Com custos em alta e receita em queda, a saída encontrada pelo pecuarista é o abate das matrizes, ou seja, as fêmeas reprodutoras. O objetivo é vender mais cabeças e tentar recompor a rentabilidade. O percentual de vacas sacrificadas já chega a 36% em todo o país – sendo 33% em Minas Gerais -, quando o ideal é não ultrapassar os 20%, de acordo com o assessor econômico da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg), Sérgio Avellar. O resultado, no médio prazo, pode ser uma queda na oferta de animais para abate e, em consequência, alta do preço da carne na ponta.
Os dados de produção agropecuária, divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) na última semana, mostram que o abate de bois aumentou 12,48% no segundo trimestre de 2005, na comparação com o primeiro trimestre do mesmo ano, enquanto o corte de vacas subiu 13,68% no mesmo período. ‘O setor anda muito apertado, e o abate das fêmeas acaba sendo a saída para complementar a renda’, argumenta o presidente da Comissão Técnica de Pecuária de Corte, Paulo Roberto Gomes de Almeida, observando que o índice de consumo de carne no país caiu de 42 quilos per capita para 34 quilos, nos últimos dois anos.
E enquanto há uma retração no consumo, a oferta do produto registra grande ampliação. De 1999 até 2004, a alta foi de 27,5% no Brasil, e de 13%, de 2001 até 2004, em Minas. ‘Os produtores aumentaram seus investimentos na expectativa de ganhar mais com as exportações, mas foram prejudicados com a queda do dólar. De outro lado, o mercado interno não supriu essa expansão da oferta, em função da retração na renda e pequena recuperação no emprego’, esclarece o Sérgio Avellar, destacando que o mercado externo, que representa 20% do abate, não significou ganhos que pudessem ser repassados ao produtor.
Com a lucratividade caindo, o pecuarista não consegue gerar fluxo de caixa – devido ao aumento de mais de 10% nos insumos e queda de 16% no preço da arroba do boi -, partindo para o abate das fêmeas, taxa que vem crescendo desde 2000 e se intensificou neste ano. ‘O feed back desse movimento, no entanto, acaba sendo contrário ao resultado esperado pelo produtor, porque aumenta ainda mais a oferta de animais, derrubando os preços em um primeiro momento. Mas, no médio prazo, faltarão machos para abate, e os valores para o consumidor tornarão a subir’, avalia Avellar.
Fonte: Hoje em Dia, MG (por Luciana Rezende), adaptado por Equipe BeefPoint