O período de glória da soja tem os dias contados e o produto já tem substituto: a pecuária. Não que a produção de soja vá sofrer um revés. Vai continuar crescendo, mas nos próximos anos deve entrar em uma fase de preços bem menores do que os atuais, assim que os estoques mundiais forem repostos e a produção se equilibrar ao consumo.
Já a carne bovina vai começar a ter uma fase de forte demanda, coincidindo com um período de redução dos rebanhos nos principais países produtores devido ao aumento no abate de fêmeas. Esse é o cenário mostrado no estudo do “Anualpec 2004”, uma publicação da FNP Consultoria Agroinformativos, especializada em pecuária.
O diretor da FNP, Victor Abou Nehmi Filho, diz que, após 20 anos de estabilidade e, em alguns anos, até de queda, o consumo de carne se recupera e volta a crescer. De 1994 a 2001, o comércio mundial de carne bovina girou à média anual de 5,72 milhões de toneladas. Neste ano já deve chegar próximo das (talvez até superar) sete milhões de toneladas.
Esse aumento de demanda ocorre em um período em que todos os principais rebanhos mundiais estão com redução. O brasileiro, o maior do mundo em termos comerciais, fecha o ano em 165,9 milhões de cabeças. No ano passado estava em 168,1 milhões. Essa redução já começa a influenciar os preços, que mostram forte elevação.
Com a escassez mundial de carne, o Brasil passou a ser a solução para o mercado internacional, diz Nehmi. O País ficou isento de problemas sanitários como o mal da “vaca louca” ou novos focos de febre aftosa. Com isso, o volume de carne brasileira exportada subiu de 376 mil toneladas há dez anos para o atual 1,5 milhão de toneladas. A participação nacional no mercado externo subiu de 6,7% para 21,4% no período.
Nehmi diz que essa inserção do Brasil no mercado externo vai fazer com que os preços internos, hoje abaixo dos externos, sigam um padrão internacional nos próximos anos. A carne é uma das poucas commodities brasileiras cujos preços internos não seguem os do mercado externo. “Essa situação vai mudar”, afirma.
Até 2000, o Brasil não aumentava as exportações por um problema de logística. O produto brasileiro, que atingia apenas 40 países, hoje chega a 120 e não se exporta mais porque não há bois dentro dos padrões de exportação. Prevendo dificuldades de abastecimento na entressafra, alguns frigoríficos já oferecem R$ 70 por arroba de boi rastreado para outubro.
Nehmi reconhece, no entanto, que a pecuária precisa evoluir para competir com a soja. Hoje o rendimento líquido da pecuária é o equivalente a cinco sacas de soja por hectare, o que deve crescer muito com a pecuária mais tecnificada, com mais animais por hectare.
Para ele, os pecuaristas que ainda não foram atraídos pela soja não devem fazê-lo agora. Os animais ainda estarão com preços baixos nos próximos 90 dias e este é o momento para a formação de rebanho.
Fonte: Folha de S.Paulo (por Mauro Zafalon), adaptado por Equipe BeefPoint