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Para preservar JBS, holding deve vender ativos

A crescente expectativa de que a holding J&F terá de vender alguns de seus negócios para preservar a JBS, principal empresa de seu diversificado portfólio, colaborou para que as ações da maior companhia de proteínas animais do mundo registrasse forte alta ontem na B3. Com isso, os papéis recuperaram parte das perdas que se acumulavam desde quinta-feira, motivadas pelo teor das delações dos irmãos Batista, donos do conglomerado, e de outros executivos da J&F e da JBS.

Em boa medida graças à possibilidade de a J&F ganhar musculatura com a aceleração da venda de empresas que já estavam na vitrine, como Vigor, Eldorado (papel e celulose) e Flora (higiene e limpeza), e mesmo de negociar companhias para as quais ainda não tinha esses planos, como Alpargatas, as ações da JBS subiram 9,53% ontem na B3.

Essa alta, também sustentada pela oportunidade criada pelo baixo patamar de preço, dados os tombos das sessões anteriores, fez o valor de mercado da empresa subir para R$ 17,9 bilhões, R$ 1,4 bilhão a mais que na véspera mas ainda R$ 8 bilhões a menos que o registrado na quarta-feira.

Executivos das empresas controladas pela J&F tiveram mais reuniões internas e externas que o normal ontem e muitas delas serviram para “medir a liquidez”, mesmo que informalmente, de suas empregadoras. Fontes também disseram que há diversos bancos interessados em participar de eventuais vendas de ativos da holding – e que esses ativos podem ser da própria JBS, uma gigante com receita de R$ 170 bilhões, a maior parte obtida em outros países, como Estados Unidos e Austrália.

No início da noite, a Alpargatas divulgou um comunicado que certamente terá peso no tabuleiro: à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), o conselho de administração da empresa informou que aprovou o cancelamento do processo de migração da Alpargatas para o Novo Mercado (nível de mais elevada governança corporativa da B3), e também que Vicente Trius, Joesley Batista e Eliseo Santiago Perez Fernandes haviam renunciado a seus assentos no conselho.

Fontes a par do assunto dizem que, entre todos os ativos da J&F, a Alpargatas – com vendas de mais de R$ 4 bilhões ao ano – é o que tem maior liquidez, por conta da força e da complementaridade de suas marcas, entre as quais Havaianas, Dupe, Mizuno e Osklen. Além da liquidez, a empresa opera no azul. Mesmo com a crise no consumo doméstico, seu lucro líquido cresceu 62% no primeiro trimestre, para quase R$ 180 milhões.

Outro negócio que a J&F já vem tentando vender há meses é a Vigor, dona de marcas de lácteos líderes no varejo e de uma participação de 50% na mineira Itambé, outra empresa com produtos de grande penetração. A empresa negociava desde janeiro com a multinacional Pepsico, mas as conversas esfriaram pois não houve consenso sobre o valor da transação. Segundo fontes do setor, a Pepsico chegou a oferecer pagar cerca de R$ 6 bilhões, o equivalente a um ano de faturamento da Vigor. Mas a J&F queria receber mais.

À época, já se dizia no mercado que a J&F estaria buscando vender ativos como forma de se preparar para um eventual pagamento de multas diante das investigações que já se avolumavam contra a JBS. As multas ainda não vieram, mas o acordo de leniência que vem sendo negociado pela empresa com o Ministério Público poderá custar aos cofres da companhia de carnes até R$ 11 bilhões, ainda que ela tenha oferecido inicialmente R$ 1 bilhão.

No caso da Eldorado, os rumores de que a empresa poderia ser passada para frente circulam desde a Shanghai Pulp Week, evento internacional realizado em março na China. Mas neste momento, a complicada relação entre a J&F e representantes dos fundos Petros e Funcef, que já era investigada pela Operação Greenfield e foi realçada pela delação premiada de Joesley Batista, não só dificultaria a compra da participação desses fundos pela J&F, como foi aventado, ou quaisquer outros negócios. Na terça-feira, a Fitch Ratings rebaixou a nota da companhia para “B”, em parte por conta de suas dívidas de curto prazo, de R$ 2,4 bilhões.

O comando da Flora, dona de marcas como Albany, Francis, Neutrox e Hydratta, esteve em contato com a grupos nacionais do setor de higiene e beleza há pouco mais de um ano para a  venda da empresa, mas as negociações não avançaram. Entre os impedimentos, estariam a complexidade da estrutura fabril e o fato de seus números não serem auditados.

Para o Banco Original, finalmente, o desfecho poderá ser definido pelo Banco Central, já que, segundo fontes do mercado, o BC poderá forçar a venda da instituição diante do abalo em sua credibilidade.

Fonte: Valor Econômico, adaptada pela Equipe BeefPoint.

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