Continuam hoje as discussões sobre a importação de carne argentina pelos frigoríficos brasileiros. Representantes da pecuária de corte da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), que integram o Fórum Nacional Permanente de Pecuária de Corte, vão avaliar o assunto e discutir propostas para resolver o impasse entre frigoríficos e pecuaristas brasileiros.
Segundo o coordenador do Fórum Nacional da Pecuária de Corte, Antenor Nogueira, o primeiro passo para um acordo mais amplo foi a decisão da Associação Brasileiras das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec) de suspender todas as importações de carne bovina da Argentina. Também será reduzido drasticamente o abate de bovinos por uma semana, com o objetivo de enxugar o mercado e induzir uma reação dos preços da carne com osso. Entre outras propostas que serão analisadas hoje, está a de que se impeça os supermercados de importar diretamente a carne argentina, em detrimento dos interesses das indústrias e distribuidoras do produto.
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Os representantes da pecuária de corte da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), que integram o Fórum Nacional Permanente de Pecuária de Corte, reúnem-se hoje para avaliar os prejuízos que as importações de carne bovina da Argentina, ou o anúncio dessas aquisições pelos frigoríficos brasileiros, estão causando ao setor. “Até onde se pode avaliar, as importações permanecem nos mesmos níveis de comercialização. Anualmente, o Brasil, como forma de abastecer seu consumo interno estimado em seis milhões de toneladas de carne bovina, importa cerca de 40 mil toneladas de cortes específicos, como a picanha, para atender à demanda local”, explica o assessor especial da entidade para esse segmento, Paulo Mustefaga.
Até que se apurem os fatos, a preocupação do setor pode estar vinculada à especulação de mercado lançada pelo setor industrial da cadeia bovina com objetivo de reduzir os preços dos animais vendidos aos frigoríficos. Mas ele disse também que a CNA está preocupada com os riscos sanitários que as importações da Argentina representam para a pecuária brasileira, cuja maior parte do rebanho já está isenta da febre aftosa. “Queremos que o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento fiscalize com rigor a entrada deste produto, porque a crise argentina também pode estar afetando o controle sanitário daquele país”, observou.
“Pelo cenário atual da Argentina, realmente o gado lá está mais barato em relação aos preços adotados pelo mercado brasileiro. Mas, também em função da crise, o mercado argentino mal consegue cumprir suas cotas de exportação para o mercado europeu. O que o Brasil compra é justamente o corte que é rejeitado para exportação com destino a este mercado. Os criadores devem ter cautela, por enquanto, e não devem se desesperar em vender toda a criação pronta para o abate de uma vez”, observa o assessor.
Mustefaga informou também que a entidade não pensa em pedir aplicação de imposto de importação sobre as importações argentinas porque reconhece que este tipo de mecanismo não é condizente com uma economia aberta. Mas ressaltou que, se houver risco sanitário para o Brasil, a entrada do produto argentino pode ser bloqueada pelas autoridades sanitárias brasileiras.
Acordo
O coordenador do Fórum Nacional da Pecuária de Corte, Antenor Nogueira, disse que o primeiro passo para um acordo mais amplo foi a decisão da Associação Brasileiras das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec) de suspender todas as importações de carne bovina da Argentina. Segundo ele, os frigoríficos anunciaram, durante o encontro desta semana em São Paulo, que vão reduzir drasticamente o abate de bovinos por uma semana, com o objetivo de enxugar o mercado e induzir uma reação dos preços da carne com osso, hoje com cotações consideradas aquém da realidade de mercado. Nogueira acrescenta, entretanto, que a própria indústria adverte que, para a estratégia funcionar, é preciso que os pecuaristas continuem restringindo suas vendas, para evitar que a redução do abate tenha efeito contrário do esperado, gerando excesso de oferta de animais de corte.
Conforme o coordenador do fórum, outras reivindicações da indústria serão discutidas hoje, em reunião na Confederação Nacional da Agricultura (CNA) e durante encontro de pecuaristas com o ministro da Agricultura, Pratini de Moraes. Entre outras propostas, está a de que se impeça os supermercados de importar diretamente a carne argentina, em detrimento dos interesses das indústrias e distribuidoras do produto. “São questões sobre as quais não podíamos dar uma resposta imediata, mas que nos propusemos a discutir nas instâncias apropriadas”, diz o dirigente do fórum.
De qualquer forma, na avaliação de Nogueira, as negociações foram satisfatórias e devem resultar em melhora sensível nas relações dentro da cadeia produtiva da carne. Segundo ele, a crise deixou pelo menos uma lição positiva, “a de que não adianta um elo da cadeia querer lucrar à custa do sacrifício de outro porque a velocidade atual das informações não permite que as manobras especulativas durem mais que algumas horas”, referindo-se às recentes declarações de diretores de frigoríficos de que comprar carne na Argentina estava mais barato que matar boi no Brasil.
O presidente da Sociedade Goiana de Pecuária e Agricultura (SGPA), Maurício Faria, disse ontem que aprova as negociações, mas sugere que nos próximos encontros os supermercados e distribuidoras de carnes também sejam levados à mesa de negociações. “Temos de discutir a rentabilidade na cadeia da carne como um todo, pois há fortes indícios de que alguns elos estão majorando seus lucros em detrimento de outros, principalmente do pecuarista”, diz o dirigente. Ele refaz o apelo para que os produtores continuem segurando o boi no pasto, até que toda a situação esteja clara.
Fonte: O Estado de São Paulo (por Gecy Belmonte), Diário de Cuiabá (por Marianna Peres), O Popular/ GO (por Edimilson de Souza Lima), adaptado por Equipe BeefPoint