Por David Victor Makin1
A carne bovina é um dos poucos alimentos que o consumidor encontra no supermercado sem identificação clara da origem. Para mim está claro que esse estágio em muito pouco tempo estará ultrapassado já que não poderemos seguir investindo na pecuária dessa forma, sem nos vincular ao produto final. A própria exigência da União Européia nesse sentido – e claros sinais emitidos por outros importadores – fortalecem esse raciocínio. Veja o Japão, por exemplo, tradicional comprador de carnes no mundo. Aquele país não importa do Brasil porque ainda não erradicamos a febre aftosa. Em um segundo momento, a exigência certamente passará pela rastreabilidade, pois se trata da segurança da trajetória do produto – desde o animal até o frigorífico. Em outras palavras, rastreabilidade e certificação de origem da carne têm estreita relação com a segurança alimentar, que é o foco do momento.
Acompanho com interesse diversas opiniões sobre a rastreabilidade emitidas por personagens importantes da cadeia da carne bovina. Alguns entendem que esse processo é muito difícil e que não vingará. Não concordo com isso. Aliás, trata-se de um extremamente prático e eficaz. Não posso concordar que colocar brinco no bezerro antes do desmame e coletar suas informações periodicamente seja um desafio difícil de superar. A CFM já colocou brinco em 65 mil animais.
Para ficar mais claro, a CFM utiliza brincos para identificar todos os animais nascidos. Nesses brincos colocamos informações do pai do bezerro, a fazenda em que ele nasceu, composição genética e seu número interno de manejo. Além, é claro, do código de barras com o número do Sisbov (Sistema Brasileiro de Identificação e Certificação de Origem Bovina e Bubalina). Isso não é difícil de fazer, exige apenas uma equipe de campo bem treinada e que cumpra o seu papel.
Mais um argumento a quem não acredita na rastreabilidade: os benefícios gerados a partir da identificação dos animais. Além de permitir mínimo controle do rebanho, considero que a grande vantagem da rastreabilidade é a introdução do conceito da responsabilidade na cadeia da carne. Quando os animais passam a ter origem e seus dados são acompanhados, ganha espaço a pecuária moderna, eficiente e real.
A rastreabilidade, nesse contexto, deve ser tratada como uma realidade. Os compradores de carne exigem e o governo brasileiro já deu todas as provas que vai cumprir com as determinações do SISBOV. Desde 15 de julho, toda a carne exportada para a União Européia provém de bovinos rastreados pelo menos 40 dias antes do abate. Não podemos perder o foco da rastreabilidade e ficar discutindo quem tem de pagar a conta. Tenho plena confiança que a relação dos produtores com os frigoríficos e o governo vai se acertar e os custos de rastrear o gado, bem como os ganhos extras de exportar a carne, serão corretamente distribuídos na cadeia de produção da carne. Temos, sim, é de atender a legislação e cuidar do nosso negócio, profissionalmente.
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1David Victor Makin é presidente da Agropecuária CFM, de São José do Rio Preto (SP)
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Meus parabéns ao artigo do sr. David da CFM, ele reflete o porque do sucesso da CFM.
É de empresarios e profissionais deste nível que o Brasil Rural está precisando.
Muito bem colocado, meus parabéns.