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Os novos índices de desapropriação e o voto

Responsáveis por 28% do PIB, 42% das exportações, gerando 34% dos empregos, primeiros exportadores mundiais em vários segmentos, atendendo o enorme mercado interno com preços acessíveis a todos os brasileiros, encontramo-nos vivendo a pior crise do agronegócio brasileiro e estamos às portas de aprovar índices de produtividade desconexos da realidade econômica que transformam, com um passe de mágica, as nossas fazendas em 150 milhões de hectares de terras susceptíveis de serem desapropriadas.

Responsáveis por 28% do PIB, 42% das exportações, gerando 34% dos empregos, primeiros exportadores mundiais em vários segmentos, atendendo o enorme mercado interno com preços acessíveis a todos os brasileiros, encontramo-nos vivendo a pior crise do agronegócio brasileiro e estamos às portas de aprovar índices de produtividade desconexos da realidade econômica que transformam, com um passe de mágica, as nossas fazendas em 150 milhões de hectares de terras susceptíveis de serem desapropriadas. Continuamos calados e sem manifestar-nos.

Continuamos esperando que os nossos dirigentes resolvam o impasse no qual estamos com o Ministério de Desenvolvimento Agrário sem perceber que a força das nossas lideranças depende, não só do voto, mas de nossa participação e da coragem para participar do novo cenário de mudanças da agenda do próximo governo.

É necessário admitir que continuamos vivendo sob uma fachada de harmonia e tranqüilidade provinciana cada um na sua fazenda sem perceber a amplitude do problema e, na realidade, formamos parte de uma sociedade contraditória.

É espantoso como ao longo dos últimos anos uma elite relativamente pequena de políticos que conquistou o poder como detentora da ética e da moralidade tem ditado as regras e calado os anseios dos agricultores e pecuaristas, salvo honrosas exceções, submersos em uma indiferença generalizada. Parte destas contradições são produzidas por promessas de oportunidades passadas, que são negadas pela realidade presente de discriminação do agronegócio empresarial, violência nas invasões do próprio congresso nacional, autoritarismo, descaso com os bens públicos, malversação dos impostos pagos pela comunidade e incapacidade de administrar o bem-estar de todos.

Porém, a contradição decisiva é entre uma reputação de nosso povo de generosidade pessoal e o fato de ter que viver em uma sociedade desigual sem expressar um direito garantido pela nossa constituição: o voto.

Este é o fundamento dos independentes que podem decidir o futuro da nação em outubro de 2006. Somos um conjunto de cidadãos apartidários, que devem unir-se pelo sentimento ético de querer mudar o país e para isto precisamos ser cidadãos participativos dos destinos de nossa sociedade. Não é suficiente votar por uma mudança, é necessário mudar o voto da comunidade que sem opinar é conivente com as imoralidades estampadas diariamente nos jornais. Manifestar-se de forma positiva, tomar posição, ocupar espaços que nos são de direito, estar vigilantes para que os recursos que geramos através dos impostos sejam aplicados de forma transparente e coerente, visando às verdadeiras necessidades do país.

Finalmente nós, brasileiros, somos muito diferentes de todas as outras comunidades do Novo Mundo, na nossa origem, na miscigenação de raças e na nossa história, porém as desigualdades e vulnerabilidades típicas do terceiro mundo permanecem. Mesmo aceitando todas as melhorias na macro-economia do país, não podemos deixar de ressaltar que o PIB do setor primário, insumos, indústria e distribuição do setor agropecuário no primeiro semestre do ano é negativo.

Apenas uma coisa é certa: para sermos verdadeiramente diferentes temos que fazer acontecer, precisamos continuar praticando a nossa vocação natural de produzir alimentos e exportar a cada dia mais, pois temos a maior reserva de terra agricultável do mundo e, antes de tudo, precisamos traduzir diferentes opiniões do clamor do setor que vai da mão calejada do lavrador que planta a semente à mão do trader que comercializa nosso produto.

Precisamos não só votar conscientemente por mudanças, mas participar destas mudanças que o Brasil precisa e dizer não à insanidade de criar índices que não levam em consideração o momento econômico em que vivemos, mas que atentam contra o direito de propriedade garantido pela nossa carta magna.

0 Comments

  1. Kênia Chehoud disse:

    Parabenizo e concordo na íntegra o alerta que se faz nesse texto de Nelson Pineda, e acho que se não nos unirmos desta vez e lutarmos até aonde pudermos, até onde a constituição nos reserva nossos direitos indo à Brasília a qualquer lugar que for para salvar nossas propriedades, nosso sustento, nossos direitos de propriedades e o mais importante que está se acabando, o respeito com o produtor!!! Se não nos juntarmos desta vez, não sei aonde iremos chegar…

  2. Silvio Renato Oliveira Menegassi disse:

    Parabéns pela didática explanação do que está por trás dos planos desse governo que dá com uma mão e tira com as duas. O orçamento do Ministério do Desenvolvimento em relação ao do Ministério da Agricultura expõe muito claramente a posição do atual governo, e como vivemos em um regime presidencialista só nos cabe lutar para mudar não só o presidente mas o que ele representa de atraso a um país que mesmo grande territorialmente é pequeno na acomodação de seus agentes que sempre preferem a migalha estendida, ou seria diferente essas promessas de rolagens de dívidas que o setor parece ganhar acanhadamente em detrimento do consentimento da permanência nefasta desse governo? Nossa luta é pela mudança, e ela passa pelo nosso voto nesse momento e pela conclamação de uma classe laboriosa em um futuro imediato pela luta incessantemente por mudanças de políticas de desenvolvimento. E não nos esqueçamos jamais que a inviabilização de um governo passa certamente pela sua inviabilização econômica, precisamos pensar nisso.

    Um abraço,

    Silvio

  3. André Figueiredo Dobashi disse:

    É animador saber que existem pessoas como o senhor Nelson, que se prestam a elucidar o povo da necessidade do voto, difundem tecnologia e produzem alimentos – labuta que enobrece o homem e afaga a alma.

    Nesta última crise da agropecuária, a incapacidade do brasileiro demonstrou ser um assunto digno de comentários – brasileiro, pois não se pode falar dos outros e este engenheiro agrônomo que vos escreve também se encaixa nesta crítica – incapacidade de planejar o futuro, gerenciar suas atividades, participar dos acontecimentos globais e exercer seus direitos e deveres de cidadãos.

    Se o brasileiro de hoje não enxerga a importância do voto, não é porque a classe política é desanimadora, mas porque se tornou acomodado, espectador do mundo, controlado por televisões e programas de computador (os softwares, porque nem a língua pátria se desenvolve mais no país). O Brasil está poluído por uma elite dominante, onde parte é desonesta e desumana, que prefere adotar a política do “pão e circo” e manter o país na ignorância em prol do “sucesso” pessoal; e a outra parte é fútil, sem cultura e sem princípios que prefere passar mais tempo fora do país, a entender o porquê do Brasil estar na situação atual.

    Esta elite domina as outras duas partes da população: uma pequena porção de intelectuais, extremamente cultos, que se informam, promovem a pesquisa, produzem alimentos, pintam, fazem cinema, teatro, veiculam artigos em grandes revistas e param por aí. Atingem apenas o que está ao seu redor e influenciam pessoas do próprio e pequeno meio. E a outra parte? É a grande população parada, espectadora, trabalhadora? Sim… Mas não se sabe para que trabalhar, porquê lutar, no quê acreditar… E assim fica difícil saber em quem votar.

    Neste ponto, os criminosos – que hoje em dia não se sabe se é quem mata e seqüestra ou quem promove o empobrecimento do país e da nação, recebe propinas e age com cinismo – estão cada vez mais organizados, mais unidos, mais ricos. Quem lê as considerações dos grandes traficantes e contrabandistas, percebe que são pessoas cultas. Cultura maligna, mas é no mal que acreditam, lutam por um ideal em comum, respeitam a hierarquia e levam a sério suas metas, seus objetivos.

    Dizer que brasileiro sempre foi assim é só um pouco mais de comodismo. Claro que existem aqueles que fazem o país andar adiante, como o senhor, a equipe do BeefPoint que aborda assuntos excelentes e divulga tecnologia, pesquisadores renomados no mundo inteiro e agropecuárias que realmente produzem com planejamento e gestão.

    Entretanto, a grande parte ainda está na surdina. Quem pode inverter a situação é quem domina tecnologia e a transfere das universidades para o campo, quem divulga informações, promove a discussão de idéias e estimula o raciocínio. Só votar não vai salvar o país, pois candidatos hoje em dia não existem, mas sim vendedores de sonhos, amparados por técnicas de marketing e tratamento de imagem. A Veja abordou bem este assunto… Mas quantos leram?

  4. Carlos Arthur Ortenblad disse:

    Prezado Nelson,

    Você está coberto de razão. O que poderia ser uma medida técnica, de simples atualização, na realidade será uma ferramenta para punir, mais uma vez, quem produz. As desapropriações serão mais fáceis, mais ágeis e…mais baratas.

    Possivelmente, não levarão em conta para avaliar a “produtividade” de uma fazenda: clima por vezes adverso, real supervalorizado, preços de ´commodities´ em queda, cartéis de toda sorte, e sucessivos aumentos reais do salário mínimo.

    Se for verdade, como diz o atual ocupante do Mapa, que os índices de produtividade estão defasados, será porque os agricultores brasileiros vêm dando, contra tudo e contra todos, um ´show´ de competência. Vocês são a nata do empresariado nacional. Nenhum outro setor pode ostentar os números que a agropecuária nacional exibe: ganhos de produtividade, geração de renda, e saldo de balança comercial.

    Ao invés de serem recompensados, serão vítimas do próprio sucesso, coragem e trabalho árduo. Já que o presidente Lula aprecia tanto metáforas, aí vai uma para Sua Excelência. O que se engendra no governo federa, em relação ao agronegócio, é similar a estuprar uma moça, e depois acusá-la de prostituição. Lamento os termos fortes, mas é termômetro de minha indignação.

    À distância, mas sempre solidário, meus parabéns, e levem esta luta adiante. Como dizem os ingleses: “It´s a fight worth fighting for”.

    Abraço,
    Carlos Arthur Ortenblad
    Economista – Rio de Janeiro

  5. Pedro Junqueira Netto disse:

    É uma grande preocupação o descaso em que nossos governantes tratam o setor primário no Brasil, agora não adianta falar em voto enquanto os candidatos não respeitam seus partidos e na hora de impedir um descalabro deste, sucumbem ao populismo não se importando com o Brasil e sim com seu marketing. Em quem votar numa situação desta?

  6. José Brígido Pereira Pedras Júnio0r disse:

    Nelson Pineda, Diretor Técnico da ABCZ, em seu artigo “Os Novos Índices de Desapropriação e o Voto”, foi muito clarividente. Demonstrou uma situação catastrófica a que estão levando o setor rural, infelizmente. O artigo é muito oportuno e há de ser levado em consideração por todos nós, e, principalmente, pelas nossas Lideranças Rurais e também do Parlamentares que querem o bem do Brasil, e, assim, procuram resguardar o meio rural das investidas que estão tentando nos dizimar.

    Curiosamente, até nas reformas penais que dizem ser necessárias para combater o crime, não se lembram das modificações que se fazem necessárias para resguardo do direito de propriedade e de paz do homem rural.

    Por volta de um ano, houve um Congresso no Tribunal de Justiça de Minas Gerais. E, curiosamente, lideranças jurídicas dos invasores de terra foram convidados a dar conferências.

    O que se viu, tristemente, foram assertivas de que aqueles que atingem as nossas propriedades não estão tipificados em nenhuma norma penal. Enquanto, para nós, não passam de invasores, desrespeitadores da lei e da paz social, os seus acólitos dizem não serem tais elementos tipificados com tal, ou seja, invasores, porque tal só acontece se nossas propriedades são tomadas de assalto sem prévia divulgação. Como divulgam que vão invadir nossas fazendas, são somente ocupantes, sem figura penal tipificadora. Ora, então é hora de nossas lideranças envidarem esforços para que nas reformas do Código Penal que pretendem encetar no combate à criminalidade, considere também que é crime alguém, sem meu consentimento, ou com ordem judicial, invadir minha fazenda.

    Sem mais, para o momento, agradeço o espaço.
    José Brígido Pereira Pedras Júnior.

  7. Antonio Luiz Junqueira Caldas Filho disse:

    Digam o que fazer e ao resto dos produtores rurais. Votar é fácil…

    Sabiam que apenas uma pequena parcela da população do Brasil consegue ler esse texto e compreendê-lo integralmente?

    Alguém coloque alguma idéia prática e executável, por favor!

    Abraço a todos!!!
    Antonio

  8. Liodeir Rodrigues Carvalho disse:

    Um alerta e incentivo oportuno, bem colocado e embasado em fatos.

    Faço seqüência ao comentário do Sr. Antônio Luiz Junqueira Caldas Filho. Qual seria a ação e destinatário adequados para colocação das nuances que envolve a determinação de níveis de produtividade agropecuários? Qual o porta-voz adequado?

    Governantes são transitórios (bons e não-bons), atividades produtivas são perenes. Vamos pensar e praticar planejamento, os governantes apenas fazem parte dele.

    Felicidades a todos,
    Liodeir Rodrigues Carvalho