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Parcerias pecuárias – I

Abordarei neste e próximos artigos o tema de parcerias pecuárias. Tentarei dar uma visão do que acontece na prática, entre produtores parceiros e os contratos de parceria mais freqüentemente utilizados.

Inicialmente precisamos qualificar os parceiros para que no contrato de parceria cada qual assuma seu papel:

parceiro proprietário ou capitalista: É o detentor do rebanho da parceria. Ele dá em parceria seu rebanho ou investe seu capital na aquisição do rebanho a ser dado em parceria.

parceiro produtor ou criador: É o responsável pela gestão do rebanho em propriedade agropecuária própria ou sob arrendamento.

Iniciarei meus artigos abordando parceria de cria. Neste seguimento da pecuária vamos abranger a bezerra, a novilha e a vaca reprodutora.

Neste artigo falarei sobre parceria com a bezerra. Muitas fazendas de cria utilizam a parceria para recriar as bezerras desmamadas até a primeira cria. Nesta modalidade, o parceiro proprietário dá ao parceiro criador, bezerras desmamadas para que este recrie e tire a primeira cria.

Nesta modalidade, o parceiro criador assume todas as despesas de custeio dos animais até a desmama de sua primeira cria.

O parceiro criador recebe todas as crias por sua parte na parceria.

O parceiro proprietário recebe novilhas primíparas, ou seja, as bezerras desmamadas, recriadas e com uma parição já concluída, por sua parte.

Esta modalidade é utilizada pelo parceiro proprietário, a fim de desocupar os pastos de sua propriedade de animais em recria, recebendo, posteriormente, animais para reposição de matrizes de descarte.

Por outro lado, o parceiro criador utiliza esta modalidade de parceria para aumentar seu rebanho, sem que necessite imobilizar capital para investimento em aquisição de rebanho.

Algumas cláusulas devem compor o contrato de parceria:

– Tempo de duração do contrato – necessário para parametrizar o desempenho do parceiro criador. Assim, de antemão, estipula-se quanto tempo deve durar a recria e quando o rebanho em parceria deve ser devolvido.

– Mortes – Estipular a porcentagem de mortes máxima que o parceiro proprietário aceita em seu rebanho como normal. Em certos contratos são estabelecidos entre os parceiros, valores aceitáveis de mortes. Normalmente estes devem ser comprovados através de laudos veterinários. Em outros casos, apenas é estipulado o percentual a ser subtraído na hora da devolução do rebanho.

– Reserva de Marca – Exigência do parceiro proprietário de que a devolução deva ser do mesmo rebanho entregue. A exigência da reserva da marca é utilizada nos casos em que o rebanho vem sendo selecionado pelo parceiro proprietário e ele não deseja perder todo este trabalho de seleção. Em alguns casos, não há a exigência da reserva da marca, o que dá liberdade ao parceiro criador de vender os animais entregues e repor com outros animais. O parceiro criador opta pela não reserva de marca para ter a possibilidade de descartar animais que durante a recria demonstraram baixa capacidade ou no enxerto não obtiveram confirmação de prenhez. Nestes casos, estes animais são trocados por outros da mesma categoria aumentando a eficiência do rebanho para os parceiros. Existe ainda o caso da parceria ser apenas contratual, onde o parceiro criador recebe o rebanho, transforma em moeda e devolve em rebanho após o término do contrato, não havendo a reserva de marca.

– Devolução das Fêmeas Enxertadas – Exigência do parceiro proprietário de que as novilhas primíparas devam estar enxertadas na devolução. Alguns contratos utilizam esta cláusula, obrigando o parceiro criador a utilizar reprodutores no rebanho após a parição para que na devolução o rebanho esteja enxertado. Existem várias combinações possíveis neste caso:

a) Os touros são entregues pelo parceiro proprietário para serem incorporados ao rebanho;
b) O parceiro proprietário realiza a inseminação do rebanho na propriedade do parceiro criador as sua custas;
c) O parceiro criador realiza a inseminação às suas custas e cobra do parceiro proprietário em moeda ou animais.

É sempre bom lembrar que para uma parceria dar certo é necessário que todos lucrem. A combinação deve sempre levar em conta a satisfação das partes envolvidas. Toda vez que um parceiro leva vantagem sobre o outro a parceria não perdura.

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