No ano passado, o Brasil consolidou-se como o maior exportador de carne bovina do mundo. Até julho deste ano, segundo a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec), as exportações de carne bovina in natura e industrializada já passaram de um milhão de toneladas, um crescimento de 32,55% em relação ao mesmo período de 2003. Os números são cada vez mais animadores para o mercado, mas para os pecuaristas o cenário não é tão favorável.
Segundo produtores, o setor enfrenta atualmente um grande problema: baixa remuneração por parte dos frigoríficos. Em contrapartida, o custo da produção está cada vez maior, principalmente depois da obrigatoriedade de rastrear o rebanho.
Nos principais pólos do País, pecuaristas começam a se unir para tentar aumentar o poder de negociação e melhorar o preço para os produtores.
Segundo o presidente da Associação de Proprietários Rurais de Mato Grosso (APR-MT), Ricardo Borges de Castro Cunha, o setor frigorífico está bastante organizado e acaba tendo mais poder para definir os preços, sem opção para o pecuarista. “O que acontece hoje é que há uma concentração de frigoríficos nas mãos de poucos grupos. O frigorífico repassa várias despesas aos pecuaristas”, diz Cunha.
Outro ponto, para o pecuarista, é que o rendimento do boi (diferença entre o peso vivo e a carcaça) está muito baixo. “Antes, o rendimento era de 54%, em média. A carcaça de um boi de 500 quilos, por exemplo, pesava 270 quilos. Hoje, o rendimento está em torno de 51%, então, pesa 260 quilos. São dez quilos de diferença que o frigorífico paga a menos”, explica. “O produtor tem hoje a menor remuneração dos últimos anos”.
O criador Antônio Miguel Sabino Filho, de Porto Esperidião (MT), diz que o lucro com a exportação não está chegando ao campo. Para ele, ocorre que os frigoríficos seguram o preço da carne no mercado interno e tiram esse lucro do mercado externo. “E não repassam para a gente. Por isso não vemos vantagem em exportar”.
Em contrapartida, os insumos subiram muito em relação à arroba do boi. “Em 1995, com uma arroba, que custava R$ 30, eu comprava mil metros de arame. Hoje, o arame custa R$ 180 e a arroba R$ 55”, exemplifica. Com um rebanho de três mil animais, Sabino negocia diretamente com o frigorífico, mas acredita que o caminho é a união. “Com mais volume poderemos negociar melhor. Tem gente se desfazendo do patrimônio ou deixando o pasto se degradar para continuar no negócio”.
A produção brasileira cresceu, mas a demanda não acompanhou a velocidade desse crescimento. Para o produtor Luiz Eduardo Arantes, esse é um dos fatores que levaram à queda da remuneração dos pecuaristas. “Nossa rentabilidade reduziu-se cerca de 60% nos últimos três anos”, diz ele. A alta no preço dos insumos, acrescenta Arantes, também colaborou para a redução do lucro. “O preço do nosso produto é estável, enquanto os custos aumentaram muito, assim como as exigências governamentais. Conclusão: hoje produzimos mais, investimos mais, mas o rendimento é o menor dos últimos anos”.
O problema não é novidade, mas agora o setor resolveu se unir. “Há cerca de quatro anos a remuneração do pecuarista está caindo. E é cada dia pior, o que tem provocado um mal-estar na classe”, diz Cunha. Recentemente, a APR-MT contratou uma consultoria do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da Universidade de São Paulo (Cepea) e pretende criar uma central de vendas de boi. “A idéia é formar um grupo coeso e ter poder de barganha. Essa é a grande saída para o pecuarista”.
Apesar de comemorar a boa fase da pecuária brasileira, a Associação Brasileira de Novilho Precoce (ABNP) também está fazendo ressalvas quanto aos preços recebidos pelos produtores. “A remuneração paga aos pecuaristas que produzem animais diferenciados está aquém das nossas exigências. Investimos em genética, em produtividade, em manejo sanitário e nutricional, respeitamos o meio ambiente, mas ainda não estamos sendo reconhecidos por isso. Ao mesmo tempo, as vendas de nossa carne crescem no exterior”, compara o presidente da associação, Constantino Ajimasto Jr.
Para ele, o problema é conjuntural e o próprio produtor tem sua parcela de culpa. “O pecuarista não é organizado, não comercializa em grupo. Antigamente, o mercado era outro. Hoje, é preciso negociar em volume. Os frigoríficos, mais organizados, colocam o preço na carne e o pecuarista não tem como negociar sozinho”. Com isso, os frigoríficos estão crescendo em função da exportação. “Isso só vai mudar quando o pecuarista se unir, trabalhar a exemplo da cadeia de frango, que é integrada e mais unida”, acredita.
Fonte: O Estado de S.Paulo/Suplemento Agrícola (por Niza Souza), adaptado por Equipe BeefPoint
0 Comments
Os investimentos para aumentarmos a qualidade de nossos animais para abate devem ser feitos… e bem feitos. Os preços dos insumos crescem mais rápido do que nossa receita.
Fazendo investimentos, corremos o risco de errar nas medidas e diminuirmos ou acabarmos com nossa margem de lucro. Uma vez bem investido, esperamos que nosso capital retorne com dividendos, a partir de negócios bem feitos. Para crescermos de 2 a 3% ao ano é difícil, precisamos ter contrôle total da atividade, mas podemos perder mais do que isso facilmente numa negociação mal feita.
Não fazendo investimentos ou melhorias na estrutura de produção de carne, estamos trabalhando esperando resultados milagrosos com relação aos índices zootécnicos na fazenda e nos lucros na comercialização da carne.
Parece que estamos adotando o frigorífico como o grande vilão da história.
Acho que sempre foi, mas agora que nos é cobrada eficiência transferimos todo o crédito para eles. Temos que levar em conta a incapacidade e a resistência de alguns pecuaristas com relação a produção do que o mercado quer e por isso paga mais.
Temos que produzir a carne que vai ser consumida, recebendo mais por ela e não esperar preços na carne que queremos vender, muitas vezes inadequada para o comércio. Nós não podemos ficar lamentando a posição previlegiada do frigorífico atualmente, no comércio com o pecuarista. Comprar bem e vender melhor é o negócio deles e o nosso também. Riscos… todos os envolvidos com a agropecuária correm.
Quando compramos bem uma boiada e na venda do boi gordo temos lucro, acima do esperado, repassamos a quem nos vendeu a boiada? Ou nos consideramos bons comerciantes e procuramos repetir a dose?
Acho que no jogo do comércio de carne estamos em desvantagem com relação aos frigoríficos, mas podemos melhorar nossa condição e não ficar chorando, com ciúmes do lucro alheio.
Negociar em bloco (a partir da qualidade), buscando quantidade, parece ser uma saída para o produtor.
Resumindo: investir em qualidade + produzir o que o mercado quer + vender em bloco = maior lucratividade.