Os pecuaristas do Pará estão pressionando o Ministério da Agricultura para que seja autorizado o trânsito de animais em pé e carne com osso do Estado para áreas com reconhecimento internacional de livre de febre aftosa com vacinação. Segundo o presidente da Federação da Agricultura do Estado do Pará, Carlos Fernandes Xavier, o pedido foi encaminhado ao ministério no mês passado.
Na quarta-feira, Xavier e representantes dos pecuaristas voltaram a Brasília para reafirmar o pedido. “Estamos confiantes que a resposta será positiva. Devemos ter um posicionamento favorável assim que o ministro voltar para Brasília”, comentou.
Nos bastidores, contudo, circulam informações de que a pressão dos pecuaristas está muito grande, com ameaças de entrarem na Justiça contra o Ministério da Agricultura até a intimidação de técnicos do governo. O argumento dos pecuaristas é que 70% do rebanho do Pará está em áreas reconhecidas pelo governo brasileiro como livre da doença com vacinação. A Organização Internacional de Epizootias (OIE) não reconhece essa situação sanitária. Esta condição só permite a venda de animais vivos e carne com osso para os Estados do Nordeste, que, segundo ele, têm risco elevado para aftosa.
Xavier estima que os pecuaristas do Pará têm prejuízo de R$ 300 milhões por ano por causa da restrição de trânsito. A idéia é que os bovinos do Estado sejam comercializados apenas para frigoríficos que abastecem o mercado interno.
Mas o governo está relutante porque, segundo fontes próximas, a última sorologia realizada no Pará deu resultados preocupantes e o sentimento é de que uma eventual abertura do Pará para o circuito Centro-Oeste poderia colocar em risco todo o País. Se for aberta a fronteira, um garrote do Pará poderia ir até a uma exposição em Goiânia ou Londrina.
“No caso de um foco ser registrado, seria uma retração em todo o processo de erradicação pelo qual o Brasil já passou”, disse Amaryllis Romano. Uma proposta apresentada pelo ministério foi de realizar uma nova sorologia no Pará, mas isto atrasaria o período de vacinação de maio.
A estratégia seria ter os resultados da sorologia em seis meses, a tempo de enviar para a OIE e solicitar a liberação da região. Mas os pecuaristas insistem em uma abertura imediata.
Segundo Xavier, o foco de aftosa registrado no ano passado no município de Monte Alegre não enfraquece a proposta. “O registro aconteceu numa região isolada, que está a 800 quilômetros de distância das áreas reconhecidas como livre da doença com vacinação”, afirmou. Para analistas deste mercado, contudo, abrir o Estado do Pará de forma imediata seria agir como a Rússia no caso do embargo da carne brasileira. Pelo acordo sanitário existente entre Brasil e Rússia, os Estados vizinhos a focos devem ficar fechados por 1 ano para exportação de carne. Mas, de forma surpreendente, as vendas externas de Mato Grosso foram liberadas.
Fonte: O Estado de São Paulo (por Eduardo Magossi), adaptado por Equipe BeefPoint