Em resposta à proibição de importações e trânsito de produtos agropecuários paraguaios determinada pelo Serviço Nacional de Sanidade e Qualidade Agroalimentar (Senasa) da Argentina devido à suspeita de surgimento de febre aftosa em um estabelecimento pecuário localizado no nordeste do país vizinho, em uma área de fronteira com o Brasil, o Ministério da Agricultura e Pecuária do Paraguai resolveu, por sua vez, impedir a importação de produtos argentinos “até novo aviso”.
Como conseqüência disso, a atividade na fronteira entre a Argentina e o Paraguai é totalmente nula, já que o Senasa, com o apoio de efetivos do Corpo de Soldados Nacional e Prefeitura Naval, não deixa entrar nenhum tipo de alimento, bem como revisa e desinfecta equipamentos, passageiros e objetos nos diferentes pontos limítrofes com o Paraguai, de Posadas a Iguazú. Situações similares são registradas nas quatro províncias (Chaco, Corrientes, Formosa e Salta), onde também está em vigência um “alerta sanitário” estabelecido pelo Senasa.
“Preventiva e transitória”
O embaixador argentino em Asunción, Félix Córdova Moyano, reiterou que a medida do governo argentino tem um “caráter transitório e preventivo” até que se conheça o resultado dos exames de sangue extraído dos animais da fazenda São Francisco, departamento de Canindeyú, remetido ao Centro Panamericano de Febre Aftosa (Panaftosa), que funciona no Rio de Janeiro.
Moyano disse que está sendo buscada uma cooperação conjunta para evitar males maiores. “Quando tivemos o problema de aftosa, a Argentina abriu suas portas a todos os técnicos que vieram examinar o estado de nossos rebanhos, foram feitas as vacinações e atuamos com total transparência, entendendo que esta é a única maneira de obter os objetivos que favoreçam a região”.
Porém, a imprensa e as autoridades do Paraguai estão falando em “boicote argentino-brasileiro”. O diário paraguaio “Última Hora” informa que, “apesar da Europa nos distinguir com a cota Hilton, dando um selo de qualidade internacional a nossas carnes, os vizinhos não param de nos perseguir. O Brasil praticamente fechou as fronteiras desde 25 de setembro e agora colocou em movimento seu aparato militar para impedir a entrada de qualquer tipo de produto agropecuário de origem paraguaia em uma zona muito permeável”.
“A pecuária eventualmente afetada está localizada em uma faixa de limites secos entre os departamentos de Canindeyú e Mato Grosso do Sul. Nesta região, em território paraguaio, teria cerca de 50 propriedades rurais nas mãos de proprietários brasileiros, onde se criam preferencialmente bovinos da raça Nelore. Os estabelecimentos são – de fato – binacionais porque os animais vão de um país a outro sem maiores controles; a maioria da população nesta região fala português”.
Sem efeitos negativos
“Não é olho por olho, dente por dente, mas é necessário que a Argentina sinta o dano ocasionado”, afirmou o ministro paraguaio da Agricultura e Pecuária, Darío Baumgarten, que assegurou que não há aftosa na região e ofereceu que fossem realizadas inspeções conjuntas. Apesar da importação de produtos argentinos estar proibida, serão respeitados os certificados fitossanitários concedidos anteriormente aos alimentos am trânsito até o Paraguai.
Baumgarten e o chanceler José Moreno Rufinelli se queixaram da resolução adotada pelo governo de Eduardo Duhalde, classificando como “apressada, unilateral e imprudente”. Eles se pronunciaram da mesma forma quando os brasileiros adotaram o mesmo critério, ante a eventual nova propagação de aftosa nos rebanhos que transitam pelos estados membros do Mercosul.
Fonte: La Nación (por César Sánchez Bonifato), adaptado por Equipe BeefPoint