Os preços globais caíram em 2002, pressionados pelo aumento da oferta de carne, e o índice de preços de carne da FAO caiu 2% desde o começo de 2002. Enquanto em 2001 a doença da “vaca louca” e os receios de segurança alimentar foram as principais influências no mercado, em 2002 o movimento dos preços foi afetado principalmente pela oferta abundante de carne, principalmente nos países proibidos de exportar em 2001, como pelas políticas de desenvolvimento nos principais mercados.
Outros fatores relacionados ao mercado global de carnes em 2002 incluem: o impacto das doenças animais (como aftosa e EEB), o aumento de preços nos principais países exportadores de grãos e as incertezas econômicas na América do Sul, conduzidas pela movimentação brusca das taxas de câmbio durante o ano.
A produção global de carne em 2002 deve crescer 2,5%, chegando a 242 milhões de toneladas. A magnitude do crescimento é resultado de um crescimento estimado de 3% nos países em desenvolvimento, elevando sua participação na produção mundial para 56%. Esta participação é 1% maior que no ano passado e 5% superior à 1995. Também é esperado um crescimento da produção nos países desenvolvidos, se recuperando de 2 anos de queda consecutiva.
Mais de dois terços do aumento no consumo previsto para 2002 deve acontecer nos países em desenvolvimento, elevando seu consumo per capita para 28 quilos. Uma pequena retomada do consumo nos países desenvolvidos, para 80 quilos per capita, também foi calculado, enquanto a média mundial fica perto de 40 quilos per capita.
A desconfiança em relação à segurança alimentar, que reduziu o crescimento anual do comércio de carne em 2001 para seu nível mais baixo em 13 anos, tem diminuído o preço e retomado o consumo de carne, principalmente carne bovina, tendo sustentado um crescimento de 3% no comércio de carne, que alcançou 18 milhões de toneladas.
Muitos mercados fechados para a carne de países da América do Sul e Europa afetados pela febre aftosa em 2001 estão abertos, induzindo fortes ganhos nos embarques das carnes bovina e suína. Entretanto, a desconfiança sobre resíduos de remédios veterinários, tem causado o fechamento do mercado para frango, além das diferenças nas taxas de câmbio que causaram mudanças na participação dos mercados tradicionais nas exportações. O impacto negativo de doenças no mercado em 2001 causou um crescimento na produção e no comércio em 2002.
O maior abate de animais, causado pela seca na América do Norte e Oceania, combinado à crescente produção nos países da Europa e América do Sul afetados pela febre aftosa, contribuiu para aumentar a produção de carne em 2%, chegando a um valor estimado de 60,1 milhões de toneladas em 2002.
Após diminuir por dois anos consecutivos é esperado um crescimento da produção nos países desenvolvidos. Com um aumento de 3% na produção na América do Sul, espera se que a participação dos países em desenvolvimento na produção aumente para perto de 52%, 1% acima de 2001. Na Ásia, é esperado um crescimento de 2% na produção, apesar da falta de chuva, principalmente devido ao aumento nas oportunidades no mercado de exportação. Na China, as estatísticas oficiais pela primeira vez indicam uma pequena queda no rebanho depois de mais de 20 anos de aumento. Com isso, a oferta de carne bovina está prevista para crescer apenas 2% em 2002, comparando com o ganho médio anual de 8% desde 1995.
Influenciada por uma retomada da confiança do consumidor quanto à carne bovina, a projeção é de um crescimento de 6% no comércio desta carne, chegando a 5,8 milhões de toneladas ao fim de 2002. A projeção para a demanda asiática por importação é de recuperação da queda de 7% em 2001, com forte crescimento observado na República da Coréia, Malásia, Filipinas e na província chinesa de Taiwan. A exceção é o Japão, onde apesar da progressiva recuperação da confiança no consumo de carne bovina após a crise de “vaca louca”, as importações têm uma queda esperada de 20%.
É previsto um crescimento nas exportações de países desenvolvidos, em 2002, após 2 anos sucessivos de queda, com a crescente oferta dos EUA e UE compensarem a queda da distribuição da Austrália. Com o sucesso no controle da febre aftosa na América do Sul e a desvalorização do câmbio em 2002, que foi de 70% na Argentina e de 30% no Brasil, é provável que as exportações cresçam mais de 20% na América do Sul, competindo com exportações australianas até em mercados não tradicionais, como o sudeste asiático.
A indústria indiana de carne de búfalo para exportação continua competitiva, aumentando a exportação de produtos com baixos preços para os mercados do sudeste asiático, tanto quanto para mercados do Oriente Médio, que antes importavam da UE.
O grande volume de exportações dos países em desenvolvimento está promovendo um aumento na sua participação no mercado global para 29%, superando os 26% de 2001.
Previsão do mercado internacional da carne em 2003
O comércio total de carne (bovina, suína, frango e peru), medido pelas exportações, está previsto para alcançar um recorde de 16,7 milhões de toneladas em 2003. Com poucas exceções, os líderes vão manter as suas participações no mercado mundial, onde a demanda por importação está concentrada nas mãos de mercados altamente competitivos.
O crescimento do Brasil como um importante exportador de carne bovina, suína e de frango pode ser explicado pelo seu sucesso no mercado russo. O crescimento da renda na Rússia estimulou um aumento no consumo de carne no primeiro semestre de 2002. Com o recente acordo de certificação veterinária para exportação de aves norte-americanas para a Rússia, a perspectiva de exportação de frango americano parece promissora.
As exportações americanas de carne estão previstas para crescer 7,7%, chegando ao recorde de 4,6 milhões de toneladas em 2003. Do Japão, o maior mercado para as carnes bovina e suína americanas, é esperado uma continuidade na recuperação da crise da doença da “vaca louca” em 2001. Enquanto os consumidores japoneses retomam a confiança, a imposição de tarifas de salvaguarda na carne bovina pode diminuir algumas projeções de crescimento na importação de carne bovina. A demanda mexicana por carne americana está prevista para crescer já que o calendário da NAFTA indica queda das tarifas em 2003.
É provável que a competição global pelos mercados de carne bovina, suína e de aves se intensifique quando a UE e os países recentemente aprovados para entrarem na UE diminuir a produção para se adequar ao fortalecimento dos padrões de respeito ao meio-ambiente.
O crescimento da produção australiana de carne bovina e as oportunidades limitadas para o crescimento das exportações para os EUA irão pressionar o preço da carne bovina para baixo nos principais mercados de exportação.
Produção mundial de carne bovina e vitelo – mil toneladas (peso equivalente em carcaça)
Consumo mundial de carne bovina e vitelo – mil toneladas (peso equivalente em carcaça)
Análise do comércio mundial de carne bovina
O total de exportações de carne bovina está previsto em 6,5 milhões de toneladas em 2003, um crescimento de cerca de 5% na previsão para 2002. Com a intensificação da competição global, as previsões para exportações de carne bovina são maiores para a maioria dos principais exportadores.
Brasil, Argentina e Uruguai, à medida que aumentam a exportação de carne bovina fresca e congelada, influenciam em muito o aumento da competição. É esperado um novo recorde nas exportações australianas, chegando a 1,5 milhões de toneladas, enquanto é esperada uma queda nas exportações canadenses para 2003.
A previsão é que o Japão seja responsável por metade do crescimento nas importações de carne. Prevê-se que a Coréia importe volumes recordes de carne bovina em 2003. As exportações americanas em 2003 devem alcançar um recorde de 1,15 milhões de toneladas, enquanto as importações vão se manter no nível recorde de 1,5 milhões de toneladas.
Principais exportadores
Estados Unidos
As exportações de carne bovina para 2003 estão previstas para mais de 1,15 milhões de toneladas. Após crescer 3% em 2002, devido a um maior número de abates e a carcaças mais pesadas, a produção americana de carne bovina está prevista para diminuir 5,3%, alcançando 11,7 milhões de toneladas em 2003.
Com uma menor oferta de carne, a expansão das exportações de carne bovina será significativamente reduzida. O rebanho americano será submetido ao sétimo ano de redução, e cairá para 95,6 milhões de cabeças em janeiro de 2003, o nível mais baixo desde 1959. A maior retenção de gado para recomposição do rebanho irá reduzir a oferta doméstica de carne bovina e o consumo interno está previsto cair 550 mil toneladas, para 12,2 milhões de toneladas em 2003.
Austrália
As exportações de carne bovina estão previstas para crescer até o nível recorde de 1,5 milhões de toneladas em 2003. A produção de carne está prevista para atingir o recorde de 2,25 milhões de toneladas, graças a recuperação do rebanho a níveis da década de 70.
Os EUA são o maior mercado comprador da Austrália, entretanto a quota de importação americana para carne vinda da Austrália, que foi completada em 2001 e deverá ser completada também em 2002 e 2003, provavelmente limitará o crescimento do mercado. Com mais carne fresca, resfriada e congelada para exportação, o preço da carne bovina australiana provavelmente continuará sua tendência de queda e pressionará exportadores no mercado.
Brasil
Continuando uma década de expansão na produção de carne bovina, a produção brasileira de carne está prevista para alcançar o recorde de 7,4 milhões de toneladas em 2003. Esse forte crescimento levará a uma exportação recorde de carne bovina. Exportando somente 306 mil toneladas em 1998, a previsão é o Brasil exportar a quantidade recorde de 925 mil toneladas em 2003.
A aceitação do Brasil como região livre de febre aftosa em 2002 por muitos países, permitiu o país aumentar sua presença na Europa e entrar em muitos outros mercados como o Egito, a Rússia e a China. O Brasil tem mudado suas variedades de produtos com três quartos das exportações agora sendo compostas de carne fresca, congelada e resfriada.
Beneficiado pela desvalorização cambial, baixos custos de produção e um recente investimento para expandir a capacidade de produção, o Brasil se tornou o terceiro maior exportador de carne bovina.
Canadá
As exportações canadenses estão previstas para decair para 600 mil toneladas, com o rebanho canadense estimado atingindo um recorde de 13,7 milhões de cabeças em janeiro de 2002, a previsão é que se reduza 2% até janeiro de 2003. Os produtores canadenses diminuíram seus rebanhos devido ao alto custo dos alimentos e à severa seca ocorrida em 2002. Apesar das exportações estarem previstas para diminuir em 2003, os canadenses continuarão a exportar principalmente cortes frescos e congelados de alto valor agregado.
União Européia
As exportações de carne bovina para 2003 estão previstas em 570 mil toneladas, acima do estimado em 2002, mas bem abaixo das 854 mil toneladas em 1999. A UE pretende concentrar suas vendas para seus vizinhos russos e do leste europeu. Muitos dos parceiros de comércio da UE do Oriente Médio têm mantido suas restrições relativas à “vaca louca”, forçando a UE a direcionar as exportações para mercados menores.
O crescimento futuro das exportações será reduzido devido à queda do rebanho europeu. Este irá cair para 79,8 milhões de cabeças, 2,4 milhões a menos que em 2000.
Exportações mundiais de carne bovina e vitelo – mil toneladas (peso equivalente em carcaça)
Principais importadores
Estados Unidos
As importações de carne têm sua previsão mantida com recorde de 1,5 milhões de toneladas. A Austrália, pela primeira vez desde 1995, atingiu sua quota de importação de 378.214 toneladas (fundamentado no peso do produto) em 2001, e irá atingir novamente em 2002 e 2003. Em 2001, aproximadamente 60% das importações de carne bovina foi de carne resfriada, a maioria delas vindas da Austrália. O Canadá é o principal fornecedor de carne fresca e congelada de alta qualidade. Devido aos surtos de febre aftosa na Argentina e no Uruguai em 2001, os EUA suspenderam a importação de carne fresca, congelada e resfriada destes 2 países.
Japão
As importações de carne bovina estão previstas em 860 mil toneladas, bem acima das 700 mil toneladas estimadas para 2002. É esperada uma retomada na demanda por carne bovina em 2003, conforme a confiança com a segurança da carne for melhorando. Como resultado à forte importação, é provável que o Japão acione uma salvaguarda nas importações de carne bovina no início de 2003.
Uma vez acionada, as tarifas de importação de carne vão subir de 38,5% para 50%. Isso vai resultar, de fato, no saldo do ano fiscal japonês em 2003, que termina em 31 de março de 2004. Uma salvaguarda pode diminuir a recuperação das importações através do aumento dos preços domésticos da carne importada e provavelmente causará uma importação significativa no primeiro semestre de 2003, com os importadores se precavendo do anúncio da salvaguarda.
Rússia
As importações de carne bovina estão previstas em 740 mil toneladas, 40 mil toneladas acima do esperado para 2002. As importações consistem basicamente em carnes resfriadas de baixa qualidade, para a produção de salsicha e linguiça. Entretanto, a importação de carne fresca e congelada cresceu para um recorde de 15% do total das importações em 2001, para atingir às necessidades crescentes das indústrias hoteleiras e de turismo. A previsão é do rebanho continuar em declínio, atingindo metade de uma década atrás.
União Européia
A previsão de importação de carne bovina para 2003 é de um recorde de 530 mil toneladas, 30 mil toneladas a mais que o estimado para 2002. Brasil, Argentina e Uruguai são os grandes beneficiados com a expansão da demanda da UE. As importações de carne americana pela UE continuam limitadas devido ao uso de hormônios.
A previsão é de queda no rebanho devido a alguns produtores abandonarem a produção de carne por causa da falta de apoio financeiro dado pelo governo. Com a diferença entre as exportações e importações caindo para 40 mil toneladas em 2003, a UE está muito perto de se tornar uma importadora líquida de carne bovina.
México
Em 2003, com previsão de importação de 445 mil toneladas de carne bovina, está previsto que o México atinja o sétimo recorde consecutivo. O rebanho mexicano tem caído desde 1994, devido à seca prolongada e à queda de valor do Peso, o que forçou muitos pequenos e médios produtores a abandonar a atividade devido ao alto custo de produção e a incapacidade de pagar empréstimos. Previsões iniciais do rebanho apontam um número de 20,7 milhões de cabeças para 2003, 33% abaixo do nível de uma década atrás. Com o aumento da renda da população, está crescendo a necessidade por importações para atender a demanda dos consumidores.
Coréia
A previsão para as importações de carne bovina em 2003 está em 420 mil toneladas, 30 mil toneladas a mais que o recorde estimado para 2002. O rebanho coreano está no sexto ano de queda com uma previsão de ficar em 2 milhões de cabeças em 2003, cerca de 40% inferior às 3,4 milhões de cabeças que haviam em 1997. A Coréia começou a importar grandes quantidades de carne fresca e congelada devido à queda de suas barreiras de comércio e vendas no varejo de carne importada, em 2001. Com o preço doméstico da carne elevado e a queda do rebanho, é esperado um aumento da importação coreana de carne bovina.
Importações mundiais de carne bovina e vitelo – mil toneladas (peso equivalente em carcaça)
Fonte:
Livestock and Poultry: World Markets and Trade, FAS/USDA, outubro 2002
Meat and Meat Products, Nancy Morgan, FAO, Novembro 2002
Traduzido e adaptado por Leandro Wirth e Alexandre Monteiro