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Pedro de Felício esclarece sobre abate sanitário no MS

O pesquisador Pedro Eduardo de Felício, de Campinas, São Paulo, enviou um comentário ao artigo "MAPA fará abate sanitário de 1.599 bovinos no MS". Acesse e leia a carta na íntegra.

O pesquisador Pedro Eduardo de Felício, de Campinas, São Paulo, enviou um comentário ao artigo “MAPA fará abate sanitário de 1.599 bovinos no MS“. Abaixo leia a carta na íntegra.

“Tentarei responder de maneira objetiva os questionamentos levantados pelo Sr. J.R. Skowronek Rezende. Primeiro, o abate sanitário é feito em separado da matança normal sob rigoroso controle do inspetor veterinário do Serviço de Inspeção Federal.

Segundo, o material de risco é constituído por órgãos nos quais já foram encontrados os agentes da doença EEB – Encefalopatia Espongiforme Bovina, que tristemente ficou conhecida como Doença da Vaca Louca. São os príons, proteínas que têm sua origem em cérebros de ruminantes infectados, basicamente o sistema nervoso central (remoção completa de encéfalo e medula espinhal com as suas meninges), olhos, baço e parte dos intestinos, resistentes a altas temperaturas e desinfetantes. Esse material deve ser destruído. Aqui não se trata de serem ou não consumidos por humanos, mas de haver um potencial infectante, admitindo-se que existam príons circulando na população.

Por mais desprezível que seja, a hipótese não pode ser descartada já que entraram e entram no país ruminantes importados e alimentos de origem animal via portos e aeroportos, além de ser endêmica em quase todos os países a “scrapies” que é uma das ETs (encefalopatias transmissíveis), que muito provavelmente infectou as primeiras vacas britânicas a partir da farinha de carne de ovinos de descarte.

Obviamente, se esse gado apreendido será tratado com rigor sanitário, haverá que se proceder também aos exames de cérebros. Haverá também que se descartar os ossos da coluna vertebral, por onde passam os pares de nervos motores originários da medula espinhal, e só então liberar a carne para consumo. Os tecidos comestíveis que constituem a carne, ou seja, muscular e adiposo, não seriam considerados infectantes mesmo se houvesse registro da EEB no país, o que não é o caso. Seriam retirados da cadeia alimentar por cautela.

Já que o sr. Rezende menciona a questão da imagem, vale dizer que a melhor imagem é do rigor absoluto, inflexível, das autoridades constituídas no cumprimento da legislação de defesa sanitária animal. Tudo mais passa, menos a imagem do rigor sanitário.

Por último, sem interesse em defender o infrator, devo mencionar por dever de ofício, que cientificamente pode-se assegurar que a carne desses bovinos não oferece risco de EEB maior do que a de qualquer outro gado porque os príos infectam somente bezerras na fase em que começam a consumir ração e a evolução da doença é de alguns anos e não três ou quatro meses de confinamento.

Na esperança de ter contribuído para dirimir as dúvidas, esclareço que estudei muito este tema, a partir de 1996, quando o governo britânico admitiu, depois de ter negado por 10 anos, a possibilidade de transmissão da doença aos humanos. Sinceramente, eu temia que a doença viesse a ocorrer no Brasil, que importou milhares de animais de países que tiveram ou vieram a ter EEB. Mas, como disse o papa, Deus é carioca e, portanto, brasileiro. É isso!”

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0 Comments

  1. Marcos Barros Leite disse:

    Bom dia,
    poderia esclarecer este último parágrafo? Se a doença não infecta bovinos em terminação (3 a 4 meses de confinamento), porque não liberar o uso da “cama de frango” para este fim?
    A proibição tem alguma utilidade real ou será que se trata simplesmente de mais uma barreira econômica travestida de sanitária, imposta por países importadores cuja pecuária não consegue competir em custos com a produção brasileira?
    Obrigado

  2. Pedro Eduardo de Felício disse:

    Senhor Marcos Barros Leite,
    Há evidências de que a contaminação dos bovinos ocorra quando as bezerras – em geral bezerras, e principalmente as leiteiras – começam a receber ração (os bezerros machos dificilmente recebem ração), a doença terá um longo período de evolução, maior do que dois anos. Daí que no período mais crítico, 1986 – 1996, o Reino Unido eliminou todo o gado de mais de 30 meses. Mais adiante, em 2003 – 2004, o Japão não aceitou o argumento dos EUA para exportar carne de gado de maturidade A (até 30 meses) sem realizar o exame do encéfalo, dizendo que registrou a ocorrência de pelo menos um caso em novilha de dois anos. Feita a introdução, a resposta é que sempre se trabalha com a hipótese de existência dos príons das ETs (encefalopatias transmissíveis) nos rebanhos de ruminantes, sendo necessário cortar o ciclo da doença impedindo que eles atinjam os animais e sejam reciclados no sistema. Daí, não se pode permitir que nenhuma ração contendo subprodutos de ruminantes sejam consumidos por ruminantes, é o caso das farinhas de carne e das camas de frango, que potencialmente contêm resíduos dessas farinhas. É bom lembrar que o processo de fabricação de farinhas de carne, mesmo em digestores com vapor encamisado, não assegura a destruição dos príons das ETs.

  3. Fábio Andrade Bessa de Lima disse:

    Prezado Pedro,

    O quarto parágrafo do seu texto diz que “haverá também que se descartar os ossos da coluna vertebral, por onde passam os pares de nervos motores originários da medula espinhal, e só então liberar a carne para consumo.”

    A orientação que temos para esse tipo de abate sanitário é a remoção, segregação e destruição completa do material especificado de risco para EEB, a saber: encéfalo, olhos, medula espinhal, amígdalas e terço distal do íleo, mesmo os considerados comestíveis, conforme legislação específica.

    Saudações,

    Fábio Bessa

  4. Pedro Eduardo de Felício disse:

    Está certo Fábio. Eu deveria ter contado que durante um período crítico os frigoríficos europeus não podiam vender a carne de contrafilé com osso. No final de 2000, início de 2001, caíram ministros da agricultura e da saúde da Alemanhã por não estarem cuidando bem dessa questão e muito osso estava dando origem a carne mecanicamente separada que era usada em embutidos. Na Itália a medida motivou polêmica por causa da famosa bisteca fiorentina, sem osso deixava de ser bisteca. Mas aqui no Brasil não deve estar mesmo valendo essa restrição.
    Abraços
    PEdeFelício