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Pecuarista do MS usa tecnologia para ter diferencial no rebanho

“Temos um sistema complexo aqui na fazenda, e o que faz isso funcionar é o homem.” A frase do produtor André Bartocci resume bem a pecuária de corte – e de ponta – no Brasil.

Na busca por ganho de competitividade e por melhoria da sustentabilidade, o uso de tecnologia na pecuária de precisão depende do acompanhamento in loco e da interpretação dos dados para se tomar a melhor decisão. Para isso, trabalhadores que atuam no campo e profissionais especializados são peças-chave.

Proprietário da Fazenda Nossa Senhora das Graças, localizada em Caarapó (MS), a pouco mais de 270 quilômetros de Campo Grande, André conta que estimula a formação de mão de obra para a atividade rural e apoia a educação de crianças da região oferecendo espaço próprio para cursos no local. “A capacitação e a valorização das pessoas são fundamentais para mantê-las no campo”, enfatiza o produtor. Mas isso é só uma parte do que acontece por lá.

Com uma área total de 3.200 hectares, a propriedade foi, há mais de 20 anos, uma das primeiras na região a adotar o sistema de integração lavoura-pecuária (ILP). A atividade principal é a pecuária, com foco na recria e engorda de bovinos e abate de 4.000 bois ao ano.

A genética da Nossa Senhora das Graças baseia-se em raças zebuínas, especialmente o nelore, com alguns cruzamentos de raças europeias. Em geral, o plantel conta com 70% de nelore e 30% de angus.

Essas linhagens garantem animais adaptados aos trópicos, que conseguem converter bem gramíneas da região em carne de alta qualidade. André conta que vende a produção bovina para indústrias que exportam para a União Europeia, uma vez que a propriedade é certificada e os animais integram o banco de dados da Cota Hilton – habilitação que permite a exportação de cortes bovinos de altíssima qualidade a países do bloco.

Ele diz não haver uma integração formalizada, mas sim uma parceria de longo prazo com a JBS de Naviraí, que fica a 70 km da fazenda. “E está dando muito certo para os dois lados. Existe um contato periódico para estarmos alinhados com relação à qualidade dos animais”, afirma.

Sistema

A ILP ocorre com a rotação das lavouras de soja e milho com braquiária (pastagem). A produção, na última safra, foi de 60 mil sacas de soja – comercializadas via cooperativa – e de 44 mil sacas de milho, usadas para silagem e consumo na própria fazenda. A propriedade mantém ainda uma área de 28% de reservas naturais.

A integração lavoura-pecuária, sistema também conhecido como agropastoril, alia os componentes agrícola e pecuário em rotação, na mesma área. A troca pode ocorrer em um mesmo ano agrícola ou ao longo de vários anos, em sequência ou intercalados.

De acordo com a Embrapa, entre as vantagens da ILP estão a intensificação do uso da terra, a recuperação de pastagens degradadas e a conservação e melhoria do solo, assim como a diversificação nos sistemas de produção, a quebra no ciclo de pragas e doenças e a adequação ambiental.

Para André Bartocci, o modelo beneficia os dois segmentos – agricultura e pecuária – mutuamente. A rotação de pastagem e lavoura, com altas lotações nos pastos, usados intensivamente, aumenta o teor de matéria orgânica no solo. Ele destaca as vantagens para a produção de bovinos.

“Temos pastos excelentes, os animais ganham peso o ano inteiro e não tem entressafra. Isso faz toda a diferença na diminuição da idade do abate, o que tem impacto direto sobre as emissões de gás de efeito estufa e a qualidade da carne”, enumera.
Segundo o produtor, na fase de recria e engorda, em que os animais pesam entre 200 kg e 450 kg, eles ficam somente nas pastagens. Em seguida, entram em confinamento – última fase da engorda –, em que permanecem aproximadamente 40 dias (mas, em alguns casos, o prazo chega a 90 dias), até que seu peso alcance em torno de 560 kg.

A etapa de confinamento costuma passar de 90 dias na maioria dos casos em que não se adota a ILP. O pecuarista enfatiza uma outra vantagem desse sistema: os períodos mais curtos de confinamento tornam a produção mais econômica.

A fazenda adota a ultrassonografia de carcaça, tecnologia que mensura dados que tornam possível estimar e avaliar a composição corporal, a qualidade e o rendimento da carcaça, os índices de gordura e a taxa de crescimento e também o momento ideal para o abate dos animais.

“Utilizamos o sistema para modular o período ideal de confinamento dos lotes”, diz Bartocci. Todo o processo, relata, permite o abate de animais cada vez mais novos, com idade entre 20 e 24 meses.

Outra tecnologia que garante a qualidade do rebanho da Fazenda Nossa Senhora das Graças é a rastreabilidade. André considera que “essa é uma ferramenta de gestão espetacular para produtores”. Na propriedade, o sistema engloba desde a origem do animal até o frigorífico. Com atuação nas etapas de recria e engorda, a compra de bezerros é criteriosa.

“Monitoramos todo o histórico do animal e não compramos de propriedades que tenham algum tipo de problema ambiental ou social”, afirma o pecuarista. O sistema consiste em dispositivos eletrônicos de identificação animal, como brincos e bottons, e programas de computador que registram o desempenho zootécnico e as ocorrências sanitárias ao longo da vida do animal.

Segundo o produtor, é por trazer esse conjunto de informações sobre o rebanho que a rastreabilidade é uma ferramenta valiosa para a gestão da pecuária. “A gente sabe de onde veio o animal, a idade dele, controla o peso, monitora a carência de medicamentos e as projeções de abate e, por fim, a qualidade do produto”, relata Bartocci. O sistema, que faz parte das exigências da maioria dos países importadores, registra até mesmo os graus de marmoreio da carne bovina.

André, que preside a Câmara Setorial da Carne Bovina, do Ministério da Agricultura e Pecuária, defende a importância da rastreabilidade do rebanho nacional. “No Brasil, temos um histórico de sanidade bovina. E temos muita responsabilidade com esse histórico, ainda mais com o tamanho do rebanho que temos hoje”, ressalta, referindo-se às 234,4 milhões de cabeças de gado registradas em 2022, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Para ter competitividade no mercado, e com boa rentabilidade, o pecuarista destaca que o diferencial é seguir o básico, como fazer investimentos em genética, adotar boas práticas de alimentação e de manejo do rebanho, mas “com um olhar diferente”. “É isso que tecnologias como a integração lavoura-pecuária e a rastreabilidade nos permitem”, afirma.

Bartocci não deixa de lembrar que a pecuária também depende de fatores externos e que há fases em que o preço fica baixo para os produtores. “A pecuária só é uma atividade rentável se for intensificada. Há muitos gargalos quando não se monitora todas as fases. E também é fundamental investir em pessoas. Assim, a atividade pode ser lucrativa e muito segura”, avalia.

Outros aspectos também fazem parte da rotina da atividade pecuária na propriedade, entre eles o bem-estar do rebanho e a reciclagem de dejetos gerados no confinamento para aproveitá-los como fertilizante.

A fazenda, que já recebeu várias certificações e premiações, pretende investir cada vez mais em sustentabilidade, com focos ambiental e social. Outra meta é quantificar a emissão de gases de efeito estufa – atualmente, os métodos seguem padrões internacionais – e mensurar o sequestro de carbono na área.

Fonte: Globo Rural.

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