Não se trata de novidade dizer que o Brasil é á ultima fronteira agrícola mundial e que, em um futuro muito próximo, se consolidará como principal provedor de alimentos para o mundo.
Esta afirmativa se justifica devido à disponibilidade brasileira de terras agricultáveis (90 milhões de hectares, sem fazer uso dos 350 milhões de hectares da floresta amazônica), a possibilidade de conversão de 220 milhões de hectares de pastagens naturais para o plantio de culturas permanentes e outras commodities – sem afetar a produção do complexo carnes – a nossa capacidade de produção, produtividade, sanidade e competitividade, se comparada com os nossos concorrentes.
Também, nossas características de solo, relevo e clima permitem cultivar o ano todo inúmeros produtos. O Brasil é um dos poucos países do mundo com essa condição. Em apenas trinta anos, graças às pesquisas e ao apoio financeiro, a produção de grãos quase quadruplicou, ante incremento de apenas 43% na área.
A área total dos cerrados atinge mais de 204 milhões de hectares – equivalentes a 24% do território brasileiro – dos quais 151 milhões de hectares ainda a serem explorados. Desse total, cerca de 127 milhões têm potencial agrícola e apenas 47 milhões eram ocupados em 2000 (35 milhões com pastagens cultivadas, 10 milhões com cultivos anuais e 2 milhões com culturas perenes e reflorestamentos). Dispúnhamos, portanto, de 80 milhões de hectares agricultáveis somente, nos cerrados ainda por serem explorados.
Atualmente, o Brasil figura no cenário do comércio internacional com 1% do total comercializado no mundo. No entanto, temos que ter em mente que o agronegócio brasileiro já representa 3% do mercado agrícola mundial.
Além disso, o agronegócio brasileiro é responsável por um terço do nosso Produto Interno Bruto (PIB), 32% dos empregos e 40,44% de tudo o que é exportado pelo Brasil. “O agronegócio brasileiro sustenta a balança comercial deste País”. Para tanto, basta separar o resultado do agronegócio do restante da balança comercial e verificar que o Brasil teria registrado déficit no ano passado, não fosse a participação deste importante setor.
Estudo da Universidade de São Paulo (USP) revelava que, para cada R$ 1,00 aplicado na agricultura, gera-se R$ 3,86 na economia em menos de um ano. Segundo o censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), investir nas fazendas é essencial para a ampliação da renda dos imóveis.
O acréscimo de R$ 1,00 no volume de investimentos por hectare eleva a renda agrícola em R$ 2,57. Além disso, é importante ressaltar que cada meio bilhão de dólares de exportações cria 50 mil empregos.
Em dez anos, a produção de grãos aumentou em cerca de 200%, com praticamente a mesma área plantada. (vide gráfico abaixo)
Produtividade e área plantada no Brasil de 1990 a 2004
Esse fenômeno se deu em decorrência de vários fatores, entre eles: i) a capacidade brasileira em investir em novas tecnologias desenvolvidas por centros de pesquisa de excelência como a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa); ii) a implementação, pelo Governo Federal, de instrumentos de política agrícola que facilitaram, sobremaneira, os investimentos dos produtores rurais iii) a renegociação das dívidas agrícolas; e iv) o lançamento de programas de incentivo como o MODERFROTA.
A forte demanda mundial por soja, especialmente, devido a demanda pela China, motivou o aumento da produção dessa commodity no sul do País – em especial no Rio Grande do Sul e, posteriormente, no Paraná.
Cabe ressaltar, no entanto, que atualmente, 60% da produção nacional de soja está concentrada em áreas de cerrado, na Região Centro-Oeste do País. Devido a essa expansão agrícola da sojicultura para o Centro-Oeste a produção de soja dobrou e o Brasil alcançou a condição de maior exportador mundial, superando dos Estados Unidos da América.
Nesse sentido, o Brasil se tornou o maior produtor e fornecedor de soja do mundo.
Neste cenário de ascensão, o Brasil se consolidou como o terceiro maior exportador agrícola do mundo, atrás somente dos Estados Unidos da América e da União Européia.
Uma cultura que deve ser considerada como promissora no cenário interno e externo é a do algodão. Em 1997 o Brasil exportou US$ 884 mil, ante 406.070 milhões, em 2004.
A vitória brasileira no painel aberto no âmbito da Organização Mundial do Comércio (OMC), que condenou os subsídios americanos ao algodão, com o argumento de que os subsídios afetavam as exportações do País, abre uma perspectiva de crescimento da cultura nos próximos anos. O Brasil poderá dobrar ou até triplicar a sua produção.
Os EUA terão que eliminar os subsídios à exportação, abrindo uma brecha para o aumento das nossas exportações no mercado internacional.
Exportações brasileiras de algodão de 1997 a 2004
Em oito anos, as exportações de carne bovina saltaram do montante de US$ 436.391 milhões para US$ 2.457. 268 bilhões, em 2004, crescimento da ordem de 62,76% em relação a 2003.
Exportações brasileiras de carne bovina de 1997 a 2004
Nos últimos vinte anos, a produção de carne de frangos quadruplicou. Estimativas da Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frangos (ABEF), apontam para embarques de 2,4 milhões de toneladas, 22% superior ao verificado entre janeiro e dezembro de 2003. A previsão de receita cambial é de US$ 2,5 bilhões, o que representa um crescimento de 40%, se comparado a 2003.
Mix dos produtos exportados – carne de frango
Vários fatores contribuíram para esse cenário favorável em proveito do complexo carnes: i) a disposição do Governo brasileiro em adotar medidas sérias e consistentes no que diz respeito à defesa agropecuária, ao longo dos últimos oito anos; ii) o engajamento do produtor rural e de toda a cadeia produtiva nos programas de defesa agropecuária; iii) a competência dos produtores e frigoríficos brasileiros em se adaptar às normas internacionais de comércio; iv) a sanidade animal brasileira; v) a produtividade do Brasil; e vi) a capacidade de rápida adaptação (resposta) à demanda internacional por proteína animal, entre outros.
Além disso, não podemos deixar de considerar que as doenças que atingiram o mundo ao longo destes anos, como a vaca louca, febre aftosa e a gripe asiática, também contribuíram para a abertura e consolidação da carne brasileira no exterior.
No entanto, nem tudo conspira em favor do agronegócio brasileiro. Os baixos preços das commodities, o câmbio desfavorável, a deficiência em infra-estrutura, as barreiras sanitárias e as dificuldades de acesso a mercados limitam a crescimento sustentado do setor. O câmbio é flutuante, os preços voláteis e cíclicos e a logística é débil, pois gera perda de competitividade ao nosso produtor.
De acordo com a Bunge, o agronegócio brasileiro economizaria US$ 2,4 bilhões em gastos se a infra-estrutura fosse adequada. Nesse cálculo estão contabilizados a ineficiência portuária, a falta de opções ferroviárias e fluviais e a crescente lentidão nas estradas.
“O crescimento sustentado do agronegócio brasileiro também depende da abertura de novos mercados”: praticamente tudo o que poderia ter sido ocupado nos mercados “livres” – isso é, sem cotas, tarifas altas ou barreiras disfarçadas – já foi ocupado. Isso sem contar a concessão de subsídios que os países ricos concedem ao setor agrícola, que acabam ocupando espaços que poderiam ser do Brasil. Os países desenvolvidos concedem cerca de US$ 1 bilhão por dia em subsídios à exportação, medidas de apoio interno, entre outros. Do orçamento da União Européia, pouco mais de 40% é gasto com estes mecanismos que distorcem o comércio agrícola mundial.
O trabalho de negociação é complexo. Envolve posições do Mercosul, acordos bilaterais, negociações da ALCA e na Organização Mundial do Comércio (OMC). Envolve, ainda, negociações sensíveis com setores brasileiros que podem, eventualmente, sair prejudicados em trocas de mercados. Afinal, para se abrir mercado em um país é necessário oferecer algo em troca no mercado brasileiro; é a teoria dos jogos de soma zero aplicada, ou seja, conflito e colaboração, onde um “player” só pode ganhar se o outro perder.