As notícias do momento sobre a pecuária de corte apresentam aparentes contradições. Enquanto produtores dos mais diferentes estados e suas respectivas associações e representantes reclamam dos baixos preços e da baixíssima rentabilidade que o setor de produção (antes da porteira) está atravessando, as notícias sobre perspectivas de exportações para esse ano e principalmente para os vindouros são muito animadoras. Em recente seminário em São Paulo (BM&F) foi afirmado que o aumento da exportação previsto é da ordem de 300 mil toneladas por ano, aumento esse limitado pela nossa capacidade de produção e não pela falta de mercado. Foi afirmado também que os preços vão explodir a partir de 2005.
O primeiro aspecto importante a ser considerado é que nos três primeiros meses desse ano ocorreu um aumento da ordem de 45% nas exportações (de 214 para 312 mil toneladas). Entretanto, o preço médio de venda caiu em média 17%. O Coordenador do Fórum Nacional de Pecuária de Corte critica os frigoríficos exportadores como responsáveis por essa diminuição do valor médio, porque estariam praticando concorrência predatória entre eles na luta pela conquista de mercados externos.
Em um mercado livre é esperado que a competição esteja sempre presente, sendo a melhor maneira de seleção dos mais eficientes. Entretanto, é importante ter em mente que esse mercado seja controlado por regras que mantenham a competição leal entre os concorrentes. Uma concorrência predatória só tende a ocorrer onde as regras ou não existem ou são burladas. Há necessidade urgente da cadeia da carne bovina se organizar melhor, estabelecendo além de regras bem claras e justas, mecanismos eficientes para o cumprimento das mesmas, tendo condições não só de punir os infratores através de compensações, como de excluí-los quando necessário para o bom funcionamento de toda a cadeia. Precisamos passar do palavreado fácil a ações concretas.
Um outro aspecto é se, sem essa queda média dos preços de exportação atribuída à concorrência predatória, as exportações estariam nos mesmos níveis. É difícil acreditar que sim, pois além da nossa carne ter tradicionalmente menor valor no mercado externo, parte substancial do aumento das exportações tem sido baseado em cortes de menor agregado, tanto para atender mercados de menor poder aquisitivo da população como mercados que dão preferência a esses cortes no preparo de seus pratos de consumo popular. Não sendo possível manter os patamares de exportação se os preços não tivessem diminuído, certamente os preços internos e ao produtor estariam menores.
A ênfase, muito positiva e primordial no meu entendimento, que tem sido dada à divulgação das qualidades da carne bovina como fonte de nutrientes e de promoção da saúde, quando consumida racionalmente, é importante para a manutenção e ampliação da cadeia da carne como um todo.
Além disso, a manutenção e ampliação de qualquer cadeia produtiva saudável, implicam em que todos os seus componentes participem de forma equânime dos lucros e que os produtos gerados por essa cadeia satisfaçam seus atuais e potenciais consumidores em termos de preço e qualidade. É esperado que a rentabilidade média vá variar, pois em função de aumentos e diminuições tanto de oferta (produção) como de demanda (consumo) ocorrerá variações de preços pagos ao produtor. Devemos nos acostumar que não existem negócios sempre excelentes ou sempre péssimos.
Os bem sucedidos serão sempre aqueles que são capazes de gerenciar com eficiência as fases boas e ruins, isto é, de preços altos e baixos do ciclo de produção. Todos também sabem que essa alternância é inexorável e a única saída é aprender a administrá-la.
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Concorrência predatória entre frigoríficos exportadores, uns contra os outros, para conquistar maiores volumes no exterior? Parece-me pouco provável pois nossos volumes não são tão altos no mercado europeu.
Parece-me mais verossímel a hipótese formulada por Miguel Cavalcanti(S.A. OESP) de que quando enfrentamos a carne argentina p.ex. temos que baixar o preço.
Há que lembrar que o mercado interno do boi vivo também poder ter períodos de concorrência entre ofertantes dispersos, ainda sem
condições de defesa de preços.
As variações da oferta do boi gordo podem explicar as flutuações de preço focalizadas pelo Prof.Boin.
Urge um esforço de “averiguação de fatos” para que se comprovem tantas hipoteses e/ou “achismos”. O que é real? O que é fato?
Quando tivermos essas respostas poderemos traçar um plano de ação.
Cordialmente,
Prezado Prof. Celso Boin:
Talvez eu tenha me expressado mal. Onde disse “intervenção burocrática” eu quis dizer “intervenção do aparato burocrático estatal”.
No mais, queira aceitar meus cumprimentos pelo extraordinário sucesso doBeefPoint, leitura diária e ponto de encontro de nossa classe tão desunida.
Respeitosamente,