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Paulo Barreto fala sobre os trabalhos realizados pelo Imazon, sustentabilidade e ocupação de áreas desmatadas na Amazônia

Paulo Barreto é Engenheiro Florestal (Ufra), mestre Ciências Florestais pela Universidade Yale/EUA e Pesquisador Sênior do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon). Nesta entrevista, concedida à Miguel da Rocha Cavalcanti, ele dala sobre os trabalhos desenvolvidos pelo Imazon, sustentabilidade, ocupação de áreas já desmatadas, a relação entre ambientalistas e o setor produtivo e sobre a Campanha Carne Legal do MPF.

Paulo Barreto é Engenheiro Florestal (Ufra), mestre Ciências Florestais pela Universidade Yale/EUA e Pesquisador Sênior do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon). Nesta entrevista, concedida à Miguel da Rocha Cavalcanti, ele fala sobre os trabalhos desenvolvidos pelo Imazon, sustentabilidade, ocupação de áreas já desmatadas, a relação entre ambientalistas e o setor produtivo e sobre a Campanha Carne Legal do MPF.


Clique aqui e faça o download da entrevista.

“É importante que as pessoas que vivem na Amazônia tenham uma boa qualidade de vida. A região apresenta muitas oportunidades para que esse desenvolvimento aconteça. Seja usando bem as florestas ou as áreas já desmatadas, aumentando a produtividade, gerando emprego para as pessoas e levando em conta a preservação ambiental”.

“O setor precisa usar bem as áreas já desmatadas, isso envolve vários aspectos como investir em infra-estrutura (estrada, eletricidade, etc) nas áreas com maior potencial agronômico e com isso intensificar a produção; em educação e melhores condições de trabalho para atrair pessoas para essas áreas; em manejo de solo, genética, etc. Isso já está sendo feito em algumas regiões, mas precisa ser ampliado”.

“A área desmatada é bastante grande, são mais de 700 mil km2. Acho que precisamos de um bom zoneamento para aproveitá-la melhor. Houve um desmatamento excessivo, inclusive especulativo, criado por aquela ideia de que era preciso desmatar para demonstrar uso, para conseguir um título ou mesmo evitar uma invasão. Então existem algumas áreas que foram desmatadas onde é inviável investir na recuperação da produção, porque é um terreno alagadiço ou muito íngreme, nestes locais a saída seria a recuperação florestal. Em outras áreas degradadas é possível desenvolver atividades para aumentar a produtividade, entre elas agricultura e pecuária”.

“Algumas obras de infra-estrutura na Amazônia (estradas por exemplo) levariam a ocupação de áreas onde não existe ocupação, ou seja, ainda não existe uma atividade econômica e isso geraria mais desmatamento, ao mesmo tempo deixando de investir em áreas com uma ocupação mais densa, onde temos muita área desmatada e uma estrutura muito pobre ou inadequada para o melhor uso dessas áreas. Essa falta de estrutura dificulta tanto para trazer os insumos como para o escoamento da produção”.

“Temos que intensificar a estrutura em áreas onde existe uma ocupação mais densa, como o entorno da Belém-Brasília, essas áreas já estão ocupadas, mas as estradas vicinais são muito mal conservadas. Outros pontos que precisam de investimento nessas áreas é a questão de serviços e educação”.

“Tenho estudado as tendências da pecuária e como isso se relaciona com o desmatamento e mais recentemente tenho dito uma ligação maior com pecuaristas e a legalidade do setor. Um dos meus interesses agora é entender quais são os custos para o fazendeiro cumprir todas as regras sócio-ambientais que lhe são impostas”.

“Aqui no Pará, o Ministério Público Federal (MPF) realizou uma ação contra a pecuária que realiza desmatamento ilegal e isso resultou em um acordo com os frigoríficos que agora demandam o cumprimento de vários itens legais. Já existem alguns trabalhos que mostram a rentabilidade da pecuária, mas não considerando esses custos, como manutenção de áreas de APP e reserva legal ou mesmo o custo de recuperação de algum passivo ambiental. Esse é o estudo que nós estamos fazendo agora”.

“A ideia é ter um modelo de fazenda que adota boas práticas para o aumento da produtividade e analisar quais os custos associados com a preservação ambiental. No final das contas a pergunta é a seguinte: Qual é o retorno do investimento em uma fazenda que não faz esse investimento e em uma fazenda que aumenta a produtividade e tem condições de cumprir a lei?”

“Muitos estão sendo arredios com essas questões, mas essa ação do MPF/PA tem promovido alguns diálogos muito importantes”.

“Alguns produtores, que acham que as demandas ambientais e sociais chegaram para ficar, têm buscado o diálogo para procurar saber o que é preciso fazer para se ajustar, mas também para criar um clima institucional favorável para que seja possível esse ajuste. Aqui no Pará existem dois itens chave para isso: regularização fundiária e regularização ambiental, mas para que os produtores se ajustem é preciso uma resposta mais rápida dos órgãos públicos”.

“Eu acho que é importante ter uma campanha que alerte os produtores em geral [se referindo à Campanha Carne Legal do MPF], mas neste momento inicial talvez exista um risco de passar a imagem de que todo o setor está agindo ilegalmente. Espero que eles consigam contornar esse risco”.

“É muito importante valorizar os bons exemplos e esses produtores que estão na vanguarda e querendo promover o avanço do setor”.

“A exigência de reserva legal era de 50%. A partir de 1995, quando tivemos um recorde de desmatamento, essa exigência passou para 80%. Eu particularmente, acho que nas áreas abertas, que demonstram bom potencial para a produção agropecuária esse índice deveria continuar como era, 50%. Acho que o 80% é válido em áreas onde temos uma situação de potencial agronômico mais reduzido e onde o desmatamento não vai gerar grande desenvolvimento econômico. A solução está num bom zoneamento”.

“A discussão sobre a questão ambiental que acontece aqui no Brasil, também está sendo feita nos EUA e na Europa. Lá as pressões também são fortes”.

“Esse debate e esse tipo de conflito não é uma peculiaridade brasileira. A vezes a impressão que nós temos é que só estão cobrando da gente e isso não é verdade. Esse debate é polarizado em todos os lugares, com algumas diferenças, mas é sempre muito forte”.

“Um fator que já está acontecendo em vários lugares do mundo e ainda não ganhou força no Brasil é a compensação. Esse deve ser o grande ponto de convergência entre os produtores e os ambientalistas. Essa é uma área onde o Brasil pode evoluir”.

“Em geral a imprensa cobre esses temas de uma forma muito superficial, pois tem poucos profissionais especializados no agronegócio e na área ambiental e captura apenas os pontos que vão gerar maior impacto no momento, deixando de lado alguns assuntos mais complexos. Acho que nesse sentido a mídia tem que melhorar muito”.

“Estamos em um momento de transição da economia, todos os setores estão sendo pressionados para melhorar e utilizar técnicas mais sustentáveis. Acho que mais importante é procurar entender como realizar essa transição de forma mais rápida e ampliar o diálogo”.


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0 Comments

  1. oswaldo martins lopes disse:

    Gostei. É uma posição equilibrada sobre desenvolvimento agropecuário e conservação do meio-ambiente. Realmente a mídia carece de melhores conhecimento sobre o agronegócio, visto observarmos que o maior volume de informações se fundamentam, salvo engano, em repasse informativo de ONGs, dentre as quais há muitas que defendem o interesse externo e um bom número que exageram. Obg.