Para quem os sinos vão tocar

No ano de 2007 assistimos a abertura de capital de vários frigoríficos, de maior porte na BOVESPA - Bolsa de Valores de São Paulo e também a ousada compra pelos frigoríficos de empresas similares no exterior, que assim colocam as indústrias brasileiras no topo do mundo. Não deve levar muito tempo até que estas industrias dominem os negócios de carnes e proteínas animais no mundo inteiro. Esta impressionante decolagem das indústrias, foi em grande parte possível porque a pecuária brasileira deu a sustentação através sistemas de produção que exigem cada vez mais profissionalismo dos pecuaristas. Hoje o poder total está nas mãos das indústrias. Não seria muito melhor fazer as coisas certas em vez de criar um pântano de desvios, atoleiros e poços sem fundo onde na realidade ninguém mais sabe direito onde está pisando ou afundando?

No ano de 2007 assistimos a abertura de capital de vários frigoríficos, de maior porte na BOVESPA – Bolsa de Valores de São Paulo e também a ousada compra pelos frigoríficos de empresas similares no exterior, que assim colocam as indústrias brasileiras no topo do mundo. Não deve levar muito tempo até que estas industrias dominem os negócios de carnes e proteínas animais no mundo inteiro.

Esta impressionante decolagem das indústrias, foi em grande parte possível porque a pecuária brasileira deu a sustentação através sistemas de produção que exigem cada vez mais profissionalismo dos pecuaristas.

O amparo financeiro tem tido uma participação significativa do BNDES e aí o governo e a classe produtora perderam uma grande oportunidade de condicionar os empréstimos aos avanços decisivos nos assuntos de classificação de carcaça, da rastreabilidade e do controle sanitário, nos moldes do antigo Fundepec; faltou liderança e visão, e o custo disto já é e será altíssimo.

As indústrias frigorificas ampliaram as suas bases em vários estados e países, entraram em novos mercados e se armaram com planos B+C para contornar embargos, o resultado prático parece ser que o embargo só existe no papel, porém ainda tem um componente de custos indesejável fazendo com que todo mundo continue a não conseguir uma situação de verdadeiro ganha-ganha, apesar de ter contornado o efeito nefasto que um embargo que realmente estaria funcionando teria.

Agora, por causa de coisas mal feitas aqui no Brasil, temos a situação grotesca onde a União Européia apresenta um plano para a pecuária brasileira de exportação, onde fazendas serão habilitadas e controladas pelo governo brasileiro. E me parece, que assim é assegurado que vamos atolar em um verdadeiro pântano de burocracia e possível corrupção e mais uma vez as industrias não aparecem neste processo.

Tem se apresentado muita critica, mas infelizmente poucas soluções sobre o papel de cada elo da cadeia de carne bovina e como devemos cumprir e enfrentar juntos as exigências legítimas dos consumidores finais dentro e fora do País.

Hoje o poder total está nas mãos das indústrias, alguns produtores acham que conseguem milagres com negociação, driblando até o rastreamento, mas no meu entender são justamente aqueles que são os amparadores do “status quo”, porque as indústrias tem como lema e plano de ação a divisão máxima dos produtores; que é um paraíso para os Gersons da vida, mas pode ser também a ida para o inferno para quem leva a coisa à sério.

Com o poder, mas sem o ônus de responsabilidade e com a criatividade de enrolar e embrulhar qualquer possível obstáculo que pode atrapalhar, as indústrias seguem na rota que parece ser o ideal no momento. Onde, atualmente, somente um surto de aftosa ou uma outra doença pode causar danos significantes, no resto se dá um jeito.

A importância e o peso dos fornecedores de gado no Brasil fica a cada dia que passa menor, porque as indústrias estão globalizando os fornecedores, produtos e clientes e com certeza os frigoríficos já estão com tudo pronto para escolher a dedo quem vai ter a preferência e melhores preços para o fornecimento de gado, matéria prima para a exportação e/ou nichos do mercado. E com certeza serão os produtores de primeira linha com gado de excelente qualidade, rastreado e dentro das regiões reconhecidas como livre de aftosa com ou sem vacinação.

É muito preocupante como a União Européia consegue transformar assuntos técnicos em eventos políticos e usar pesos e medidas diferentes em cada caso e, no meu ver, o mais grave é que na prática não está zelando pelos verdadeiros interesses dos consumidores finais europeus.

Nenhum profissional honesto pode preferir carne bovina produzida nos países da UE onde, ainda aparentemente, existem casos isolados de vaca louca e sistemas de produção infinitamente piores, em termos de bem estar animal, quando comparados com os que temos e praticamos aqui no Brasil.

O pessoal dentro das torres de marfim em Bruxelas simplesmente está ignorando os benefícios de um custo de produção baixo e um valor bio-nutricional altíssimo da carne brasileira e de fato está limitando, pelo menos no papel, a sua entrada na União Européia.

Não seria muito melhor aceitar as garantias mínimas de qualidade, rastreabilidade e da segurança alimentar (incluindo aqui o controle sanitário e a sanidade animal ) que a cadeia produtiva junto com o governo podem dar?

Não seria melhor ter uma cadeia inteira trabalhando com prazer e satisfação em vez de criar regras estúpidas, caras e totalmente contraproducentes em termos de resultados positivos para cada elo da cadeia?

Não seria muito melhor fazer as coisas certas em vez de criar um pântano de desvios, atoleiros e poços sem fundo onde na realidade ninguém mais sabe direito onde está pisando ou afundando?

Os sinos estão tocando para quem quer, ou não? Eis a questão.

0 Comments

  1. Humberto de Freitas Tavares disse:

    O trace-back com uso da GTA, nota fiscal, marca do criador a fogo e declaração de que não usou hormônios e outras substâncias proibidas no lote é, sempre foi e sempre será, junto com um competente Serviço de Inspeção Federal (que já existe), a melhor garantia possível de sanidade da carne bovina brasileira.

    Estamos pagando um preço muito caro para encobrir o erro dos “inventores” do Sisbov, a maioria já aposentada. Chega de prepotência, chega de nos atrapalhar!

  2. Hildebrando de Campos Bicudo disse:

    O monopólio dos grandes grupos no Brasil, já é um escândalo, tanto dos grandes frigoríficos exportadores, como dos produtores de insumos e matéria prima para uso animal.

    A recente e absurda alta de preços do sal mineralizado, cuja matéria prima é o fosfato bicalcico nacional, hoje na mão da multinacional Bunge Fertilizantes é um exemplo.

    A carta da Serrana Nutrição Animal, tentando explicar o inexplicável é uma prova contundente disso. Principalmente quando diz em seu último parágrafo, como uma das razões da elevação dos preços “Aumento da produção de rações e suplementos minerais, por conta da valorização do leite e carnes de um modo geral”

    É o fim, onde está o CADE?

  3. Cassio Bueno Rodrigues disse:

    Estamos a disposição, assim deveria ser com os profissionais técnicos em agropecuária, pois quando vi sábios agrônomos, veterinários ,técnicos baterem por anos numa mesma tecla, ficaram financeiramente para traz e eles tinham razão. Pois esta celeuma toda para ver vaca produzir e boi engordar? O que é isso?Somos sempre capazes, mas infantis engatinhando.

    Sempre defendi a adotação da estrutura de empresa, com portaria até o cafezinho, nas fazendas e sitios, ora se não há como se saber se tem mosquicida para fazer o trabalho, como gerenciar uma produção de gado de corte.

    Eu acho que todos, tem que ter o seu levantamento técnico contábil, para saber onde se come mais ou menos na propriedade rural, mas SISBOV, Holding, Trade, para um Brasil que pensa mil vezes em reformar uma cerca, é fugir da realidade.

    Então penso que se o governo e a iniciativa privada querem fazer bonito com o chapéu do que leva a sério e vive disso, deixe de criar caso, para ganhar ano e depois pressionar dizendo, eles vem ai e querem ver o que estamos fazendo. No campo neste exato momento está se trabalhando e na urbanizada sala de reuniões?

    Entre os produtores existem pessoas capazes de fazer um trabalho muito bom na sua propriedade, que pode deixar de ser própria e ser social, sem o mercado que promove fábulas de programas para gerenciar uma fazenda ou sitio.

    Lembram-se que está provado “Quem come arroz, feijão e carne não morre” ou seja, façamos sem reinventar a roda que dá certo.

    E aos Europeus aviso por experiência “No meu Brasil só morre quem não come carne, pois quem come tá jogando bola, nadando, fazendo política, se preparando para pular carnaval”.

  4. Aurélio de Andrade Mendonça disse:

    As colocações do Sr.Louis Pascal De Geer são totalmente procedentes e mostram com muita clareza a insignificância dos produtores dentro da cadeia produtiva com relação aos outros elos da mesma.

    O MAPA empurrou goela abaixo dos produtores um SISBOV utópico, onde somente os nobres europeus podem acreditar que em num país subdesenvolvido como o nosso seria possível a total implantação do sistema num tempo tão exíguo.

    Estamos agora com uma faca no pescoço, nas mãos de um governo incompetente que tem a “obrigação” (imposta pela UE), de dizer qual o produtor que é apto ou não a exportar carne de qualidade para os “NOBRES”.

  5. Louis Pascal de Geer disse:

    Prezado Humberto de Freitas Tavares,

    Muito obrigado pela a sua carta e em primeiro lugar quero-lho parbenizar pela coragem de escrever o artigo “Porque não vou aderir ao novo Sisbov” e o recorde de comentários dos leitores mostrou como é dolorido este assunto, no momento.

    Eu sempre fui um defensor do mérito do antigo SisBov, porém também defendi o uso do safety-net de garantias mínimas que foram descritas em sua carta.

    Tenho a certeza que a indentificação individual dos bovinos tem um grande futuro e que no médio e longo prazo a pecuária brasileira pode ser altamente beneficiada, quando os dados puderem ser usados em programas de melhoramento genético e segurança alimentar.

    O custo deve ser amplamente compensado, e de fato, deve gerar um lucro significativo para o produtor e os demais elos da cadeia.

    Não acredito que tenha tido má fé dos “inventores” do SisBov, mas infelizmente o assunto foi manipulado desde o primeiro dia pelas certificadoras, frigoríficos, importadores e produtores e sem dúvida não foi nenhum destes produtores quem pagaram a conta.

    Um abraço,
    Louis.

  6. Louis Pascal de Geer disse:

    Prezado Hildebrando de Campos Bicudo,

    Muito obrigado pela a sua carta e concordo plenamente com a sua preocupação com a concentração de poder em poucas grandes empresas e grupos que dominam os mercados de insumos, grãos, carne, cana etc.

    Realmente o CADE faz jus ao seu nome CADÊ?.

    Um resposta podia ser o cooperativismo e outras alianças de produtores. O que mais irrita é a prepotencia de estabelecer os preços de acordo com a performance do mercado, tipo se alguém está ganhando quero também aumentar os meus preços sem qualquer tipo de trabalho a mais e sem correr os riscos que os produtores agricolas estão correndo; realmente escandaloso.

    Um abraço,
    Louis.

  7. Louis Pascal de Geer disse:

    Prezado Cassio Bueno Rodrigues,

    Muito obrigado pela a sua carta e você foi feliz em mencionar a necessidade de se ter uma estrutura empresarial nas fazendas e sitios. Também gostei muito do foco no consumidor final e é justamente com ele que temos responsabilidades.

    No meu entender o governo tem que discutir com a cadeia de carne bovina que tipo de garantias mínimas podem ser dadas aos consumidores finais lá fora, mas também aqui no Brasil, para depois de ter obtido um consenso sentar na mesa com os importadores, por exemplo, os representantes da União Européia.

    Estamos a disposição como você bem disse.

    Um abraço,
    Louis.

  8. Louis Pascal de Geer disse:

    Prezado Aurélio de Andrade Mendonça,

    Muito obrigado pela a sua carta, infelizmente os produtores em grande parte se deixaram abusar e isto também occorre entre eles como por exemplo, os criadores que durante anos venderam bezerros ao preço de banana.

    Com relação ao SisBov; sempre defendi o antigo mas o tempo de implantação deveria ter sido aumentado na medida do necessário.

    Agora é reagrupar, fazer a nossa lição de casa.

    Um abraço,
    Louis.

  9. Josmar Almeida Junior disse:

    “Ainda dá tempo para tocar os nossos sinos”

    Bom Dia Louis,

    Parabêns pela sinceras e precisas palavras.

    Acredito que diante de todo o cenário, ainda podemos realizar tal feito.

    Deixando de lado a esquecida política do ganha-ganha no período de capitalização da indústria, saliento que:

    – a indústria agregou valor aos seus produtos.

    – a indútria atendeu os requisitos de qualidade de processos exigidos.

    – algumas indústrias propuseram premiações de carcaças, não querendo debater se ilusórios ou não.

    – tornou-se mais transparente ao mercado.

    – houve maior profissionalização de seus executivos.

    – e não há como negar que diante este quadro, elas souberam “dropar” a onda da exportação, me excluindo também do aporte financeiro para tal feito.

    E agora, mesmo depois de todas estas conquistas, parece-me que estão enfrentando escassez de matéria prima.

    Digo “parece-me”, porque não quero mesmo que nenhuma quebre, pois com certeza as consequências seriam ruins, e preciso manter meu ganha pão.

    Acredito que o próximo passo será a conquista da qualidade de produto, é neste momento que temos que tocar os nossos sinos.

    Não podemos deixar que a indústria adentre nossas porteiras determinando a qualidade de nossos produtos.

    Não entendam que não desejo produzir produto de qualidade. Mas a classe produtora deve se comprometer em produzir conforme a qualidade desejada, mas que seja ecomicamente viável, e independente.

    Exemplos disto já possuímos em outros segmentos pecuários.

    Não podemos perder esta enorme vantagem comercial.

    O duro é que nossos sinos são mais pesados e numerosos, e a sinfonia vai ser mais difícil de afinar. Mas com certeza temos o fundamental, que são as produtores e profissionais que estão envolvidos na cadeia, é so começarmos a ensaiar.

    Abraços.

    Josmar Almeida Junior

  10. Louis Pascal de Geer disse:

    Prezado Josmar Almeida Junior,

    Muito obrigado pela a sua carta e grito de independência como produtor.

    Os sinos são usados em comemorações, convites para reuniões e eventos na igreja ou na praça e como alertas e sinais de perigo.

    Cada vez mais é o consumidor final que determina as qualidades do produto e as indústrias respondem com exigências de qualidade na matéria prima que compram.

    Não é bem entrar na fazenda e determinar a qualidade de nossos produtos, mas é assegurar que os produtos se enquadrem no que as indústrias querem, precisam e pagando pelo que querem.

    a escassez da matéria existe porque a cadeia ainda não está afinada como você bem disse.

    Um abraço,
    Louis.

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