O presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), Edivar Vilela de Queiroz, informou que o desempenho das exportações brasileiras de carne bovina este ano não deve apresentar alterações significativas em relação ao desempenho registrado no ano passado. Segundo ele, em 2001 o País exportou 858,3 mil toneladas em equivalente carcaça, com faturamento de US$ 1,02 bilhão (R$ 2,95 bilhões).
De qualquer forma, ele considera satisfatórias as previsões para o setor este ano, tendo em vista que o desempenho das exportações de carne bovina no ano passado foi excepcional e dificilmente seria superado em tão curto espaço de tempo. Segundo Queiroz, diversos fatores contribuíram para as elevadas vendas ao exterior em 2001, principalmente a ocorrência de casos de febre aftosa na Argentina e na Europa, o que direcionou boa parte da demanda internacional para o mercado brasileiro.
Descompasso
De acordo com o presidente da Abiec, as exportações de carne começaram bem o ano, mas após o primeiro trimestre entraram em declínio, devido ao forte descompasso entre o preço do boi no Brasil e na Argentina. “Privados de exportar carne bovina por um longo tempo, os argentinos tinham um grande estoque de animais prontos para abate. Esse excesso de oferta, somado aos graves problemas econômicos vividos pelo país, fez com que os preços do boi gordo caíssem no mercado interno e a desvalorização do câmbio tornou a carne argentina altamente competitiva no mercado internacional”, explica.
Segundo ele, com a exportação de um quarto de boi, o frigorífico argentino faturava o suficiente para pagar o animal ao produtor, tal era a depreciação do boi gordo no mercado interno. Queiroz argumenta que a agressividade das exportações argentinas obrigou o setor frigorífico brasileiro a freiar suas exportações entre abril e julho, só agora retomando um ritmo mais acelerado de comercialização. Conforme o dirigente, isso explica a cotação relativamente baixa do boi gordo nos primeiros meses da entressafra, bem como a reação dos preços nos últimos dias.
Queiroz estima que, ao longo dos quatro meses de retração, o faturamento das exportações de carne bovina tenha caído ao redor de 15%. Ele alega que, além das condições favoráveis para exportar o produto, a Argentina ainda foi privilegiada com uma Cota Hilton de 38 mil toneladas, contra apenas cinco mil toneladas destinadas ao Brasil. “É uma correlação inacreditável, pois a Argentina tem um rebanho de 44 milhões de bovinos, enquanto o nosso é de 167 milhões”, protesta Queiroz, que atribui fatos como esse ao pouco empenho das autoridades brasileiras na defesa dos interesses comerciais do País nos fóruns internacionais.
Para o dirigente, na pior das hipóteses, o Brasil teria de receber pelo menos uma cota igual à da Argentina, pois hoje é reconhecido internacionalmente como detentor de uma das maiores e mais desenvolvidas pecuárias de corte do mundo.
Terceiro maior exportador
Apesar dos percalços, o presidente da Abiec não tem dúvidas quanto à crescente importância da pecuária de corte brasileira no mundo. “Hoje somos o terceiro maior exportador, atrás apenas da Austrália e dos Estados Unidos, e acreditamos que estaremos em primeiro lugar dentro de cinco anos”, diz. Para isso, entretanto, ele pondera que é preciso um maior empenho das autoridades brasileiras nas negociações para a abertura de novos e importantes mercados, como os da Rússia e China. Ele argumenta que no caso da Rússia, falta apenas a assinatura de uma autorização das autoridades locais para que os exportadores brasileiros possam vender carne bovina diretamente aos consumidores.
“Isso aumentará em cerca de 15% a nossa rentabilidade, mas continuamos sem o benefício por uma questão meramente burocrática, que uma diplomacia ágil resolveria facilmente”, reclama o empresário. Ele também se mostra otimista quanto à possibilidade de aumento das exportações para o mercado norte-americano, especialmente depois da lei do fast track, que permite ao presidente dos Estados Unidos firmar acordos especiais de comércio sem que a matéria tenha de passar previamente pelo Congresso. “Nossa saída é exportar, pois o crescimento do consumo interno é lento, principalmente devido ao baixo poder aquisitivo da população”, diz.
Potencial
Para o presidente da Abiec, os números não deixam dúvida quanto à punjança da pecuária brasileira. Segundo dados da entidade, de 1994 a 2001 a rebanho bovino registrou crescimento relativamente modesto (4,74%), mas a taxa de desfrute subiu de 16,43% para 20,22% e a idade média de abate dos animais caiu de 36 a 48 meses, para 24 a 30 meses. A produção em equivalente carcaça subiu de 5,2 milhões de toneladas para 6,9 milhões e as exportações passaram de 378,4 mil toneladas, para 858,3 mil. Por outro lado, as importações nacionais de carne em equivalente carcaça caíram 74,83% e em dólar, 71,84%.
Fonte: O Popular/GO (por Edimilson de Souza Lima), adaptado por Equipe BeefPoint