Bordões do tipo "Boi pra engordar não pode tomar vento na canela" já se incorporaram de tal modo no inconsciente coletivo que trabalhar com sobra excessiva virou quase uma obsessão para os pecuaristas.
Um dos maiores responsáveis pelos baixos índices produtivos em pecuária, tanto de leite como de corte, é o conceito equivocado de que é sempre desejável ter pasto alto.
Bordões do tipo “Boi pra engordar não pode tomar vento na canela” já se incorporaram de tal modo no inconsciente coletivo que trabalhar com sobra excessiva virou quase uma obsessão para os pecuaristas.
Até capins de excelente potencial como a braquiária humidícola passaram a ser execrados pela maioria porque quando chegam a cobrir a canela do boi já estão velhos e de péssima qualidade…
Não estou dizendo que não é necessário ter reserva de forragem, mesmo porque existem épocas nas quais os capins não crescem adequadamente e pode haver déficit de forragem, mas é preciso lembrar que não dá para guardar capim no pasto porque ele simplesmente perde valor nutritivo se não for consumido ou conservado.
Para manter o valor nutritivo produzido, há que se fazer pastejos em ciclos corretos ou guardar a forragem na forma de feno ou silagem, pois caso contrário, o mesmo pasto que gerou bons ganhos no início do período de crescimento, mesmo não deixando o vento bater na canela, não repetirá os mesmos índices no final da estação.
12 Comments
A crítica é boa. Mas, e a solução?
Trabalho com tifton 85 rotacionado, é impossível o vento não bater na canela.
Prezado Leitor,
A solução é procurar conhecer melhor os capins que existem na propriedade e manejá-los de acordo com o ritmo de crescimento, ou melhor, de envelhecimento de cada um.
Para a braquiária humidícola aproveitando o exemplo da fotografia, após 21 dias de descanso (mesmo depois de um pastejo severo), a qualidade do pasto já começa a cair bastante, porque as primeiras folhas emitidas ficam “velhas” e passam a exportar nutrientes para as folhas mais novas.
Então dizemos que o ciclo de pastejo dessa braquiária deve ser de três semanas…
Esse processo de envelhecimento (ou senescência) é dinâmico, ocorre em todos os capins e depende da arquitetura da forrageira, da época do ano, da fertilidade do solo, da adubação nitrogenada etc…
Por depender de tantos fatores, é muito difícil precisar o ciclo ideal sem conhecer o pasto. Por isso, o que está nos livros (35 dias para o Braquiarão, 30 dias para o mombaça e assim por diante) deve ser apenas uma referência.
Se você tiver por exemplo: 35 piquetes de mombaça e por estar em uma época mais favorável o capim estiver “envelhecendo” mais rapidamente, o ciclo deve ser alterado aproveitando os piquetes que “sobram” para serem ensilados ou fenados.
Esse ajuste pode não ser tão simples, mas bons profissionais poderão lhe auxiliar a não desperdiçar forragem, o que sem dúvida, trará sucesso econômico a sua atividade.
Atenciosamente
José Ultímio Junqueira Jr
Eng. Agrônomo MS Ciência Animal e Pastagens
Estou com braquiária ruziziensis numa área de pivô, extremamente fértil. Primeiramente, a implantação era somente para formação de palhada e diminuição de doenças na cultura de tomate rasteiro. Mas, após ingressar vacas leiteiras neste pasto, observei a potencialidade de produção que poderei obter.
Farei 10 divisões numa área de 40 ha. Pretendo engordar novilhas nesta área. Quantas U.A. suportará este capim? Qual período de descanso deste material? Que ganho de peso poderei obter somente com pastejo e sal mineralizado para novilhas (7 @)?
Resposta do autor
Parabéns Dickson pela escolha do capim !
Ainda que involuntariamente, você acertou na mosca! A ruziziensis, ou mesmo o capim mulato para quem ainda não tem grande experiência na área, consegue aliar produtividade e facilidade de manejo.
Depois de conhecer as potencialidades de um pivô com pastagens e principalmente a relação entre margem e risco desta atividade, acho que vai ser difícil você dessecar tudo e ficar sem irrigar pasto daqui para frente.
Como já mencionei anteriormente, o ciclo da forrageira depende de diversos fatores mas pelo que você descreve, trabalharia nessa situação com intervalos ao redor de 28 dias a 30 dias nesta época do ano para a ruziziensis, diminuindo para 25 ou 23 conforme as condições de aumento de umidade relativa acelerarem o ritmo de crescimento nos próximos meses na sua região.
O ideal seria trabalhar com cerca elétrica móvel que dá essa flexibilidade de manejo.
Ainda que a fertilidade seja alta, para manter uma lotação que dê resultado econômico, você vai precisar adubar com nitrogênio.
Apenas com sal mineralizado, é possível obter até 750g de ganho diário com essas novilhas, mas isso vai depender do manejo e da prioridade dos lotes. Se o capim e o manejo estiverem realmente bons, valerá a pena suplementar com outros ingredientes para maximizar esse ganho.
Atenciosamente,
José Ultímio Junqueira Jr
Caro José, muito boa sua matéria e oportuna suas sugestões. Trabalho c/ braquiárias…aqui no Cerrado do MS; realmente bem manejadas(lotação Ua); temos bons pastos o ano inteiro; o manejo de qualquer tipo de pastagens é um dos fatores determinante quanto ao bom pasto.
Cordialmente
Carlos Magno
Outro fator que considero importante é o tempo que os animais ficam no piquete. Observei que no verão, o capim mombaça começa a brotar à partir do 3º dia do pastejo. Se os animais permanecerem por mais tempo, começam a selecionar os brotos que estão nascendo, mais tenros, deixando de lado o capim mais maduro e mais endurecido. Isto aumenta a formação de touceiras.
Você disse:
“Não dá para guardar capim no pasto porque ele simplesmente perde valor nutritivo se não for consumido ou conservado”. Perfeito, só que é prática tradicional e corrente, principalmente devido à fabulosa B.decumbens, que se mantém mais palatável que outras espécies, embora com qualidade declinante. Quanto declinante? Na Faz. Mundo Novo, Brotas/SP, tivemos curiosidade de medir a PB: Jan.8%, Maio 6%, Set.4%, em valores arredondados. Será que a Embrapa-Gado de Corte, em Campo Grande já estudou qual o melhor capim para a seca? Se não o fez, já vai tarde…
A seguir algumas observações:
1-Aplicando uma sub-dose de glifosato no emborrachamento há uma paralisação metabólica e o capim não floresce. (O mesmo acontece com a cana). A qualidade perdura por mais tempo, o que é vantagem tanto para pastoreio como para fenação tardia quando param as chuvas.
2-O P.max.”Xaraés” tem um ciclo vegetativo cerca de 45 dias mais longo, mantendo-se com boa qualidade, enquanto o Marandú já floresceu e perdeu PB.
3- Os P.max. de haste mais fina, como o Makueni e o Aruana são mais bem aproveitados na seca do que os mais agressivos, formando reserva que o gado consegue ingerir. O mesmo acontece com a B.dyctioneura, cuja relação haste/folha é muito conveniente, mantendo-se palatável mesmo bem “passada”.
4- No NE me contaram que o gado espezinha as hastes de Andropogum alto e seco, moendo-as para então comer, matando a fome onde chove 600 mm/ano.
5- Pastoreando raso em Janeiro e adubando com 100 k/ha de N, obtêm-se uma reserva de brotação nova de melhor qualidade que o crescimento anterior da primavera e verão.
6- Quando semeadas no outono, seja em fevereiro, a maior parte das espécies mantêm-se verde na seca. Algumas delas crescem e não chegam a florescer, mantendo boa qualidade. As braquiárias semeadas na soja no inicio da queda das folhas, formam um pasto de engorda de ótima qualidade. Semeadas junto com o milho “safrinha” formam bom pasto de estoque pouco menor. Nestes casos a PB nada fica devendo ao feno ou silagem de capim, com um coquetel de vitaminas muito superior.
7- O pasto sombreado mantém-se mais palatável na seca. Na Faz. Mundo Novo-Uberaba/MG, cerrado ralo adubado indica excelente pasto durante a estiagem. É claro que com a insuperável B. decumbens, cuja densidade (touceiras/m²) e porte aumentam com os nutrientes!
Fazendo uma rápida varrição na memória, estes os fatos de que me lembro sobre o fundamental assunto da alimentação na seca. Espero que sejam úteis aos leitores (internautas?) do BeefPoint.
Grande abraço.
Concordo plenamente com o José, mas eu encaro o pasto como uma cultura e o boi é a colheitadeira.
A planta forrageira não respeita a cronologia e sim sua própria fenologia, o pecuarista tem que se tornar produtor de capim, tem que saber manejar o pastejo, ajustando a carga animal e a rotacionalidade de acordo com a estrutura dos solos, estação do ano e a disponibilidade de usar suplementações estratégicas para suprir deficiências nutricionais dos bovinos.
Capacitar mão de obra é fundamental para o sucesso do sistema a ser adotado.
Bastante interessante a matéria sobre a utilização correta da época a ser observada para rotacionar o gado na pastagem aproveitando melhor o seu potencial.
Considero muito arriscado estabelecer normas rígidas para o pastoreio rotacionado em função da gramínea, do solo e do tipo de gado, além é claro, da climatologia que se estabelce como primordial. Não há controle da pluviometria e sabemos que cada ano é diferente do outro.
Estes fatores são incalculáveis frente a um prognóstico, sendo importantes num diagnóstico de como foi o ano anterior. A seqüência dos anos nos dá as diretrizes para errarmos menos no próximo planejamento. Minha experiência é que as soluções tem que se basear no dia a dia. Sucesso a todos. Quero cumprimentar o BeefPoint por manter este “diálogo”. Parabéns.
Eng. Agr. Oscar Rodrigues Alves Filho
Dr. José!
Tenho uma média propriedade nos campos de cima da serra no RS, mais precisamente em São Francisco de Paula. Região de campos quebrados e pobres onde se queima muito campo nos meses de agosto e setembro. Estou evitando este meio através de uma subdivisão das invernadas e começando um rotacionamento. Também estamos começando nos poucos lugares que é possível mecanizar, implantar “melhoramento de campo” através de plantio direto no campo nativo. Após calcareamento, é introduzido no solo adubo 5-30-15, aveia, azevén, trevos branco e vermelho, além do cornixão.
Algumas áreas que estamos no 2º ano de implantação, reparamos que o trevo e o cornixão estão bem estabelecidos e como o tempo está correndo bem, resolvi fechar estes piquetes e deixar o gado só nos morros com o nativo. Meu objetivo é deixar estas leguminosas sementearem e se propagar ainda mais.
É evidente que a massega nativa também subiu e está endurecendo. Vou largar o gado novamente no final deste mês, e se não conseguirem rapar esta massega alta, serei obrigado a passar a roçadeira após o repasse da máquina com novo adubo e semente de aveia, pois esta não ressementeia. Será que fiz o procedimento certo? Ou seria mais barato nesta nova repassada colocar novamente azevén e as outras sementes?
Seu artigo serviu para levantar muitas dúvidas no meu procedimento! Obrigado por esta oportunidade.
Até.
Resposta do autor:
Prezado Jorge, obrigado pelo interesse no artigo.
Infelizmente não tenho experiência nesse tipo de região para poder auxiá-lo com mais propriedade, mas de qualquer forma creio que o ponto a se questionar é se a aveia é tão mais interessante que a gramínea nativa que compense semeá-la novamente… Pode ser que com um pouco de nitrogênio das leguminosas ou mesmo via adubo, você tenha respostas tão boas quanto com o plantio da aveia.
Se a leguminosa é importante no seu sistema, não se esqueça de jogar enxofre pois esse nutriente nem sempre está presente nos adubos comerciais mais concentrados.
Boa sorte e bom trabalho.
Atenciosamente,
José Ultímio Junqueira Jr
Interessante o fato de que os produtores brasileiros ainda não aderirem ao feno no período seco, esta prática é bastante popular aqui no Canadá
Bom dia a todos e bons negócios!