A desvalorização do dólar frente ao Real leva o setor do agronegócio – até agora o grande responsável pela manutenção e avanço do bom desempenho da balança comercial nos últimos anos – a ficar de sobreaviso.
O agronegócio como um todo sofre com a atual política econômica do Governo Federal, debilitando, em especial, culturas como a soja, o milho e o algodão, que contam com margens estreitas de lucro, tendo em vista a depressão dos preços destas commodities no mercado internacional.
Outro importante fator limitador para o crescimento da economia brasileira é a falta de investimentos públicos que contribui para o agravamento da crise do setor exportador. A falta de verbas paralisa importantes programas Federais em todas as esferas da economia brasileira.
No mínimo intrigante verificar que – com o argumento de se reduzir a dívida pública – o Governo gasta por dia, com o pagamento de juros de suas dívidas mais do que o investido de janeiro a maio deste ano. Dos R$ 21.624 bilhões previstos no Orçamento-Geral da União para investimentos, somente 1,25%, ou seja, R$ 271 milhões foram utilizados. Já, com o pagamento de juros, a média diária de desembolso alcança o montante de R$ 296 milhões.
Reflito, analiso e chego à conclusão que devo parar e começar a fantasiar. O que leva o Ministério da Fazenda a tresvariar na busca pelo controle da inflação, tendo como instrumento básico os constantes aumentos das taxas de juros oficiais.
É evidente que o controle da inflação – iniciado em 1993 com a implantação do Plano Real – se justifica em termos, mas tem limites. A inflação deve ser combatida com todos os instrumentos econômicos possíveis quando acarreta sérias distorções econômicas. Vale ressaltar, nesse sentido, que os preços administrados são responsáveis por um terço da inflação verificada no País.
No entanto, o que deve ser esclarecido é que o Governo está se enredando em uma bola de neve em que, ao aumentar a taxa de juros, o custo de rolagem da dívida interna aumenta, pressionando o déficit público e, por conseqüência, a própria dívida interna, em níveis Federal, Estadual e Municipal.
Depreende-se daí a falta de investimentos no País. Ao se deparar com o aumento do déficit público, o Governo desvia verbas destinadas para outras finalidades para pagar o serviço da dívida. Manter a política de juros altos reduz, sobremaneira, o nível de investimentos, tanto públicos como privados na economia.
Já há um claro sinal de desaquecimento da economia. A população brasileira não pode fechar os olhos para todo este quadro que aí está. Faz-se de todo importante reavaliar a condução da economia brasileira com vistas a dar novo ânimo aos exportadores que, conseqüentemente, aumentam os níveis de emprego, arrecadação e investimentos.
Finalmente, o Brasil deve enaltecer boa parcela do seu empresariado pela mudança de cultura de gestão empresarial.
Em que pese os prejuízos financeiros decorrentes de todo o processo econômico a que estão submetidos, os que estão envolvidos na atividade exportadora entenderam que – mesmo no limite da sua capacidade – as exportações devem ser mantidas. Preservar os clientes no exterior é fator condicionante para a manutenção, a longo prazo, da credibilidade do País.
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Intrigante mesmo, é o dolar caindo como está, e as exportações subindo como estão, isso quer dizer mais dólar no bolso da indústria.
Ainda bem que tudo isso é repassado para o pecuarista (paradoxo da pecuária brasileira).
Obrigado pelo comentário acerca do meu último artigo.
Gostaria, entretanto, de lhe esclarecer que, mesmo com o dólar caindo, realmente as exportações continuam em ritmos ainda considerados bons.
No entanto, o senhor deve se atentar para o fato de que, como disse, já há uma clara desaceleração das exportações e indústrias cancelando contratos, fechando e demitindo funcionários.
Os principais afetados, no momento, são os setores de calçados, têxteis e equipamentos agrícolas. As exportações que ainda se mantém são aquelas em que os contratos foram fechados no ano passado com o dólar favorável e foram hediados.
Assim que esses contratos vencerem, o senhor verificará uma queda brutal nas exportações de todos os setores exportadores brasileiros: agrícola, industrial e etc. Todos.
Não podemos analisar as exportações com contratos firmados no passado, temos que olhar para o futuro que já é presente. A maioria dos contratos vence agora no segundo trimestre deste ano.
Otávio Hermont Cançado
ABIEC
São Paulo – São Paulo
“Em maio, pela primeira vez, o volume superou as 200 mil toneladas em equivalente carcaça. Em receita, alcançou US$ 288 milhões. Sobre maio de 2004, crescimento foi de 48,88% em volume e 44,82% em receita.
Nem o dólar desvalorizado e nem a suspensão de vendas para os Estados Unidos impediram a explosão das exportações de carne bovina em maio. O mês registrou dois recordes, um em volume e outro em receita, segundo a Secretaria da Produção e Agroenergia do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
Pela primeira vez, o volume superou a marca de 200 mil toneladas em equivalente-carcaça, fechando em 216.112 toneladas.”
Fernando Yassu – Revista DBO
Mas como eu disse, fico tranqüilo porque todos esses aumentos e ganhos estão sendo repassados para o pecuarista.
Paradoxo da pecuária.
Desculpa Otávio,
Mas até seu Presidente concorda que a queda do dólar não está afetando as exportações, pena que essa semana eu estou vendendo minha arroba R$ 2,00 a menos que semana passada e R$ 6,00 a menos que março.
Eu acredito na lei da oferta e procura, mas cuidado para a indústria não matar seu fornecedor de matéria prima.
Segue notícia abaixo.
Câmbio não afeta venda de carnes ao exterior
As exportações brasileiras de carne bovina não estão sendo afetadas pela desvalorização cambial que atinge diversos setores da economia brasileira. A previsão é de manutenção do crescimento no segundo semestre.
Segundo o presidente da Abiec, Marcus Vinícius Pratini de Moraes, a entrada em mercados mais capitalizados e a maior valorização obtida com o aumento da venda de cortes nobres têm sustentado os negócios. No acumulado até maio deste ano, os embarques renderam ao Brasil receita de 1,15 bilhão de dólares, 29,5% a mais que no mesmo período de 2004.
No acumulado desde junho de 2004, as exportações somam 2,8 bilhões de dólares. A Rússia, destino de 20% dos embarques é citada como exemplo.
Segundo dados da Abiec, o preço da tonelada vendida para os russos subiu entre 6% e 12% desde março. “O desafio maior para 2005 não é aumentar o volume exportado, mas obter maior valor agregado, que gere renda, crie empregos e traga dólares para o país”, ressaltou.
A estratégia da Abiec inclui ações de marketing no exterior. No segundo semestre haverá divulgação na Bulgária, Austrália e Alemanha. Atualmente, o Brasil exporta a 153 países.
Fonte: Correio do Povo/RS, adaptado por Equipe BeefPoint