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Pecuária nacional pode estar mais avançada do que o esperado, saiba o por quê [Rally da Pecuária 2012]

Qual o nível tecnológico médio aplicado à pecuária de corte atual? Qual o ritmo de intensificação das fazendas ou a intenção dos pecuaristas em aumentar sua produtividade? Conforme resultados do Rally da Pecuária 2012, este nível pode estar em níveis mais avançados do que o esperado para todo o Brasil. Baixo nível de degradação das pastagens, utilização de adubação e alto índice de utilização de IATF são alguns exemplos deste avanço na amostra avaliada pelo projeto.

André Pessôa (Agroconsult) e Maurício Palma Nogueira (Bigma), organizadores, conduziram encerramento do Rally da Pecuária 2012 e a apresentação dos dados coletados neste ano. André iniciou explicando que o Rally não pretende coletar amostras de todo o território nacional, mas sim fornecer informações confiáveis para formulação e calibração de um sistema de avaliação territorial por satélite, permitindo assim a análise de todo o país.

Neste ano, o Rally percorreu nove estados pelas regiões Sul, Sudeste, Centro-Oeste e Norte. Em conjunto, o rebanho destes estados representam 75% do rebanho nacional e 85% da produção de carne. Maurício continuou com a apresentação dos resultados levantados, e antecipou que os números não são uma amostra representativa da pecuária nacional.

Os índices calculados pelo Rally da Pecuária têm o objetivo de identificar a tendência da pecuária, qual direção o setor está caminhando em níveis de tecnologia, intensificação e gerenciamento. Mostrando um resumo geral de 2012, percebeu-se uma média um pouco inferior às do Rally 2011, porém ainda superiores à pecuária nacional. Isto foi explicado devido ao melhor método de coleta de dados, que desta forma aproximou os resultados do Rally aos números e médias reais da pecuária brasileira. Veja:

Observando a ocupação média (cab/ha), o rebanho médio (cab), o desfrute e a produtividade média (@/ha/ano), observa-se que são valores superiores à média nacional, e como será mostrado a seguir, estes resultados surpreenderam os organizadores do Rally devido ao nível tecnológico médio dos produtores avaliados.

Vale lembrar que o projeto também visita algumas grandes fazendas e confinamentos, o que aumenta as médias de produtividade da amostra coletada pelo Rally.

Comparando os valores com o Rally 2011, veja como os deste ano foram superiores:

Comparando as atividades de agricultura e pecuária, foi apresentado uma projeção de dez anos, em que é esperado um aumento de 15,3 milhões de hectares (ha) na área plantada do país (grãos, cana-de-açúcar e reflorestamento). Esta área seria cedida por pastagens e novas aberturas. Proporcionalmente, 82% (12,5 milhões de ha) seriam de pastagens, e somente 18% de novas áreas, mostrando que até 2022, a pecuária precisará aumentar sua produtividade para manter ou aumentar sua produção em uma área menor.

Porém, analisando outra projeção estimando a redução da área de pastagens para o mesmo período de acordo com seu histórico, a área disponibilizada pela pecuária até 2022 seria de 8,5 milhões de ha. Não sendo assim disponibilizada a área demandada pela agricultura de 12,5 milhões de ha. Portanto, Maurício explica que a solução será unicamente aumentar a produtividade da pecuária, e para isto analisou o potencial de crescimento por meio dos dados do Rally 2012.

Comparando a pecuária nacional, as médias amostradas pelo Rally 2012 e uma pecuária hipotética com mesmo nível tecnológico aplicado na agricultura (milho/sorgo), é possível mostrar o tamanho do potencial de crescimento para a produtividade da pecuária brasileira. Em questão de produtividade, podem ser produzidas 35@/ha/ano em casos de pecuária com alto nível tecnológico (equivalente ao da agricultura). Atualmente, a média nacional é de 3,7@/ha e a média dos produtores levantados no Rally 2012 foi de 7,0@/ha/ano.

Em relação à área necessária para produção, com a pecuária em nível tecnológico equivalente ao da agricultura, seriam necessários 18 milhões de ha considerando a produção atual. A área de pastagens utilizada hoje é de 171 milhões de ha, e considerando o nível tecnológico médio avaliado pelo Rally 2012, seriam necessários 90 milhões de ha.

Por último, foi comparada a rentabilidade potencial. Em níveis avançados de tecnologia, é possível atingir mais de R$700,00/ha/ano, contra a média atual nacional de R$74/ha e a média encontrada dos pecuaristas avaliados no Rally 2012, de R$139,00/ha.

Porém, há pontos limitantes para expansão da agricultura sobre área de pastagens. Um exemplo é a declividade do terreno, pois 40% das pastagens estão em territórios pouco ou muito inclinados. Outro fator limitante para a agricultura é a altitude em que estão as áreas de pastagens. As maiores produções agrícolas estão em áreas com mais de 500m de altitude, e somente 18% das áreas de pastagem estão acima disto. Desta forma, a agricultura também deverá passar por desafios, e trabalhar para aumentar sua produção em baixas altitudes.

Abordando os dados zootécnicos e agronômicos analisados pelas amostras do Rally 2012, foram mostrados:

01) Nível de degradação das pastagens

Em condições gerais, somente 3% das pastagens avaliadas estão degradadas. Pastagens em degradação representaram 47% e pastagens em níveis ótimos ou bons foram 50%. Sobre o nível de infestação por plantas invasoras, as proporções foram de 13% de pastagens totalmente infestadas, 17% em altos níveis de infestação e 70% das pastagens estavam com baixa infestação, em condições ótimas ou boas.

Já em relação ao nível do stand de plantas (número de touceiras de capim/área), 7% das pastagens estavam degradadas, com stand muito baixo, impossibilitando recuperação, 17% em degradação (com possível recuperação) e 76% em condições adequadas, boas ou ótimas.

02) Rebanho

Neste ano, a quantidade de pastagens utilizadas (em pastejo) foi de 39,5%, sendo a mesma proporção identificada no Rally da Pecuária 2011 (42%). Em relação à condição corporal do gado, também não houve diferença com os dados coletados em 2011. Foram identificados 85% do rebanho em condições boas a moderadas e 5,3% do gado estava gordo.

Já em relação à categoria animal, na comparação com 2011 houve diferença na de ‘vacas com cria’ e na de ‘bois magros/gordos’. Neste ano, a proporção de vacas com cria aumentou e a de bois diminuiu, podendo indicar uma baixa oferta de animais para abate neste final de ano. Maurício enfatizou que esta leitura deve ser considerada somente para o rebanho considerado no Rally 2012 (1,3 milhão), e não pode ser aplicada como situação da pecuária nacional.

Outro ponto observado foi que o rebanho por produtor está aumentando, indicando assim uma concentração. Entre os pecuaristas avaliados, 52% destes aumentaram seu rebanho de 2011 para 2012. Este ponto lembra a discussão atual sobre a concentração de frigoríficos, porém não se pode vincular uma como causa da outra, podendo ser considerada apenas para reflexão.

03) Confinamento

Em 2012, entre os produtores avaliados que confinam, o número de animais chegou a 549 mil (entre o rebanho total de 1,3 milhão), 6,0% maior do que o número de animais confinados relatados pelo Rally 2011. Comparando a intenção de confinamento para 2012, levantada pelo Rally no ano passado, o crescimento foi abaixo do esperado, pois esta intenção era de 18,6% de crescimento de 2011 para 2012.

A redução da safra de grãos no sul do Brasil e nos EUA devido à seca foi a maior causa para esta queda de animais confinados. Os custos da ração animal ficaram maiores, reduzindo a margem da atividade, e assim o número de animais a confinar em 2012 foi reduzido.

Como objetivo do confinamento, 88% dos confinadores utilizaram como ferramenta estratégica, e somente 12% utilizaram como atividade exclusiva ou prestação de serviços. O confinamento como estratégia tem a função de diminuir a lotação das pastagens no período da seca, após utilizar o pico de oferta de forragem na época das chuvas, com alta lotação animal. Em 2011, o objetivo do confinamento teve a mesma distribuição, com a grande maioria dos confinadores utilizando-o para reduzir a lotação animal de suas pastagens na seca.

04) Inseminação artificial

Entre os criadores avaliados pelo Rally 2012, 45% declararam que utilizam inseminação artificial, e entre estes criadores, 43% utilizam a inseminação artificial em tempo fixo (IATF), ponto surpreendente segundo o Maurício. “Ou seja, 95% destes criadores que inseminam utilizam a IATF”.

05) Cultivo de pastagens

O controle e manutenção das pastagens também foi avaliado pelo Rally da Pecuária 2012. Analisando a proporção de produtores que utilizam algum modo de adubação, 42% foram identificados. Entre estes, 30% adubam até 5% de sua área/ano, e 26% aplicam em mais de 25% de sua área/ano, sendo os que mais utilizam esta prática.

No controle de plantas invasoras, 56% dos produtores utilizam a roçada manual ou mecânica e 45% utilizam o controle por herbicidas. Em relação ao tempo de uso das pastagens, 25% têm vida útil maior do que 15 anos, sendo 11,5% de vida útil maior que 20 anos. A maior proporção de pastagens (75%) têm tempo de uso menor do que 15 anos. Uma informação interessante identificada pelo Rally, foi que entre os produtores que pretendem reformar suas pastagens, 35% pretendem utilizar a agricultura no processo, na forma de integração.

Conclusões

Como pontos principais levantados pelo Rally da Pecuária 2012, houve a melhoria da coleta de dados para utilização em análises de tendência da pecuária, e não como números médios da pecuária nacional. A evolução do método amostral é confirmado pela redução das médias coletadas em relação à 2011, deixando-as assim mais próximas da média nacional.

A quantidade de pastagens degradas ficou entre 3% e 7%, sendo o restante passível de recuperação sem necessidade de reformas. A integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) é considerada pelos produtores como maneira interessante de reforma de pastagens, porém é necessário avaliar a viabilidade desta prática. Dependendo da localização da fazenda e características econômicas, a recuperação do stand da pastagem por meio de métodos tradicionais pode ser a melhor alternativa.

O nível tecnológico adotado pelos produtores superou as expectativas dos organizadores. As inovações zootécnicas estão sendo mais utilizadas do que tecnologias agronômicas, e na projeção de dez anos, esta diferença aumentará. Um exemplo é a utilização da IATF acima do esperado e o fornecimento de sal proteinado na seca e nas águas por mais de 50% dos produtores analisados. Veja a apresentação dos resultados na íntegra:

Após a palestra do Maurício, o André Pessôa retomou a palavra para divulgar uma novidade: anunciou oficialmente a criação da Agroconsult Pecuária, nova empresa formada pela sociedade entre os dois organizadores. Ele explicou que o sucesso entre a parceria das duas empresas foi a grande razão para a criação da nova sociedade.
O BeefPoint participou deste Rally como apoiador, divulgando todo o trecho percorrido pelo projeto, pesquisas de indicação de fazendas a serem visitadas e fotos no Facebook. No evento de encerramento, a organização distribuiu algumas premiações, e o BeefPoint recebeu o prêmio de apoiador. Toda a Equipe BeefPoint agradece ao André Pessôa e ao Maurício Nogueira pela oportunidade e deseja sucesso na nova empresa!
Veja as fotos do Rally da Pecuária 2012 aqui:
Fonte: Rally da Pecuária 2012. Artigo escrito por Marcelo Whately, analista da Equipe BeefPoint e presente no evento.

3 Comments

  1. Hércules Alves de Arruda disse:

    Parabéns a todos os organizadores e apoiadores deste importante e evento, tenho plena certeza da contribuição que estes dados finais trarão a pecuária e toda a cadeia produtiva.

  2. Gladston Machareth disse:

    Embora considere importante os dados coletados pelo Rally da Pecuária, na prática tenho observado dados desanimadores.
    Presto uma assessoria na produção racional de gado a campo e, no Mato Grosso do Sul, o percentual de áreas em algum estágio de degradação é preocupante, chegando a 2/3 nas propriedades assistidas.
    As razões para esse quadro de improdutividade estão no desconhecimento e falta de aplicação pelos produtores dos índices zootécnicos e de práticas adequadas que otimizam a produtividade, racionalizando custos de produção e que estão diretamente associadas ao manejo e suporte das forrageiras, assim como o monitoramento periódico na evolução de peso dos animais em produção.
    Embora demonstrem interesse em reverter esse quadro, as justificativas apresentadas pelos produtores para a não implantação de práticas e técnicas adequadas, estão nos
    custos dos investimentos e, incluindo, do técnico que os orientam.

  3. Lenine Luedy Neto disse:

    parabens pelo trabalho, isso engrandece nosso setor.Mas acho que quando se deixa o nordeste de fora, tira-se um grande paramentro