Este artigo é um resumo da palestra, de Ivens Teixeira Domingos, Analista Pleno do Programa Pantanal do WWF - Brasil, apresentada durante o Workshop de Pecuária Sustentável em julho/09. Ele tem como objetivo apresentar o WWF - Brasil, os desafios atuais da cadeia produtiva da carne em relação a sustentabilidade socioambiental, as oportunidades e iniciativas existentes, o WWF - Brasil e a Pecuária Orgânica Certificada, e a visão dele em relação a busca da sustentabilidade socioambiental da Cadeia Produtiva.
Este artigo é um resumo da palestra, de Ivens Teixeira Domingos, Analista Pleno do Programa Pantanal do WWF – Brasil, apresentada durante o Workshop de Pecuária Sustentável em julho/09. Ele tem como objetivo apresentar o WWF – Brasil, os desafios atuais da cadeia produtiva da carne em relação a sustentabilidade socioambiental, as oportunidades e iniciativas existentes, o WWF – Brasil e a Pecuária Orgânica Certificada, e a visão dele em relação a busca da sustentabilidade socioambiental da Cadeia Produtiva.
Como se sabe, o setor agropecuário tem enfrentado muitos desafios ligados à mudanças climáticas, sustentabilidade, rastreabilidade, segurança do alimento e competitividade. Porém cabe aos elos da cadeia avaliar se devem fazer dos desafios uma barreira ou uma oportunidade para os negócios.
Primeiramente será apresentado a atuação do WWF no mundo. A Rede WWF é a maior Organização Ambientalista Independente do mundo com aproximadamente 5 milhões de associados atuando em mais de 100 países. Ela foi criada em 1961 e sempre trabalha com alto padrão de projetos possuindo 4.000 funcionários no mundo todo. A missão do WWF é cessar o processo de degradação do ambiente natural do planeta e construir um futuro em que os humanos vivam em harmonia com a natureza, mediante: a conservação da diversidade biologica; o uso sustentável dos recursos naturais renováveis; e a redução da poluição e do consumo que conduz ao desperdício.
No Brasil o WWF-Brasil foi criado em 1996 e tem uma atuação nacional, fazendo parte da rede WWF. Ele possui uma equipe multidisciplinar composta por brasileiros que participam nas decisões dos mais de 70 projetos de conservação e uso sustentável dos recursos naturais. O objetivo da organização é identificar os biomas (Amazônia, Cerrado, Mata Atlântica e Pantanal) nas regiões do país, diagnosticar os problemas existentes nas áreas e identificar os parceiros locais para trabalhar em parcerias com metas conjuntas buscando encontrar alternativas comuns.
Um dos últimos acontecimentos que demonstrou o desafio enfrentado pela pecuária brasileira foi o estudo feito e divulgado pelo Greenpeace atacando o sistema produtivo usado no país. Isso mostra a necessidade do setor em divulgar o trabalho realizado no Brasil, impedindo que os competidores usem apenas as questões negativas para atrapalhar o mercado brasileiro quanto sua competitividade internacional.
É importante ressaltar que o setor da carne está sendo tão almejado frente aos demais setores da agricultura, pois 90% de toda produção é feita em sistema extensivo com uma lotação média de 0,6 UA/ha, usando manejo de pastejo contínuo e com baixa eficiência produtiva. A atividade conta ainda com muitas áreas em degradação, dificuldades em se adequar a legislação ambiental, desmatamento, queimadas entre outros. São esse pontos que devem ser transformados em desafios para que o setor mostre ao consumidor como discutir tais características de produção em função da sustentabilidade social, ambiental e econômica e é para isso que o WWF-Brasil batalha.
No caso específico da atuação do WWF-Brasil no Pantanal, ele exerce ação na Bacia Hidrográfica do Alto Paraguai (a maior planície inundável do mundo) que abrange uma área de 624 mil Km2 englobando Brasil, Bolívia e Paraguai e com 95% da bacia pertencente a propriedades particulares. A pecuária de corte a agricultura e o turismo são as principais atividades econômicas da Bacia.
O WWF-Brasil lida junto ao ser humano para buscar uma sustentabilidade ambiental, social e econômica para todos os elos envolvidos na cadeia da carne com o desafio de trabalhar com produção e conservação.
Para que os problemas do setor pecuário sejam solucionados foi necessária uma caracterização da atividade nos biomas estudados pela Organização para posterior identificação das ameaças. A caracterização está disposta abaixo.
Pecuária na Planície Pantaneira: Está há mais de 200 anos na região, sendo caracterizada como pecuária extensiva tradicional, com baixo nível tecnológico e pouca utilização de insumos. As fazendas tem grandes extensões de terra (Média atual: 7000 ha) e as pastagens são nativas em sua grande maioria. Há pouca pressão antrópica sobre os recursos naturais e a cultura Pantaneira é característica.
Nos últimos 15 anos a crise na pecuária tem ocasionado mudanças no perfil das fazendas pantaneiras e na atividade pois os produtores que estão com baixa rentabilidade em suas fazendas aumentam o rebanho para tentar gerar lucro e com isso as áreas sofrem impacto do super pastejo. Outra forma de tentarem aumentar a rentabilidade é entregar carvão vegetal em troca de receber um pasto formado. Há também os produtores que chegam na região sem conhecer a cultura Pantaneira e limpam toda a área, gerando impacto pela perda do equilibrio ambiental.
Pecuária no Planalto (sul do Mato Grosso e norte da Bacia): A ocupação do território é mais recente e divide espaço com culturas agrícolas, tendo os produtores a pecuária como segunda ou terceira atividade. A pecuária é caracterizada como semi-extensiva e intensiva e as pastagens são plantadas em sua grande maioria (Brachiaria sp.). As fazendas são menores, com altos índices de produtividade, alta tecnologia e usa insumos em grande quantidade. Os sistemas de manejo tem maior impacto sobre os recursos naturais.
Um monitoramento da Bacia Hidrográfica do Alto Paraguai é feito utilizando um Mapa de Cobertura Vegetal e com isso descobriu-se que na Planície Pantaneira cerca de 85% da área ainda é cobertura vegetal natural, identificando que a grande pressão do avanço da agricultura e pecuária ocorreu no Planalto, onde apenas 45% da área é vegetação natural.
É por esses resultados que o WWF-Brasil viu na Pecuária Orgânica Certificada um nicho de mercado uma vez que o manejo orgânico visa o desenvolvimento econômico e produtivo que não polua, não degrade e nem destrua o meio ambiente e que, ao mesmo tempo, valorize o homem como o principal integrante do processo. Esse tipo de certificação tem critérios ambientais e sociais claros, transmitindo segurança para que parceiros trabalhem juntos em busca de uma valorização no mercado. Os critérios ambientais e sociais são:
AMBIENTAIS GERAIS
– Exigido o cumprimento da Legislação Ambiental e do Código Florestal Brasileiro
– Auditoria local para averiguar APPS e Reserva Legal
– Exigidos procedimentos de proteção e conservação dos recursos hídricos e qualidade da água (nascentes e acesso do gado ao rio)
AMBIENTAIS ESPECÍFICOS
– Proibido o uso de agrotóxicos e herbicidas
– Proibido do uso de fertilizantes sintéticos a base de nitrogênio (uréia)
– Proibido uso de fogo para manejo de pastagens
– Uso restrito de medicamentos alopáticos
SOCIAIS GERAIS
– Exigido o cumprimento das convenções e protocolos internacionais e a CLT
SOCIAIS ESPECÍFICOS
– Proibido trabalho escravo e infantil
– Exigido que todos os funcionário sejam registrados
– Exigido a facilitação e estímulo para criação de hortas familiares
– Exigido a facilitação do acesso das crianças a escola
– Fazendas com mais de 10 funcionários deverão ter sua própria política de justiça social
É necessário que ocorra uma organização entre os elos da cadeia havendo um sincronismo de idéias a fim de que o trabalho realizado seja divulgado com transparência aos consumidores. O trabalho conjunto divide o peso das responsabilidades de formas iguais e esse é o papel do WWF. Ele atua como articulador/ mediador encontrando os canais entre todos os atores que estão na cadeia produtiva da carne bovina, e no caso dos orgânicos sempre busca melhorias contínuas nos critérios socioambientais.
Através das melhorias implantadas observa-se uma evolução da pecuária orgânica na Bacia Hidrográfica do Alto Paraguai sendo que, em 2004 o rebanho era de 30.000 cabeças de gado orgânico passando para 100.000 cabeças em 2009. Quanto a área certificada o salto foi de 40.000 ha para mais de 120.000 ha certificados no mesmo período.
Cada vez mais, os elos da cadeia tem que buscar novas formas sustentáveis de produção para terem acesso aos mercados e é com essa ideia que o WWF acredita no GT da Pecuária Sustentável que atua com as seguintes metas:
– Zoneamento da atividade pecuária;
– Definir práticas de produção;
– Promover o desenvolvimento de critérios socioambientais;
– Cadastro socioambiental dos produtores e de sistemas de rastreamento da carne;
– Promover atividades de capacitação, assistência técnica e financiamento de produtores;
– Definir os meios para identificar, avaliar, prevenir, controlar e mitigar os impactos sobre os ecossistemas críticos;
– Criar mecanismos de monitoramento;
– Recuperar os passivos ambientais;
– Incentivar o consumo de carne bovina oriunda de formas de produção sustentáveis.
Com todas tecnologias existentes serão realizados trabalhos que buscam formas de produção com sustentabilidade como:
– Sistemas Agrosilvipastoris
– Sistemas Silvipastoris
– Sistemas de Integração Lavoura – Pecuária
– Sistemas de Integração Lavoura – Pecuária – Floresta
– Sistema de Produção Orgânica
– Certificações de Boas Práticas Agropecuário
– Melhoria das condições de fertilidade e permeabilidade do solo
– Conservação do solo
– Aumentar a biodiversidade das pastagens
– Recuperação e manutenção de áreas degradadas
– Aumentar a capacidade de lotação e suporte das pastagens
– Melhorar e otimizar a utilização e produção de uma área já consolidada
– Utilização racional dos recursos hídricos
Conforme visto, o WWF trabalha com a formulação de boas práticas agrícolas envolvendo Cerrado, Pantanal e Amazônia, sempre discutindo os trabalhos com todos os elos do setor e também apoiando na identificação e acesso aos mercados no caso de produtos orgânicos. O objetivo final é desenvolver sistemas produtivos ambientalmente corretos, socialmente justos economicamente viáveis.
O WWF-Brasil é uma organização não-governamental brasileira dedicada à conservação da natureza com os objetivos de harmonizar a atividade humana com a conservação da biodiversidade e promover o uso racional dos recursos naturais em benefício dos cidadãos de hoje e das futuras gerações. O WWF-Brasil, criado em 1996 e sediado em Brasília, desenvolve projetos em todo o país e integra a Rede WWF, a maior rede independente de conservação da natureza, com atuação em mais de 100 países e o apoio de cerca de 5 milhões de pessoas, incluindo associados e voluntários.
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Excelente, principalmente no momento que estamos atravessando, com a discursão do clima no planeta, este artigo precisa ser lido por toda sociedade brasileira.
Timon – Ma 02/12/2009
Att. Espedito Linhares