Miguel Cavalcanti, coordenador do BeefPoint, conversou na terça-feira com Otávio Cançado, diretor-executivo da ABIEC, sobre exportações de carne bovina brasileira a UE. Acompanhe abaixo as perguntas e trechos das respostas. A entrevista na íntegra, você pode ouvir clicando abaixo.
Miguel Cavalcanti, coordenador do BeefPoint, conversou na terça-feira com Otavio Cançado, diretor-executivo da ABIEC, sobre exportações de carne bovina brasileira a UE. Acompanhe abaixo as perguntas e trechos das respostas. A entrevista na íntegra, você pode ouvir clicando abaixo.
1.Como vai funcionar essa consulta à Organização Mundial do Comércio (OMC) contra a UE, sobre essa “discriminação da carne brasileira”?
“Brasil vai fazer consulta formal a UE sobre tratamento injusto em relação as importações de carne brasileira. Vamos decidir como fazer, exatamante isso, na semana que vem, com o governo, em Brasília”.
“O Brasil é o único país que precisa de uma lista de fazendas aptas a exportar a UE”.
“Botswana exporta para a UE e teve casos recentes de febre aftosa”.
“Já perguntamos muitas vezes e não obtivemos uma resposta sobre os motivos desse tratamento desigual. Queremos uma resposta técnica”.
“O Brasil deve entrar com essa consulta formal apenas em 2010, pois não é uma ação apenas do setor privado, da Abiec, mas vai envolver também o Ministério da Agricultura e o Itamaraty”.
2.O que a Abiec deseja que a UE flexibilize?
“Queremos o que o MAPA já pediu a UE e foi negado. Hoje é preciso que a entrada na lista da UE (lista Traces) seja automática. Nós queremos profissionais (agrônomos, zootecnistas e médicos veterinários) possam fazer as auditorias, aumentando a capacidade de auditoria, limitado pelo número de técnicos do Ministério. O MAPA faria uma checagem em apenas uma amostra das fazendas, e não 100%, como é hoje”.
“A UE tem uma atitude discriminatória em relação ao Brasil hoje. Queremos saber a razão disso, uma resposta técnica”.
3.Qual a avaliação da lei atual da rastreabilidade, sancionada recentemente, de autoria de Ronaldo Caiado?
“Eu acho que a proposta do deputado Ronaldo Caiado pode ajudar sim, mas é preciso levar em conta que para exportar é preciso mais do que sanidade. É preciso padrões de qualidades, como por exemplo na Cota Hilton. Para esses mercados e para esses clientes, vamos precisar atender as regras e demandas dos compradores, que são questões de qualidade”.
“Para atender a Cota Hilton, é preciso que tenhamos rastreabilidade desde os 10 meses (desmama). Essa decisão é uma questão de mercado, uma decisão econômica, dos produtores e dos frigoríficos”.
4.E a possível/provável consulta pública sobre o Sibov que o Mapa irá divulgar? Qual a posição da Abiec sobre o tema?
“A informação que tenho é que hoje (terça, 08-12) está acontecendo uma reunião do CTC do Sisbov e que está sendo acordado entre Ministério, produtores e frigoríficos. Me parece que a questão com os produtores já está resolvido e vamos resolver os pontos dentro dos frigoríficos”.
5.Você acredita que a UE pode aceitar carne bovina do Brasil, sem identificação individual?
“Eu acho que dificilmente isso muda. A lei aprovada pelo deputado Caiado diz que a rastreabilidade é voluntária. O produtor e o frigorífico que queiram ter acesso a europa, e ao mundo, vão precisar atender a rastreabilidade. E a tendência mundial é uma rastreabilidade com identificação individual. Vai depender da decisão de mercado de cada produtor e de cada frigorífico”.
6.Qual a sugestão para o Mapa aumentar o número de fazendas aptas a exportar a UE?
“Nossa proposta é que seja flexibilizada a habilitação de fazendas e também o processo de inclusão na lista Traces. Não vejo outras sugestões no momento”.
“Da forma que está, o sistema está amarrado, gerando uma lentidão na lista de “.
“A UE tem hoje em tese, o controle do acesso de carne brasileira. Se querem limitar, não autorizam novas fazendas, se querem aumentar, incluem mais fazendas na lista”.
“Hoje temos uma duplicidade de auditoria, duplicidade de trabalho. Isso gera um custo extra, imposto pela UE”.
“Um número muito pequenos de fazendas habilitadas a exportar a UE”.
7.Qual sua opinião sobre o recém-divulgado programa de certificação da Abras?
“Existe uma tendência, não só da Abras, mas também do BNDES, que querem comprovação de respeito a legislação ambiental, seja para comprar (Abras), seja para novos financiamentos para frigoríficos e até produtores (BNDES)”.
“A questão da Abras é que eles atropelaram um pouco o processo, não consultando os produtores e consultando os frigoríficos apenas no final do processo”.
“Todo processo é positivo, mas é preciso envolver melhor toda a cadeia, não pode ser uma imposição. Os produtores não foram nem consultados”.
“Acredito que vamos começar uma nova rodada de negociações. Não é um processo inviável, mas precisamos repensar alguns pontos”.
“Toda iniciativa de melhoria do setor é válida. A iniciativa da Abras é válida”.
“Auditar e certificar a cria-recria-engorda é uma questão muito difícil hoje”.
“O BNDES por exemplo deu prazos razoáveis para que frigoríficos e produtores se adequassem. Esse é um caminho a ser seguido pela Abras”.
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Parabens ao BeefPoint pela agilidade. Cada vez gosto mais deste nosso site.
Depois vou comentar com calma, respirando bem fundo antes…
1- Concordo que a gestão da lista de propriedades habilitadas deve ser do Brasil. A UE, como cliente, pode apenas auditar periodicamente nosso programa.
2- Concordo que o governo precisa delegar a fiscalização das propriedades e estabelecer um plano de amostragem para suas auditorias para continuar a garantir a segurança, racionalizar o processo e acelerarmos a habilitação de propriedades
3- Apesar dos dois pontos acima não serem ajustes na essencia do SISBOV a sua implantação permitiria ampliarmos em muito o volume de animais exportáveis.
4- Concordo que provavelmente a UE continuará exigindo rastreabilidade individual.
5- Também acho dificil no “status quo” atual ampliarmos a rastreabilidade para a cria / recria.
Att,
parabéns pela entrevista
As opiniões do entrevistado,refletem com exatidão o que ocorre hoje
na prática: muito custo para o produtor,morosidade para liberação das
propriedades e total falta de estrutura do MDA.Podemos acrescenta,ainda,
a falta de interesse do governo Brasileiro,na defesa do setor primário,pois
deveria ser comprometimento do País,uma vez que as exportações geram
divisas e acrescentam ganho real ao produtor,sem falarmos que com o –
enxugamento do mercado interno,há a possibilidade real de manter o pre-
ço pago ao produtor,em patamares satisfatório,incentivando-o a continuar
produzindo e gerando desenvolvimento emprego e renda.
Tudo bem dito e descrito pelo coordenador da ABIEC, e conforme ele mesmo disse tudo foi bem feito até agora, pelo MA e também por nós, já que trabalhamos para minorizar a alta demanda de propriedades que teem que serem auditadas e faltam profissionais aptos a realizarem. As fazendas por mim auditadas e outros colegas, estao realizando , nem que seja um mínimo financeiramente,o sonho de vender com alguma diferenciacao de precos. E nosso problema maior é que queiramos ou nao ,ELES exigem e PAGAM melhores. Podemos sim vendermos para outros mercados internacionais, mas nunca nos esquececamos,UE,é a vitrine do mundo.
O brasil já demonstrou inúmeras vezes que possui uma rastreabilidade confiável, o grande problema é que cada vez que a UE faz uma auditoria novas regras são impostas dificultando e encarecendo ainda mais a produção , o engraçado é que a produção deles não possui a metade do controle que nós temos, a vaca louca veio de lá, aí nós temos que nos adequar as exigências do mercado internacional se quisermos receber um pouco á mais pela nossa carne. O pior é que tudo que é feito aqui pareçe que é ´pouco para os europeus!.
Quem determina esse equilíbrio entre oferta e demanda de animais rastreados é o Frigorífigo, ou seja ele nunca chegará a esse equilíbrio, que lhe trará maior custo.
Que absurdo. Se tiver muita oferta o preço cai, mas se tiver pouca oferta o preço cai também.
A ABIEC não acha que o pecuarista é estúpido, ela tem certeza.
Se não há mais fazendas dentro do “padrão” do mercado europeu, é porque depois de investir muito, num modelo que o pecuarista não concorda, ela vê seu boi sendo jogado na vala comum de uma vaca velha sem rastreabilidade.
Essa é a postura da ABIEC, quando lida com o produtor.
Parabéns para o Beefpoint por colocar o ponto de vista da Industria exportadora. Iniciativas como essa são necessárias para os elos da cadeia se conhecerem ainda mais, ou confirmarem suas aparências.
não resta dúvida que todo este imbróglio tenha conotação de controlar o mercado de carnes da UE, protegendo os produtores europeus, mas também existe uma significativa parcela de culpa de todos os agentes que compõem a cadeia produtiva da carne bovina brasileira que não consegue fazer a tarefa de casa, a começar pelos órgãos governamentais.
Bom dia,
Miguel, seria muito interessante que você faça entrevistas de representantes das empresas importadoras européias, que acompanham no dia a dia a evoluçao do mercado do bloco e do comportamento dos consumidores. Sugiro uma entrevista de uma das tradings que atuam como intermediarias entre os exportadores brasileiros e as empresas européias do varejo e do setor de catering. Varias delas sao inglesas e pertencem à International Meat Trade Association (IMTA). Esses profissionais têm uma vantagem : conhecem a fundo os consumidores do velho continente. Se você falar para eles que o Brasil esta pensando em adiar de novo o rastreamento individual dos animais, eles vao repetir o que me disseram recentemente : num mercado onde a gente anda de automovel, nao existe muito espaço para vender cavalos…..
Abraços,
JY Carfantan.
AgroBrasConsult