A recém-criada Associação Brasileira de Pecuária Orgânica, que empossou esta semana em Campo Grande, seu Conselho Deliberativo, já tem o primeiro projeto: o desenvolvimento sustentável da criação de gado no Pantanal como modelo para o País. O presidente da entidade, Homero José Figliolini, deve produzir 1.700 bezerros orgânicos este ano a partir de 2.500 matrizes na fazenda Eldorado, de 14,8 mil hectares, em Corumbá, na planície pantaneira. A propriedade conta com certificado do Instituto Biodinânico (IBD). Depois do Carnaval, o pecuarista viaja para a Suíça onde pretende acertar contrato de exportações da carne.
Para 2002, a meta é ampliar a difusão da pecuária orgânica que, ano passado, teve um salto no Brasil. Em julho, o frigorífico Independência, um dos maiores exportadores do País, abateu para o mercado externo 120 animais de um rebanho de sete mil cabeças criadas no sistema orgânico na fazenda São Miguel de Catequese, em Nova Andradina, município localizado na divisa com São Paulo. Neste Estado, o frigorífico Minerva também prepara abates, informa Figliolini. Segundo o pecuarista, já existe criação semelhante em propriedades rurais de Mato Grosso, Goiás e Paraná.
As exportações e o atestado de que realmente se trata de uma produção orgânica dependem de uma empresa certificadora. No Brasil, o IBD, instituto sediado em Botucatu (SP), foi escolhido, pois conta com aval da Federação Internacional de Movimentos de Agricultura Orgânica (Ifoam), que dá acesso aos consumidores dos Estados Unidos e do Japão, além de ser reconhecido pelo Círculo de Credenciamento Alemão (DAR), o qual abre as portas do exigente mercado da Comunidade Européia.
Por enquanto, a associação tem apenas 15 sócios, mas inclui toda a cadeia produtiva da pecuária orgânica, desde o fabricante de produtos para alimentação e tratamento do gado, a frigoríficos, criadores, invernistas e rede de supermercados, como Carrefour, responsável pela comercialização da carne.
Os pecuaristas ainda estão na fase de conversão para o sistema orgânico. A primeira análise a ser feita nas propriedades pela certificadora, no caso o IBD, refere-se justamente à terra das fazendas. O criador ainda precisa tratar do animal apenas com produtos homeopáticos ou fitoterápicos.
Em caso da urgência na aplicação de alopático, o animal deve ser separado e só volta ao grupo após a cura e um período de quarentena, equivalente ao dobro do tempo de tratamento. É necessária ainda uma comunicação ao IBD sobre o caso e todos os procedimentos.
A pecuária orgânica, porém, não se limita ao sistema de criação. “Por definição, deve ser economicamente viável, socialmente justa e ambientalmente correta. Esse é o tripé”, ensina o presidente da associação. De acordo com Figliolini, o Pantanal serve como modelo para o Brasil, pois há 200 anos a atividade convive em harmonia com o ecossistema da planície. “Os pecuaristas são os responsáveis pela preservação. Isso é importante dizer”, finaliza.
Vitelo
Ligado à pecuária orgânica está o programa do vitelo pantaneiro, que é um bezerro abatido com idade entre sete e 12 meses pesando 180 quilos. O projeto de criação foi lançado em agosto e é coordenado pelo presidente do Instituto Parque do Pantanal (IPI), Roberto Folley Coelho. Ele disse que 400 animais serão abatidos já neste ano. Futuramente, a produção anual deverá ficar em 13 mil toneladas de carne.
Todo o sistema será definido a partir de um plano piloto, que se desenvolve em 21 fazendas do Pantanal com orientações da empresa certificadora francesa Ecocert. O programa é uma tentativa de agregar valor à atividade pecuária na planície pantaneira, de onde o animal precisa sair para a engorda, pois as fazendas da região não comportam este estágio final da criação. Com o abate prematuro do bezerro não deverá ocorrer mais a saída dos animais para propriedades de fora.
Fonte: Gazeta Mercantil (por Hudson Corrêa), adaptado por Equipe BeefPoint