As entidades representativas dos pecuaristas brasileiros propuseram ao governo federal a criação de um sistema de rastreabilidade alternativo ao Sistema Brasileiro de Identificação e Certificação de Origem Bovina e Bubalina (Sisbov). Conforme o coordenador do Fórum Nacional da Pecuária de Corte, da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), Antenor Nogueira, os dois sistemas coexistirão por tempo indeterminado, podendo o produtor optar pelo que mais lhe convier.
A CNA e a Sociedade Rural Brasileira (SRB) se dispõem a contratar técnicos de notória capacidade para elaborar um novo sistema de rastreabilidade que, além de levar em conta as exigências da União Européia, também contemple as diferenças regionais brasileiras e os vários níveis de tecnificação dos criatórios nacionais, de acordo com o porte dos produtores. “Não se pode conceber um sistema de rastreabilidade que não leve em conta a realidade econômica e tecnológica de um microprodutor que tem dez ou 15 animais”.
Para o dirigente da CNA, o ponto crucial para os pecuaristas é que a adesão a qualquer dos sistemas seja voluntária, pois para micro e pequenos pecuaristas, bem como para produtores de leite, a rastreabilidade não é interessante.
O dirigente da CNA lembra ainda que o Sisbov prevê também a identificação genealógica dos animais cadastrados, algo considerado impraticável para os grandes rebanhos de corte. “Considerando-se que o criador adote a recomendação técnica de um touro para cada 25 vacas, imagine a loucura para controlar as informações de paternidade num plantel de mil vacas. Só se fizer teste de DNA”, ironiza Nogueira.
Crítica
Iniciado em 2002, o Sistema Brasileiro de Identificação de Origem de Bovinos e Bubalinos (Sisbov) provocou uma divisão na cadeia produtiva da carne. De um lado, a favor do sistema, estão o Governo federal, certificadoras e a indústria exportadora de carne. Do outro estão pecuaristas e entidades ligadas à agropecuária, que condenam a obrigatoriedade do sistema e alegam dificuldades técnicas e financeiras de execução.
O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) fixou janeiro de 2008 como limite para que todo o rebanho nacional, estimado em 190 milhões de cabeças de bovinos e búfalos, esteja integrado ao Sisbov. Até agora, 26 milhões de cabeças já passaram pela certificação.
“É absurda a certificação individual em um país em que até seres humanos não têm suas carteiras de identidade”, afirma o presidente da Sociedade Rural Brasileira (SRB) João Almeida Sampaio Filho, que integra a comissão criada pelo Mapa para discutir o Sisbov.
A comissão foi uma sugestão de deputados federais ruralistas. No entanto, de acordo com a coordenadora substituta do Sisbov na Secretaria de Defesa Agropecuária do ministério, Natércia de Araújo, não terá poder de decisão. “A comissão é uma busca paralela de melhoria para o sistema, mas temos pontos que são irreversíveis, como a obrigatoriedade da certificação e o cumprimento dos prazos estabelecidos”, afirmou Natércia.
Exportações
O maior argumento do Governo, das certificadoras e da Associação Brasileira da Indústria Exportadora de Carnes (Abiec) é que foi após a criação do Sisbov que o país consolidou-se como principal exportador mundial de carne bovina. Há três anos, o Brasil ocupava o terceiro lugar no mercado internacional de carne bovina. Hoje, o país lidera o ranking com exportações de US$ 4 bilhões no ano passado e uma meta de atingir US$ 5 bilhões neste ano. “Cada vez mais será necessário o atestado de origem e a rastreabilidade de qualquer produto, seja de origem animal, seja vegetal. É nesse contexto que o Sisbov existe”, afirma Antônio Camardelli, da Abiec.
Fonte: O Popular/GO e Hoje em Dia/MG, adaptado por Equipe BeefPoint
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Pergunto até quando o brasileiro vai arrumar um jeitinho para não fazer as coisas direito. Discordo da corrente que alega prejuízo na rastreabilidade e da falta de condição de rastrear sendo que nem mesmo seres humanos tem documento. Como perder com a rastreabilidade, se ganha de R$1,00 a R$3,00/arroba? Se está agregando valor ao produto junto ao consumidor final? Se está garantindo segurança alimentar perante o resto do mundo?
Agora, se ocorre dificuldade na rastreabilidade é por culpa de todos. Para começar pelo consumidor, que não se preocupa com o que está consumindo. Depois pelos técnicos que não têm noção da grandeza de sua importância junto aos criadores, não apenas rastreando, mas dando todo e qualquer suporte a cadeia da carne, e, por fim, aos próprios criadores que não vêm a rastreabilidade além do preço por arroba. Rastreabilidade significa ter todo o controle da sua produção: quem está pesando mais ou menos, quem está comendo mais ou menos e assim vai.
A crítica que tenho da rastreabilidade de hoje é que na maioria dos casos ainda está acontecendo em cima da hora. Acontecendo somente na linha do frigorífico. Penso que deverá acontecer uma maior fiscalização, um maior controle por parte de certificadoras, maior ética por parte dos técnicos e começo de planejamento de produção por parte dos pecuaristas. Acredito que a partir daí a cadeia da carne terá ainda mais propensão de sucesso no cenário nacional e global do que já tem hoje, restando-nos decidir qual o caminho a seguir.