais – aqui vale lembrar que em Moscou está estabelecida uma das lojas de maior movimento do McDonalds – deve estimular este consumo nos próximos anos.

Com um rebanho em franca diminuição – na última década foi reduzido à metade – e que não apresenta qualquer sinal de retomada, a demanda por produtos importados é significativa e tem forte tendência de crescimento. Além disso, pela falta de tradição na criação de bovinos de corte, onde a maioria da produção de carne é oriunda de animais de aptidão leiteira ou mista, o mercado potencial para o produto brasileiro de qualidade é enorme. Não é por acaso que as vendas para a Rússia vem crescendo constantemente e, hoje, já é um dos principais destinos de nossas exportações de carne bovina.

Vivendo este cenário de mudanças, a aproximação e o entendimento desta cultura e mercado são essenciais para construirmos estratégias e ações exitosas na conquista de uma maior parcela dos consumidores russos. Neste sentido é meritosa a participação da ABIEC, com alguns de seus associados e com apoio da APEX, na Feira de Alimentos de Moscou, que aconteceu no final do mês de setembro.

Como em outros eventos de promoção da carne brasileira, em meio a degustação de carnes e caipirinhas, a mensagem positiva de nossos produtos conseguiu alcançar os mais variados segmentos do mercado.

É clara a necessidade de contato de nossos exportadores com os clientes locais – distribuidores, varejistas e consumidores – para melhor aproveitar as oportunidades existentes e antecipar as tendências de demanda para os próximos anos. Apesar de já termos assumido uma posição importante na pauta das importações russas, ainda temos um grande espaço para expansão, tanto em termos de volume como de preços, pois os melhores segmentos daquele mercado, de maior valor agregado, ainda não foram conquistados. E este é o desafio.

Nossa pecuária vem apresentando uma grande evolução nas últimas décadas, com aumento significativo das taxas de desfrute, o que vem embasando o constante crescimento da produção de carne no país. Apesar de termos uma condição privilegiada e apresentarmos uma extraordinária competitividade, é imperativo que estejamos preparados a apresentar garantias e atender aos padrões de qualidade de nossos potenciais consumidores internacionais.

Infelizmente neste último ano vivemos novamente a experiência de convívio com focos de febre aftosa e, consequentemente, nosso esforço teve de ser direcionados a negociação pela queda dos embargos impostos aos nossos produtos.

Ao invés de focarmos na abertura de novos e mais atraentes destinos, fomos novamente obrigados a perder tempo com o mesmo antigo problema. Estamos pagando caro pela incompetência de nossa cadeia da carne – setor público e privado – e, no caso do mercado russo, ainda continuamos sem acesso para a maioria dos Estados brasileiros.

No inicio deste mês de outubro conseguimos a reabertura das exportações dos Estados de São Paulo e Goiás, o que possibilita uma melhor condição de suprimento, mas será que vamos continuar nestas idas e vindas?

Com um mercado interno que absorve somente 75% de nossa produção, com grande limitação de expansão, consumo per capita estagnado ao redor de 36 kg/ano, ficamos numa posição de dependência de nossas exportações.

É lógico que estratégias de incentivo ao aumento do consumo interno são importantes e devem ser implementadas, mas a oportunidade concreta que vislumbramos é a expansão da exportação. Este crescimento já vem acontecendo, mas apresenta ainda grande potencial, tanto de aumento nos países onde já atuamos como em novos mercados que poderão ser abertos nos próximos anos.

A Rússia é um bom exemplo, mas é imperativo que nossa cadeia da carne tenha consciência das novas tendências e que estejamos preparados para oferecer as garantias exigidas por estes consumidores globais, com visão de futuro e responsabilidade de quem realmente tem condições e quer ser o celeiro do mundo.

0 Comments

  1. Fábio Dias disse:

    Donário,

    Outro dia ouvi de um executivo do McDonalds a seguinte informação: temos mais de 500 lojas McDonalds no Brasil e menos de 150 na Rússia, mas o consumo total de carne da rede russa é o mesmo do Brasil. Ou seja, cada loja russa vende 4 vezes mais carne bovina que sua similar brasileira! Fica patente o enorme potencial de consumo dos russos e a importância que o Brasil tem que dar à exportação.

    A disposição para o crescimento da produção de carne bovina no Brasil não deixa possibilidade de encontrarmos o equilibro sem novos e grandes saltos das exportações brasileiras de carne bovina.

    Nada contra o incentivo ao consumo interno, muito importante mesmo que seja apenas para manter o alto nível de consumo atual. Mas o equilíbrio definitivo da cadeia de produção de carne bovina brasileira não será encontrado sem a firme dedicação do pais à conquista e manutenção de mercados no exterior.

    Recuperando a frase da década de 70: exportar é o que importa! Também para a carne bovina.

    Forte abraço, FD

  2. Carlos Magno Pereira disse:

    Caro Donário, gostaria de aproveitar esse espaço não só para parabenizá-lo, mas para deixar aqui minha crença que nosso “trieiro” é mesmo para uma política voltada à sanidade e exportação dos nossos produtos para mercados promissores como o da Rússia, países asiáticos, oriente médio etc. Mercado de carne, temos e muito…todavia com qualidade e competividade.

    Sucessos!!

    Carlos Magno

  3. Wellison Moreira Vieira disse:

    O Brasil com certeza tem condições de ser o celeiro do mundo, desde que nós pecuaristas façamos nossa parte, tomando todas as medidas profiláticas para não deixarmos doenças como a aftosa voltar a molestar nossos rebanhos.

  4. José Cláudio Ivantes disse:

    Concordo plenamente com o que foi escrito até agora. Mas temos um mercado que ainda não foi explorado pelos nossos pecuaristas. Digo, “Pecuaristas” temos condições de exportar carne de primeiríssima qualidade, ou seja, novilho precoce, com cobertura de gordura padrão. Esse nicho os frigoríficos não podem explorar sem que façam acordos com os pecuaristas. Como fazer acordo com os pecuaristas? Lógico que pagando mais pelos produtos adquiridos.

  5. Adjalbas de Lima Macedo disse:

    O texto nos desperta ainda mais para o potencial do nosso mercado interno. São 190 milhões de pessoas, passíveis de serem absorvidas pelo o mercado de “carne bovina”. Há nichos a serem explorados no próprio Brasil, os quais são de conhecimento dos segmentos da cadeia produtiva. Exportação de alimentos, possui várias variáveis ideológicas, de conflitos, que não são resolvidos a curto prazo, e os quais aumentam o risco da atividade. Criar um mercado interno e ocupar os seus nichos, talvez seja a opção mais correta para o sustentáculo da cadeia produtiva da carne bovina.