Seria muito interessante se entidades brasileiras, de produtores ou de exportadores, desenvolvessem programas de certificação, que poderiam ter como benchmarking o selo Eurepgap, e estimulassem a adoção desses programas em larga escala no Brasil. Em alguns dos países que mais protestam contra a carne bovina brasileira na Europa, o percentual dentre o total de fazendas de gado de corte que já adotam boas práticas agrícolas ultrapassa os 80%.
A notícia sobre o questionamento em relação aos benefícios dos produtos orgânicos foi uma das mais comentadas e debatidas no BeefPoint. Alguns podem se perguntar se os recentes problemas e críticas estão enfraquecendo o mercado dos produtos orgânicos. O mercado mundial de produtos com certificação orgânica, “natural”, boas práticas agropecuárias (como o Eurepgap) continuam crescendo, e muito. Nos EUA, o mercado de carne com certificação “natural” cresce ano a ano.
O fato é que o consumidor está cada vez mais informado e preocupado em adquirir alimentos saudáveis, produzidos de forma sustentável. Sustentabilidade econômica, social e ambiental. Notícia do jornal O Estado de S. Paulo de hoje informa que a Natura, empresa mais admirada do Brasil e patrocinadora do São Paulo Fashion Week, vai lançar mais produtos focados em sustentabilidade durante o evento.
Talvez a produção orgânica não seja a melhor opção para produção de alimentos em larga escala, alimentando grande percentual da população mundial, mas é inequívoco que a produção “tradicional” deverá adotar práticas, que no passado eram adotadas apenas por produtores orgânicos. É inequívoco também que haverá uma maior necessidade de garantias e fiscalização, por parte dos produtos orgânicos, naturais e também dos “convencionais”. Nesse ponto, a produção certificada está a frente dos produtos convencionais.
A transparência vai aumentar em todas as relações comerciais. O acesso a inúmeras formas de informação e comunicação, como internet, celulares com câmeras fotográficas, só para exemplificar, aumenta o poder do consumidor e diminui a facilidade de se esconder a “sujeira debaixo do tapete”. O impacto de tudo isso ainda é pouco conhecido.
A revista National Geographic, que é vendida em inúmeros países (circulação de 5 milhões de exemplares só nos EUA) e detentora de grande credibilidade, publicou recentemente uma reportagem de capa sobre o desmatamento na Amazônia, mostrando fotos de satélites, entrevista com o governador do MT, Blairo Maggi e fotos da pecuária de corte na região. A reportagem, como outras, aponta a pecuária de corte como uma das causas do desmatamento da Amazônia.
Qual será a melhor forma de enfrentar esse desafio? Tentar evitar que fotos e reportagens “vazem” parece ser cada vez mais difícil (ou impossível). A cadeia da carne, quando age, tem respondido verbalmente às acusações, mas ainda não há um plano conjunto para efetivamente encarar esse problema. Haverá outro caminho, mais pró-ativo, para tornar o sistema de produção brasileiro menos vulnerável a críticas internacionais?
A entidade que representa os produtores de café de qualidade, conhecida pela sigla BSCA, já desenvolveu um programa de certificação de boas práticas na produção de café, visando garantir, assegurar e divulgar com muito mais impacto que o café “gourmet” brasileiro é produzido de forma sustentável. Todos os produtores filiados a essa associação adotam essa certificação, que segundo especialistas em café, é bem aceita no mercado. No leite, a DPA também está com um programa de certificação de boas práticas agropecuárias.
Seria muito interessante se entidades brasileiras, de produtores ou de exportadores, desenvolvessem programas de certificação, que poderiam ter como benchmarking o selo Eurepgap, e estimulassem a adoção desses programas em larga escala no Brasil. Em alguns dos países que mais protestam contra a carne bovina brasileira na Europa, o percentual dentre o total de fazendas de gado de corte que já adotam boas práticas agrícolas ultrapassa os 80%. O Chile criou um programa de boas práticas agrícolas, para produção de frutas, em conformidade com o Eurepgap chamado Chilegap. De um lado atestam a qualidade para os compradores internacionais, do outro promovem os diferenciais do produto chileno para o consumidor final, coisa que o Eurepgap não permite.
“Todos os caminhos… hoje, levam à UE. Ao mesmo tempo em que é grande o potencial do produto nacional de entrar em um mercado importante, barreiras econômicas, ambientais e logísticas poderão impedir… Especialistas afirmam que, ao ir com muita sede ao pote…, os produtores brasileiros e o governo poderão ver muitas oportunidades serem perdidas, por falta de um plano estratégico“. Essa afirmação, publicada no jornal Folha de S. Paulo, do último domingo se refere ao mercado de biodiesel e outros bio-combustíveis. No entanto poderia ser utilizada para a cadeia da carne bovina brasileira. Assim como no biodiesel, o mercado para carne bovina é muito grande, mas pode ficar muito prejudicado se o setor não se preparar para os desafios, de forma organizada.
O Brasil vem sofrendo cada vez mais ataques em relação ao meio-ambiente, em especial contra a carne bovina. Devido a pressões de grupos ambientalistas, a Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove) e a Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec) decidiram não comercializar a safra de soja oriunda de áreas que forem desflorestadas dentro do Bioma Amazônico. Os exportadores de biodiesel e álcool também já se deparam e se preparam para barreiras ao produto brasileiro.
Nos últimos dias, o BeefPoint publicou alguns artigos, que podem ser analisados em conjunto, inclusive com a leitura das cartas:
– UE tem novas regras de bem-estar animal no transporte
– Bertin vai investir em projeto ambiental no Pará
– Com Eurepgap, Bertin espera ampliar exportações
A pergunta é: como a cadeia da carne, em especial o produtor, pode se beneficiar dessas mudanças (ou, ao menos, não se prejudicar)? Gostaria de saber sua opinião, pela seção de cartas do leitor, abaixo.
Há alguns dias li um provérbio sueco, que talvez possa explicar, pelo menos em parte, a situação da pecuária de corte atual. “There is no bad weather, just bad clothing“, em tradução livre, algo como “Não é o tempo que é ruim, mas sim as roupas que você usa”.
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Com relação ao desmatamento de novas áreas, seja em qualquer parte do país para formação de pastagens, não vejo a menor necessidade, bastaria ao meu ver, os pecuaristas usarem as técnicas que encontram disponíveis nos órgãos de Extensão Rural e/ou Embrapa, Universidades, práticas estas já comprovadas que possibilitam aumento de capacidade de suporte sem formação de novas áreas.
Maior capacidade de suporte com redução de novos investimentos, poderá haver ajustes na receita da atividade.
A Embrapa Gado de Corte lançou em maio/2005 em Mato Grosso do Sul o programa de “Boas Práticas Agropecuárias – Bovinos de Corte” . O programa de Boas Práticas busca a produção de carne de qualidade em sistema de produção sustentável.
Foram capacitados 260 profissionais da assistência técnica para implantarem o programa no estado.
Em setembro/2006, foi lançado o Manual Nacional de Boas Práticas Agropecuárias – Bovinos de Corte. Esse manual incorporou sugestões do grupo de técnicos multiplicadores, da Panaftosa – OPAS/OMS, ABIEC, PAS – Campo e outras entidades. Anexada ao manual há uma lista de verificação dos pontos de controle, para facilitar a implantação do programa.
Foram realizadas capacitações de técnicos nos estados de São Paulo, Minas Gerais e Goiás. As ações nacionais se intensificarão a partir do mês de fevereiro.
A Seprotur (Secretaria da Produção e Turismo de Mato Grosso do Sul) criou uma resolução onde os produtores rurais do MS terão que aderir ao BPA para receber os incentivos do Programa Novilho Precoce.
O manual de Boas Práticas Agropecuárias – Bovinos de Corte, encontra-se no site da Embrapa Gado de Corte http://www.cnpgc.embrapa.br .
link de acesso http://www.cnpgc.embrapa.br/bpa/pdf/ManualBPA2006.pdf
Meu comentário fica mais, em relação ao comentário do Geraldo de Tupinambá, do que em relação ao próprio artigo. Concordo com ele em gênero, número e grau quanto às técnicas de aumento de produtividade sem a necessidade de expansão da área explorada.
O fato é que devemos atentar para o papel fundamental do poder público nesse momento, através de programas ou mesmo financiamentos. Dados da EMBRAPA Gado de Corte alertam para a degradação das pastagens em nosso estado (MS) e em nosso país, e mesmo assim no ano passado um banco público financiava a retenção de matrizes.
Reter rebanho pode parecer a primeira solução em momento de baixa no preço, no entanto vai refletir em um estoque futuro maior e a necessidade de expansão de área explorada, o que conseqüentemente afetara biomas ainda preservados.
Prezado Miguel,
Parabéns por mais este artigo.
Que bom seria se todos os pecuaristas do Brasil tivessem acesso não só a este mas todos que o BeefPoint publica.
Com relação ao seu comentário no artigo acima, gostaria de comentar o seguinte:
1. Embora muitos pecuaristas estejam acordando para a nova realidade, a grande maioria ainda pensa olhando para seu umbigo, ou seja, olha para dentro da porteira e deixa de se colocar no lugar do consumidor e do comprador de seu produto lá no gôndola do supermercado. Quantos será que sabem e têm a consciência do porquê a sanidade é importante? Quantos sabem a importância da rastreabilidade? Quantos perceberam que ninguém virá ajudá-los a sair da crise a não ser eles próprios?
2. O ditado citado por você cabe perfeitamente, nos dias de hoje e já há algum tempo, desde que a economia foi se abrindo muitos ainda não perceberam as mudanças e continuam achando que as coisas vão melhorar sozinhas. Seria interessante observar a evolução dos Agricultores ao longo de sua história que também passaram por esta fase que a pecuária passa hoje, mas tem atualmente uma visão muito mais profissional (em termos de gestão, organização, utilização de meios mais seguros de comercialização etc).
3.O Brasil em termos de produção de carne está frente a frente com uma enorme oportunidade, mas sua preocupação é bem oportuna, também fico com medo de como vamos nos sair e onde estaremos daqui a 3 ou 5 anos.
4. O momento é decisivo. Ou o setor produtivo (a maioria dos produtores) muda sua mentalidade, se organiza, supera as picuinhas, aceita as regras do jogo, valoriza a tecnologia, melhora a gestão e se fortalece para poder negociar com maior equilíbrio e exigir dos governos maior responsabilidade (investimentos em infra-estrutura, dimensionamento e qualificação dos funcionários, que cumpra seu papel de monitorador e indutor do desenvolvimento, além de suas atribuições básicas na sanidade) ou perderemos o trem da história.
5. Temos tecnologia, técnicos bem preparados, produtores qualificados, solos e climas favoráveis, Instituições de Pesquisa, Ensino e Extensão extremamente bem qualificados é preciso nivelar por cima e encarar este jogo como decisivo.
6 Peço desculpas pelo que citei acima aos produtores que já estão preparados, já estão conscientes, que já são profissionais, mas que também sofrem porque ainda são minoria e a categoria não está unida, organizada e não atingiu ainda um grau de amadurecimento que permita conquistar o respeito merecido. Lembro também que a tarefa de mudar este quadro é responsabilidade de todos nós envolvidos, além disto é um trabalho que precisa começar e que não tem data para terminar.
Caro Miguel, este editorial me traz uma preocupação, nós estamos tentando produzir tudo e da forma que o mundo quer, e o mundo não sabe o que nós temos, na verdade, estamos empurrando para baixo do tapete, tentando copiar nossos críticos, algumas jóias que só nós temos, exemplo:um boi que só come capim, um boi que tem à sua disposição praticamente 10.000² de terra, um boi tão natural que consegue conviver com onça e jacaré no pantanal, é só tirar fotos e divulgar pelo mundo afora, e muito mais.
Nós temos é que mostrar para o mundo que o nosso produto é diferente é único, assim como a cachaça e a sandália havaiana, que nós escondemos por muito tempo embaixo do tapete, no dia que tivemos coragem de mostrar, virou moda no mundo inteiro.
Um outro detalhe que me chama a atenção neste fantástico editorial, que me instiga a escrever, é quando você dá ênfase aos jornais e revistas, e cita algumas vezes palavras como; notícia, informação, comunicação etc. Eu acho que você acaba de desvendar o grande gargalo do agronegócio brasileiro, o produtor rural deveria ter como presidente, na CNA, nos Sindicatos Rurais, nas Federações e nas Associações, um bom jornalista, que tivesse como lema: Brasil rural, divulgue-o ou deixe-o. Algumas vezes é preciso enfrentar o tempo, usando as roupas que a gente tem.
Um abraço Miguel e parabéns pelo artigo.
Respondendo à sua pergunta, em meu conceito, a produção de carne no Brasil deve começar por alguns primeiros conceitos “fundamentais”, acima de tudo.
a) Sanidade – falar de competir em mercados da UE ou EUA é uma coisa, mas a realidade Brasileira ao respeito é outra muito diferente;
b) Prazos para as matanças , o conceito que deve “reinar” inteire os produtores competitivos
1) Para os criadores, apresentação, qualidade, idade e peso dos bezerros para os engordadores
2) Os animais dispostos ao frigorífico, com médios máximos de dois anos e eventualmente muito pouco mas;
c) As qualidades genéticas e características das carnes, as raças zebuínas que preponderam no gado brasileiro, nas análises “finas” não competem com as raças inglesas, esta desvantagem deve ser tomada muito em conta.
Todos estes aspectos, somados aos conceitos, de bem estar animal no transporte e o trato pré-matança, (machucones, descarte e desperdícios, mas os couros marcados por carrapato e outros) são os que estabelecem, que um país que deseja consolidar-se e profissionalizar-se na produção de carne, tenha muito caminho por percorrer.
Outro conceito, muito importante está nos “custos de produção” e neste ponto, entra algo fundamental para o futuro de qualquer boiadeiro do mundo, que se converte na hora da qualidade do bezerros ou a carne, no ponto mais crítico e não tem outro nome que “pastos e projetos de reservas forrageiras de alta qualidade, produzidas no estabelecimento”.
Esta é minha opinão.
Um abraço
Ricardo
Ótima matéria, Miguel. Como um americano morando há 11 anos no Brasil, a maioria em MT no Xingu, cheguei a conclusão que não adianta correr das críticas. Para manter seu espaço no mercado, os produtores deveriam ser pro-ativos e enfrentar as críticas com um trabalho sério e duro no chão. Daí, ninguém podia reclamar porque o produtor brasileiro ia fazer coisas que ninguém no mundo estava fazendo.
Tem que usar a lei brasileira de reserva legal como uma bandeira verde. Agora, para usar isso como munição em marketing as leis tem que ser obedecidas; mais, para isso precisa de incentivos. O estrangeiro que quer salvar a Amazônia tem um poder muito grande para implementar seu desejo, o poder da compra. Só falta um sistema no Brasil que diferencie entre o produtor “produzindo certo” e ele que está agredindo o meio ambiente, dando uma opção para esse consumidor.
O produtor em MT que tem 50% de reserva legal, todos as APPs intactas, controle de erosão, fogo etc. está fazendo mais para o meio ambiente do que qualquer outro produtor do mundo. Fora de outras coisas, ele está “devolvendo” 50% do direito da propriedade, um custo alto. Para isso, ele merece pelo menos um acesso aos mercados.
Em vez de apanhar, Brasil podia virar um líder mundial na criação de condições para entrar no mercado, baseado em critérios realistas de boas práticas agrícolas (capricho) feitos aqui no Brasil que reconhecem as realidades da produção brasileira e não da Europa. Se fizer isso, a responsabilidade cairá nas costas do resto do mundo, até meu país, em seguir a liderança do Brasil. É sempre melhor estar na frente!
Caro Miguel,
Parabéns pela matéria e as perguntas sobre como nos aqui no Brasil devemos encarar a demanda cada vez mais abrangente e exigente no que diz o meio ambiente.
É muito estranho mais também sintomático que no Fórum de Lideranças Mundiais em Davos o aquecimento global e a preservação do meio ambiente tem destaques sem que o Brasil sequer é lembrado nem pelo próprio time do governo lá presente.
Precisamos arrumar a nossa casa com políticas claras e transparentes sobre como seguir na exploração da Amazônia, aplicar a nossa legislação e criar uma mentalidade de tolerância zero para infrações e infratores ambientais.
Nos temos que ter o Nosso selo de qualidade e boas práticas, cada indústria pode criar o seu roteiro e assim criar valor a produção brasileira.
Vamos pensar, discutir e escrever mais sobre este assunto tão bem lembrado por você.
Um abraço,
Louis
Sobre o comentário de Rubens Ernesto.
Concordo com você, e apenas para complementar, entendo que a sanidade e a rastreabilidade são assuntos de muita seriedade. O governo federal e os estados , devem investir e preparar toda a cadeia pecuária para enfrentar as barreiras, sanitárias e comerciais, que os países importadores apresentam.
Com relação às exigências da União Européia para diminuir o estresse de bois no transporte para que eles comprem nossa carne, penso que chega a um extremismo histérico.
Não basta o produto ser de alta qualidade?
Eu particularmente entendo que nossa carne é de excelente qualidade, nosso rebanho talvez tenha um dos melhores tratamentos do mundo, livre de anabolizantes, recebem vermífugos, vacinas contra aftosa, contra brucelose, tuberculose, etc, etc.
Temos um critério rigoroso no abate para detectar animais portadores de doenças que prejudiquem a saúde humana, e nem com tudo isso tem sido o bastante.
Tenho acompanhado as exigências e mais exigências da UE e a coisa não vai parar nunca.
A globalização não é tão simples de se enfrentar, pois os países mais ricos têm uma economia bem protegida, via de regra subsidiando o setor produtivo agropecuário e nós com todas as dificuldades enfrentadas e sem subsídios, temos preço e escala para colocar a carne no mercado internacional com preços muito competitivos.
Acho ridículo a exigência de rastrear caminhão de boi, o que isso vai influir na qualidade da carne? Logo vão exigir que se dê anestesia geral na hora de abater os animais, para não estressá-los.
Onde vai acabar tudo isto? Ou nós tenhamos consciência daquilo que é necessária como qualidade de carne para consumo ou vamos viver eternamente correndo atrás do supérfluo para agradar a vaidade de alguns em seu desvario.
Sou produtor, e não palhaço.
Miguel, parabéns e obrigado pelo artigo.
As cartas dos leitores já abrangem quase tudo.
Gostaria de citar apenas uma frase que li a tempos aqui mesmo no BeefPoint. “A definição de insanidade é fazer sempre a mesma coisa e esperar um resultado diferente”, Albert Einstein.
Esse editorial foi muito comentado, gostaria de reforçar o que disse o Antonio Pereira Lima, fazer como a galinha, cantar depois de botar o ovo, porque apesar de algumas incontestáveis mazelas, temos um diferencial enorme no mundo que não pode ser igualado por ninguém, e as mazelas podem ser corrigidas por nós mesmos.
Essa dita divulgação cabe às lideranças da iniciativa privada, como CNA, federações etc.. bem como ao ministério da Agricultura, sempre reforçando a idéia de que possíveis ganhos de valor do produto, devem ser urgentemente repassados à base da pirâmide que é a produção pecuária que está com a rentabilidade no vermelho; e não mais a indústria exportadora que nunca ganhou tanto como ultimamente!
Abraços a todos, e parabéns a todos os comentários!
Esse realmente repercutiu, gostaria de ver debates como esse surgir efeitos em nível Nacional!
É interessante notar como o mundo todo começa – paradoxalmente e, inesperadamente, antes da água bater na bunda – a se preocupar com questões ambientais e exigir coerência nos atos do homem em relação ao meio.
Mais interessante é fato que essa mudança não começou das bases produtivas ou de medidas governamentais: ao menos no terceiro mundo, estamos sendo forçados a enquadrar a produção em severas legislações ecológicas para suprir um mercado consumidor (especialmente o europeu, como já citado) exigente e, teoricamente, preocupado com a devastação humana pelo globo. A mudança, enfim, começa pela informação que tanto é divulgada no dia-a-dia.
Junto com essa tendência chega também uma nova visão humana para com seus conterrâneos no planeta terra, os animais. População e governos do exterior exigem, como falado aqui, bons tratos aos animais. As coisas estão realmente diferentes.
No caso do Brasil, é realmente uma questão de adaptar-se ao meio. Talvez não seja uma tarefa tão complicada para o país que é conhecido mundialmente por sempre utilizar-se de seu “jeitinho” nacional. Isso aliado à propaganda massiva é garantia de renovação e melhoria na crise da agropecuária.
Abraços e sucesso!
Simplesmente o Sr John Cain Carter resume o fato mais realista! Depois de se adaptar e obedecer a toda a legislação interna, LAU etc, só para resumir, já estamos aqui mesmo nos obrigando a estar adequados ao máximo no que diz respeito a exigências ambientais. E quem gosta e quer produzir e não dilapidar obedece e respeita o que se exige dele.
Só faltava essa… ter que agir segundo protocolos estrangeiros para que os supermercados de lá possam fazer propaganda, lucrar em cima do produtor brasileiro, que já está prensado na morsa por todos os lados.
Ótimo que nossas indústrias estejam cada vez mais fortalecidas, pois assim poderão dar conta do recado de processar todo o potencial produtivo e alta qualidade das boiadas zebu, cuja carne nada mais é do que a energia solar transformando-se em proteína essencial para o ser humano pelo vigor exuberante de nossas invernadas.
Que selo Eurep o que!! Precisamos é vender sob o selo BrazilTropicalNaturalMapaGap!
Caro Miguel;
Muito oportuno seu artigo,levantando problemas reais. Excelentes também os comentários dos produtores, com destaque especial para Sr John C Carter e para meu “xará” Luiz Villela, que não tive o prazer de conhecer.
Sim, Brazil Tropical Natural Gap, mas deixando o MAPA de fora, que não merece confiança. Somente faz bem o jogo dos exportadores, alardeando focos inexistentes de aftosa.
Se prestarmos atenção à mídia, recentemente tem explodido assuntos sobre o meio ambiente. Esse relatório desenvolvido pela ONU, seguindo a sua linha de raciocínio Miguel, tende a colocar mais “lenha na fogueira”.
Entretanto devemos lembrar que a rastreabilidade já esta criando grande discussão na rede e também é uma exigência da UE, se estamos enfrentando problemas com o Sisbov, imaginem como será para o Eurepgap.
Mas não devemos parar, o Brasil, sem contar a Amazônia, ainda tem muito espaço para onde podemos correr. Relatórios feitos por pesquisadores brasileiros, sobre o clima no Brasil, não são tão pessimistas, podemos e vamos contornar essa situação e tornar o Brasil livre de qualquer barreira que tentem nos impor. Pois, assim como já ouvi de alguém, o meio ambiente será nossa próxima barreira não tarifária. Excelente artigo Miguel e até mais.
O tema do editorial é muito interessante Miguel e eu concordo plenamente contigo que “a produção certificada estará à frente dos produtos não certificados”. Vale salientar que assumi esta posição no início da crise da BSE na UE e com a colaboração de competente veterinária do setor privado e do MAPA conseguimos aprovar a menção: “Brazilian Beef” junto à Comissão Européia. Deveríamos continuar investindo para conseguir aprovar, igualmente, a menção “Brazilian Natural Beef”.
Tenho tendência também em concordar com o provérbio sueco que você utilizou ironicamente para concluir o teu editorial: “There is no bad weather, just bad clothing”. Devo, contudo, salientar que a discussão técnica sobre a “produção orgânica” passou a ser quase que ideológica e assim “if you think you can make the planet better by choosing organics, think again. You might make it worse”.
A discussão sobre o tema é fundamental embora a decisão positiva ou negativa sobre os investimentos a serem alocados neste setor, ao meu ver, serão adotados em função do mercado e assim caso os consumidores queiram realmente decidir por um planeta com menos pesticidas, menos fertilizantes e águas menos poluídas deverão utilizar sua arma principal que é o voto no dia da eleição uma vez que alguns políticos já entenderam o recado e já adotaram a bandeira do desenvolvimento sustentável, alguns até demagogicamente. Até que se tenha uma melhor compreensão dos fatos que sejam bem-vindos os projetos com preocupações ambientais (mencionei este ponto no “food for thought” da minha entrevista ao BeefPoint).
Vale lembrar que o Brasil receberá várias missões de inspeção do FVO neste semestre e a minha preocupação maior é com o setor de oleaginosas. Espero que a Abiove, a Anec e o MAPA estejam conscientes da seriedade da próxima missão do FVO com vistas a evitar barreiras à exportação de farelo de soja similares as que afetaram recentemente o setor de apicultura e no passado não muito distante o setor de carne de frangos com o contencioso de nitrofuranos.
No que se refere aos produtores e exportadores de biodiesel e álcool a anexa foto sobre “Food or Fuels” representa hoje uma preocupação do Partido Verde na Europa. Independentemente da ideologia do Partido valeria a pena incluir hoje este tema pelo menos no teu próximo editorial com vistas a estimular discussão sobre o assunto que irá afetar o setor de carnes também.
Termino meu comentário com a reflexão que me foi mencionada recentemente por Lester Brown – “A century ago, annual growth in the world economy was measured in billion of dollars. Today is measured in trillions. As a result, we are consuming renewable resources faster than they can regenerate. Sustaining progress now depends on replacing the fossil fuel-based, throwaway economy with a new economy, one powered by abundant sources of wind, solar energy, hydropower and biofuels.”
Grato Miguel !
Jogi Humberto Oshiai
Diretor
O´Connor and Company
Bruxelas – Bélgica
Produção Orgânica X Produção Convencional ou Food or Fuels?
Francamente, até quando sendo um país de tamanha capacidade de produção e também de consumo iremos nos curvar à aqueles que já estagnados populacionalmente ou em termos de capacidade de produção agrícola, querem nos enfiar goela a baixo o que ser o que fazer nos impondo barreiras sanito-tarifárias e agora também ecologicamente corretas ou subsidiariamente justa aos seus altos custos de produção, onde estão suas florestas? Onde estão os lucros que tem em nosso país com suas royalties? O que eles fazem pelo Brasil? Será que são os Neocolonizadores do século XXI?
O buraco é mais embaixo, o problema existe sim, devemos buscar sustentabilidade e boas práticas de produção, fortalecimento da indústria nacional ou de joint ventures Brasil/EUA, Brasil/Japão, Brasil/China, Brasil/NZ e Brasil/Qualquer País desde que uma relação realmente justa e descente, fortalecendo principalmente nossos mecanismos de comercialização fazendo a política da boa convivência e construindo uma avenida de “mão dupla”, onde está a sustentabilidade da justiça social e distribuição de renda nesta história toda?
Quanto mais nos taxarem mais vamos produzir e a cada vez mais a menores preços, vamos ver até quando o consumidor global está disposto a subsidiar a hipocrisia dos atuais “donos dos grandes mercados”.