Pedro de Camargo Neto concedeu essa entrevista ao BeefPoint onde trata da necessidade de ações do Governo para a abertura de novos mercados para a carne brasileira e de melhorias no sistema de defesa agropecuária, ressaltando que é preciso um trabalho conjunto entre o setor público e privado.
Pedro de Camargo Neto é pecuarista e doutor em engenharia de produção. Foi um dos fundadores do FUNDEPEC (Fundo de Desenvolvimento da Pecuária de São Paulo), sendo seu presidente de 1991 a 2000. O Fundepec foi a primeira entidade privada a realizar ações no combate a febre aftosa em parceria com o serviço público.
Foi presidente da Sociedade Rural Brasileira de 1990 a 1993. Foi também secretário de Produção e Comercialização do Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento de 2001 a 2002. Atualmente é presidente da Abipecs (Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína).
Pedro de Camargo Neto concedeu essa entrevista ao BeefPoint onde trata da necessidade de ações do Governo para a abertura de novos mercados para a carne brasileira e de melhorias no sistema de defesa agropecuária, ressaltando que é preciso um trabalho conjunto entre o setor público e privado.
BeefPoint: O que o Brasil não está fazendo e poderia fazer, no curto prazo, para acelerar a abertura de novos mercados?
Pedro de Camargo Neto:Não existe segredo, novidade ou milagre, o necessário é fazer mais e melhor, isto é, trabalhar com competência, ser pró-ativo. Derrubar barreira sanitária exige ação de governo. A negociação é sempre com a autoridade sanitária do país importador. Não há como exportar sem o governo equacionar antecipadamente as barreiras sanitárias. A crise que se deflagra exige ainda mais rapidez e eficiência, incompatíveis com o ritmo com que as negociações vêm sendo tratadas. Precisamos de um serviço público forte, independente e competente.
BeefPoint: Quais os países o Brasil deveria focar seus esforços, para carnes, para abertura de nossas exportações no curto prazo?
Pedro de Camargo Neto: Não vendemos para o Japão, Coreia do Sul, EUA, China, Mexico, para citar os maiores. Não se pode porém esquecer os médios e menores. Tem muito mercado para ser conquistado.
BeefPoint: O acesso da carne bovina in natura aos EUA está mais para um sonho distante, ou uma possibilidade real para os próximos 2-3 anos?
Pedro de Camargo Neto: Possibilidade real, concreta, desde que se trabalhe seriamente. Não saiu até agora porque ocorreram focos de febre aftosa quase que ano sim ano não desde 2000 quando se iniciou este processo.
O que pode ser dito é que não é sonho. É trabalho, é seriedade, é consistência.
Indago aos leitores: como anda a vigilância sanitária pelo Brasil afora? As GTAs (Guias de Transito Animal) tem sido emitidas de maneira séria? Os cadastros de rebanho são consistentes? Existe fiscalização? O serviço publico de saúde animal, nosso parceiro essencial neste desafio, está atuando? Existem recursos? Os profissionais estão apoiados?
Cada produtor deve ser fiscal, não no sentido policial, mas de participação, de envolvimento.
Sem vigilância sanitária não chegaremos lá. Caso saibam de falhas, por favor, se manifestem. Enviem as denúncias ao seu representante, ao Governo Estadual, ao Governo Federal. Utilizem a imprensa como instrumento de pressão. Não fiquem sentados esperando que o vírus anuncie nossa incompetência.
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Parabenizo o Dr. Pedro de Camargo Neto pelas fundamentadas palavras e lições dadas nesta entrevista.
A solução quanto às barreiras sanitárias não deve partir apenas do Governo, via MAPA. Todos os segmentos da cadeia da carne são responsáveis pelo combate e completo controle à Febre Aftosa, visto que não acredito em erradicação do vírus em nosso meio.
Devemos lembrar que o vírus não conhece e respeita limites de fazendas e fronteiras de Estados e Países. Todos nós somos responsáveis por tal tarefa.
Devemos deixar de lado as picuínhas e pequenas rixas que nos separam e nos dividem e juntos combater de frente o fantasma da Aftosa!
Um forte amplexo!
Enrico Lippi Ortolani
Prof. Titular Departamento de Clínica Médica
Fac. Med. Veterinária e Zootecnia da USP
Concordo plenamente com o Pedro, nosso país, ou melhor a carne brasileira, tem muitos mercados a serem conquistados, e essa condição de maior exportador de carne do mundo não pode nos levar a zona de conforto e ficarmos a merce dos mercados importadores atuais.
Pois a cada barreira criada por estes mercados, como exemplo a UE, nossas produções ficam paralisadas, e com isso os planejamentos montados em cima dos valores programados apartir desta receita ficam paralisados, gerando um problema para toda a cadeia produtiva, desde o pecuarista até os funcionários dos frigorificos.
O Brasil tem excelentes campos, uma cadeia produtiva maravilhosa, um clima totalmente favorável, enfim, temos tudo para sermos, como somos os melhores. Mas temos que seguir conquistando mercados e fortalecer cada vez mais nosso sistema de vigilância sanitária interno, independente das exigências propostas pelos importadores. E ai sim, teremos um histórico interno forte, onde poderemos garantir, e discutir com qualquer mercado ou importador, dando as garantias necessárias e aumentarmos ao dobro, ao triplo, nossas produções e garantirmos todo o processo interno produtivo, sem ficarmos aguardando a boa vontade ou melhor aos interesses dos importadores.
Prezado Pedro,
Acabamos nos desencontrando no Sial 2008 e assim ao ler a tua sucinta entrevista ao BeefPoint me veio em mente lhe enviar o meu artigo que a Produtor Rural publicou no ano passado sobre o país europeu que trabalha muito bem “public affairs” no setor de carnes.
Aproveito para lhe desejar um excelente 2009 com muita energia para conseguirmos realmente abrir novos mercados mencionados por você ainda que, ao meu ver, me parece um sonho muito distante caso o governo e o setor privado não busquem uma nova forma de colaboração, inclusive com adidos agrícolas independentes do MRE no exterior uma vez que, como é de teu conhecimento, o Itamaraty não tem o perfil e muito menos técnicos para defender o agronegócios brasileiro no dia a dia.
Não podemos nos esquecer do “suícidio” que cometemos recentemente no setor de bovinos e no de suínos em relação a UE na década passada. A história nós conhecemos e ainda recordamos das barbaridades cometidas no tema de suínos, inclusive das decisões equivocadas de nossas autoridades competentes do governo e das empresas do setor privado que motivaram o “castigo” que pagamos ainda caro uma vez que o mercado comunitário continua fechado para carne suína in natura brasileira.
Abraço.
Clique aqui para acessar o artigo da Produtor Rural citado.
Há mais de 10 anos, adquiri o hábito de ler o que o Dr. Pedro de Camargo Neto escreve ou declara e que chega ao meu conhecimento. É sempre uma oportunidade para se aprender alguma coisa.
Agora mesmo, lendo esta entrevista eu pensei no nível de maturidade que o país atingiu no setor de carnes com os três dirigentes das grandes associações de exportadores (ABIEC, ABIPECS e UBA), com os titulares do DEAGRO-FIESP, e os presidentes das duas maiores associações de criadores de gado de corte, a ABCZ, que tem delegação do MAPA, e a ACNB – Nelore do Brasil, que é promocional da raça. Os nomes desses dirigentes e de alguns outros tão importantes quanto esses são conhecidos dos leitores do BeefPoint.
Por que esses líderes não se reunem para discutir propostas de institucionalização de um modelo exportador de bovinos, suínos e aves, e das carnes dessas espécies.
O Dr. Cesário Ramalho já deu um “start” na discussão do modelo de Defesa Sanitária na FIESP. Escrevi a respeito da iniciativa do Deagro-Fiesp na Revista ABCZ, número 45, de jul./ago de 2008 (Sanidade dos rebanhos e segurança dos alimentos: em busca de um modelo de controle), depois de ter visitado o Dr. Pascal Boireau, diretor dos laboratórios da área veterinária e de alimentos de origem animal da AFSSA (Agência Francesa de Sanidade e Segurança de Alimentos) na Escola de Veterinária de Alfort, que demonstrou interesse em colaborar conosco na criação do nosso próprio sistema que segundo ele deve atuar em paralelo ao governo, sem subordinar-se a ele, para ter independência na análise científica dos temas de sanidade.
A hora é essa, como diria Victor Hugo, em que a ação é indispensável.
Ola Professor Ortolani, muito obrigado pelo comentario. Confesso porem que discordo em um aspecto: eu acredito na erradicação da febre aftosa. Precisamos juntos avançar. Pecuaria de primeiro precisa erradicar a febre aftosa.
Obrigado Celso Ferreira, é isso ai temos tudo. Precisamos agora nos organizar melhor. Não basta ter a melhor fazenda ou melhor frigorifico. Precisamos de ações coletivas competentes.
Devagarzinho estou ficando irritado com o fato que muita gente só pensar em combater a Aftosa para derrubar barreiras sanitárias dos países importadores de nossa carne e ignorar por completo o perigo e danos que a Aftosa causa para a pecuária brasileira como um todo, que na sua imensa maioria é destinada ao mercado interno.
Sempre defendi regras universais que facilitem a exigência e controle da sociedade e seus orgões de vigilância e defesa sanitária desde o combate às doenças contagiosas até o SisBov.
Não dá para trabalhar com 2 ou mais sistemas ou exceções porque se aumenta a margem de fraudes consideravalmente. Temos que fechar a porteira mesmo.
O observação do Prof. Enrico Lippi Ortolani, que não acredita que podemos erradicar o virus da Aftosa em nosso meio, vale ouro e deve ser levada muito a sério e por si já esta pondo em dúvida a sabedoria dos estados que queiram ser reconhecidos livre de aftosa sem vacinação.
Para mim o Brasil inteiro deve procurar e trabalhar para ser de fato reconhecido como livre de Aftosa com vacinação, sem nenhuma exeção.
Os recursos para o serviço público de vigilânca e defesa sanitaria animal e vegetal devem ser a altura da importância das atividades agropecuarias no Brasil.
A eventual exportação para os mercados “exigentes” só é sustentavel quando é resultado de um trabalho bem feito em todos os segmentos da cadeia de carne bovina.
Acrescentando, enquanto para a cadeia produtiva da carne, o gasto com defesa agropecuária é investir na proteção, qualidade e valorização do patrimônio/produto do empresário, para os governos é tornar uma atividade que está presente em praticamente todo território nacional, mais preparada para gerar empregos, renda, impostos e, principalmente, superavit comercial, uma vez que a exportação de carne bovina, por exemplo, é um dos ítens com melhor resultado na balança comercial brasileira.
Portanto, não se trata de opção, a dediçação de todos a este tema é uma questão de utilizarmos a inteligência que temos.
É claro que temos que concordar com as palavras do Dr.Pedro, pois ele não falou nada mais que a verdade, o que deve ser feito. Mas venho neste espaço dar uma sugestão no que diz sentido ao combate e fiscalização da febre aftosa.
Deveríamos ter nas Associações Rurais ou Sindicatos Rurais uma atuação mais efetiva neste quesito, como representantes da classe rural, os maiores interessados em acabar com a aftosa, são estas instituições que deveriam encabeçar ações neste ambito.
Estamos acostumados a ver passar os anos e nossas Associações Rurais passam em branco em atuações que beneficiem nossa classe, somente preparando exposições e remates anuais, oque convenhamos não é nada, ou muito pouco.
Devemos profissionalizar nossos representantes de classe, para que atuem realmente em pról da classe, das reais necessidades de seus associados. E, convenhamos tem muita coisa a ser feita, basta ter a cabeça aberta a novos conceitos.
Nosso potencial pecuário é indiscutível, nossa seriedade e capacidade também, todos temos uma grande responsabilidade, essa estória de aftosa em um sistema sanitário de 2 vacinações por ano dá para tirar de letra. Acredito muito no potencial humano e nossa vocação agropecuária a grande maldade está localizada nos nossos intermediarios (aqueles representantes que ficam entre os produtores e consumidores) esses sim tem feito todo esse sistema ficar caótico. Esse pessoal sim precisa respeito e seriedade com a sociedade e deixar de manipular os meios de comunicação.
Parabenizo o Sr. Pedro de Camargo pela entrevista.
A irregularidade e má aplicação de recursos estaduais e federais, a falta de pessoal (concurso público parece coisa do outro mundo) e a falta de visão de muitos produtores (ou a visão imediatista de muitos) dificultam a erradicação da Febre Aftosa e a vigilância de outras, como a Encefalomielite Espongiforme bovina – Doença da Vaca Louca.
Em resumo é gestão precária de todo o processo.
Parabéns Dr.Pedro!
Continuo como seu Conselheiro e apoio a sua tese de que é possível sim a erradicação da febre aftosa de nosso país. Da mesma forma que fizemos os circuitos pecuários com sucesso, agora há necessidade de novas estratégias de ação, como por exemplo o envolvimento comum das áreas de risco entre Brasil, Paraguai, Bolívia e Argentina, principalmente do pantanal (chaco) e a fronteira seca.
Outros assuntos relevantes de defesa animal merecem ser tratados com mais firmeza, principalmente, nas discussões com os “experts”dos paises importadores, que na realidade desconhecem nossos reais problemas e soluções.
Temos que mostrar que temos competência profissional e empresarial suficiente para ocuparmos o primeiro lugar no mundo da agropecuária.
Abraço.
Estimado Pedro,
Para se implantar uma ficalização efetiva e induzir uma maior imunização do rebanho para a Febre Aftosa, poderia se apelar a logística reversa dos frascos de vacina, semelhante ao que se faz com os defensivos agroqúimicos.
Cada loja agropecuária, ficaria encarregada de receber, devidamente lavado o frasco de vacina e emitiria um comprovante de devolução. O comprovante de devolução, afixado com a GTA, obrigatoriamente acompanhando a carga que vai ao Frigorífico.
Os frigoríficos então prestariam contas das guias e comprovantes de devolução à autoriadade sanitária.
Logítica reversa, o que vai ao fronte, volta a fonte.
Parabéns pela entrevista ao Beefpoint e a Revista Veja.
Parabenizo a brilhante esplanação do Dr. Pedro Camargo Neto, e aproveito para ofertar fraternal abraço ao idealista realizador, Francisco Victer, que muito contribui com o desenvolvimento do Estado do Pará.
Importante fazer breve relato sobre o assunto, trazendo informações ainda vividas por mim.
Desde 15 de abril de 2008, venho lutando inplacavelmente, com todas as autoridades e instituições competentes, desde Ministério Público, ADEPARA, MAPA, IBAMA, Secretarias do Meio Ambiente -SEMA- Estadual e Municipal, DECON, Prefeitura, Camara dos Vereadores, Delegacia comum, Receita Federal, Receita Estadual- SEFA, ANVISA e Vigilância Sanitaria, para moralização, interdição e fiscalização nos abatedouros clandestinos de Conceição do Araguaia -Pará, por compartilhar do mesmo entendimento.
Minha indignação é que infelizmente, até hoje, nenhuma atitude foi tomada e a clandestinidade atua normalmente, não só em Conceição do Araguaia, como na maioria dos municipios do Pará. Na contramão do dicionario Aurélio, CLANDESTINIDADE : feito as ocultas, escondido, aqui, o clandestino tem endereço próprio e de conhecimento das autoridades.
Penso eu. O que mais fazer para que o consumidor do Pará, tenha o mesmo direito de adquirir carne saudável, fiscalizada e comprovadamente sem zoonoses? Será que o consumidor de outros Estados brasileiros são regidos por outra Constituição? Crimes contra o consumidor e a saude publica, parecem não ter relevancia neste longinquo e conivente com a ilegalidade, Estado.
O mercado mundial esta aberto e conjuntamente temos um enorme potencial interno a ser explorado de forma racional e igualitaria.
Tomara que as autoridades acordem, é momento de crise, atentaimonos para o lado possitivo que ela nos proporciona.
Meu caro Dr. Pedro,
Parabéns, como sempre.
Abraço do,
Otávio Cançado
Nos somos auditados por americanos e europeus para verificarem se nos não estamos praticando a tal de bio-terrorismo, e reparando nos aeroportos brasileiros internacionais não vejo a fiscalização deste tipo de negocio, sendo facilmente para um estrangeiro entrar no pais com um tubinho de colirios carregados de virus de febre aftosa ou a tal da ferrugem asiatica e outras coisas a mais, na verdade o que mais for conveniente aos paises ricos para proteger seu comercio interno.
Vejo nos jornais as vezes as seguintes noticias:
Camarão de Santa Catarina foi barrado no Estados Unidos, suco de laranja apresentou problemas, boi com febre aftosa na divisa do Paraguai, sempre arrumam uma desculpa quando o mercado deles abarrotam e não tem como quebrar o acordo via comercial usam o sanitario.
Assunto com diversos pontos de vista e bastante polemico principalmente quando ocorre algum problema como um foco vide o caso de 2005, mas por outro lado quando se fala no papel do povo (produtor) este muitas vezes desenformado não cumpre o seu papel deixando indices vacinais abaixo do necessário e transitando com animais que nunca será coibido muito porque as dimensões do país impedem até mesmo combates como por exemplo o combate ao tráfico de drogas, não esquecer que o produtor não é criminoso, então como informa-lo? através de ações modestas como pequenas reuniões e palestras para produtores rurais e alunos de escolas rurais, não será a hora de tomarmos a experiencia de empresas como a Coca-Cola que mesmo lider de mercado não sai da mídia inclusive a televisiva, quem não lembra de Ivomec e Antonio Fagundes na novela das 8, até uma madame de São paulo e Rio de Janeiro conhecem o produto, será que acreditaremos neste modelo de divulgação (folhetinhos e reuniões deste porte), enquanto a estrutura oficial de defesa as melhorias viriam com maior rapidez e concistencia apartir do momento que a sociedade cobrasse o que ainda é pouco comum principalmente no meu estado onde o produtor muitas vezes não vive do negócio ou tem como “lazer” e ainda reserva de capital. Será que um dia veremos uma novela das oito na GLOBO com tema rural como várias já foram e semelhante a aquele filme americano de cowboy onde Paul Newmam novinho atirava nos animais já pesos na trincheira e comentavam os prejuízos com a aftosa, será que não tem recurso pra isso bastaria gastar uma pequena parcela da chamada verba de marketing do ministério e dos partido no poder por exemplo. Por favor comentem esta carta que creio seja um ponto esquecido.