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Pecuária e cana-de-açúcar

Não seria correto ficar "torcendo" para um setor ou outro, mas sim, trabalhar com a união dos dois, ou se especializar para compensar as oportunidades. Se não há interesse no cultivo de cana na propriedade, que se faça uma pecuária especializada, tecnificada. Não confundindo o termo tecnificada com aumento de gastos, ou custos, mas sim entender como otimização do que já existe na propriedade (manejo correto das pastagens, distribuição de aguadas, descarte e aquisições de animais, entre outros).

No atual cenário do mercado de açúcar e álcool, onde o etanol está surgindo como uma possível commodity internacional, o Brasil se torna o grande formador de preços, mesmo exportando para países com altas sobretaxas. O suprimento energético renovável é um grande potencial do país, pois possui área e tecnologias competitivas nos setores de cana-de-açúcar e oleaginosas, com outros países.

Mesmo os Estados Unidos, apesar da auto-suficiência em etanol proveniente do milho, não é páreo para o Brasil na comercialização com a Europa, além da grande expectativa de demanda do Japão. Com tudo isso, o Brasil tem que aumentar (mais que dobrar!) em aproximadamente 8 milhões de hectares sua área de cana, alcançando então 14 milhões de hectares. Mas, o que o Japão, sobretaxa e commodity tem a ver com a pecuária?! Tudo…

Com este cenário favorável e o setor sucroalcooleiro forte, as áreas de cana-de-açúcar, e a oportunidade de arrendamento, valorizaram áreas ocupadas, na sua grande maioria, por uma pecuária tradicional e extensiva, ou seja, áreas com baixas taxas de lotação (0,5 a 0,7UA/ha), pastagens degradadas, com pequenos ganhos de carne/ha.

Nesta hora, não seria correto ficar “torcendo” para um setor ou outro, mas sim, trabalhar com a união dos dois, ou se especializar para compensar as oportunidades. Se não há interesse no cultivo de cana na propriedade, que se faça uma pecuária especializada, tecnificada, não confundindo o termo tecnificada, com aumento de gastos, ou custos, mas sim entender como otimização do que já existe na propriedade (manejo correto das pastagens, distribuição de aguadas, descarte e aquisições de animais, entre outros.), além da possibilidade de investimentos com retorno garantido em setores da propriedade, sem se apoiar na idéia de mais gastos, mas sim aumento de lucro.

E aqueles que acham o momento da cana interessante, porém tem um trabalho muito bom em pecuária, ou não quer deixar o negócio, podem conciliar os dois, cultivando ou arrendando parte da fazenda para a cana-de-açúcar, e utilizando os rendimentos favoráveis do momento para reinvestir na pecuária da propriedade, deixando-a competitiva.

Além do mais, há áreas marginais (áreas declivosas, solos com impedimentos, etc.) ao cultivo de cana-de-açúcar, porém onde há possibilidade do uso de adubações, piqueteamento, passíveis de uso como pastagens de alta tecnificação.

Neste contexto é importante salientar a questão das queimadas, que de acordo com a Lei no. 11.241, de 19/09/2002, serão proibidas até 2021 nas áreas mecanizáveis e 2031 em áreas declivosas, ou seja, muitas áreas ocupadas por cana estão neste contexto. Na região de Piracicaba, SP, cerca de 37% da área apresenta mais de 12% de declividade (limite atual para colheita mecanizada) e, conseqüentemente, deverão ser aproveitadas para outros fins que não a cana-de-açúcar.

É compreensível o deslocamento da pecuária de corte para áreas de menores custos, como pecuaristas do Sul e Sudeste migrando o rebanho para o Centro-Oeste, Norte e Nordeste; mas há grande concentração de frigoríficos no Sul e Sudeste, ou seja, sempre haverá demanda de animais nesta região, mesmo com as empresas buscando animais por quase todo o país; só o estado de São Paulo exporta 60% de carne bovina e quase 50% da população brasileira está nesta região, estabelecendo o maior mercado consumidor. Além de que, há uma grande oferta de resíduos e subprodutos de indústrias alimentícias no Sudeste, que se bem utilizada, baseado em critérios técnicos, podem ser utilizados no acabamento e animais em confinamentos na região.

Vale lembrar que o Brasil possui 180 milhões de hectares de pastagens (IBGE), ou seja, se chegar no estimado, a área de produção de cana-de-açúcar seria somente 9% da área de pastagens. O momento da cana-de-açúcar é favorável, porém ainda há muitos ajustes na pecuária, que podem fazer do setor tão competitivo quanto a cana-de-açúcar, desde que encarado com profissionalismo e o uso correto de tecnologias.

0 Comments

  1. José Roberto Santos Patriota disse:

    Nos meus 14 anos de vida ajudava meu pai em uma plantação de susbsistência, produzindo 6 sacos de milho e 2 de feijão em meio hectare. Aos 22 anos,após concluir o curso de veterinária na UFRP me desloquei para a Embrapa Gado de corte, tive neste ambiente o primeiro contato com rebanho nelore com bom padrão de produtividade,mas, também foi ai, em Ribas do Rio Pardo que pude ver quantidade de bovinos e pouca oferta de alimentos.

    Vejo hoje, após ter viajado pelo Brasil Pecuário, uma modificação muito grande em quantidade e qualidade de carcaça de bovinos e o mais importante o quanto mudou o nosso pecuarista em termos de propostas e objetivos. A cana hoje representa só mais um atrativo para aqueles que tem terra,t opografia adequada a atividade e pensa em diversificar. E quem faz a pecuária tem muito a aprender com quem faz agricultura e a cana. Poderemos realmente juntos crescer bem mais.