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Pedro de Felício sugere criação de agência sanitária

Especialista na área de produtos de origem animal e pesquisador da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), Pedro Eduardo de Felício, avalia que o Brasil precisa aproveitar a crise provocada pelos focos de aftosa e criar uma agência federal sanitária para inspecionar a qualidade na produção de alimentos.

Para Felício, o órgão deve seguir modelo semelhante ao da agência canadense de inspeção criada em 1997, após um caso de “vaca louca”. A CFIA (Canadian Food Inspection Agency), segundo ele, interage nas áreas de agropecuária, pesca, saúde, indústria e comércio.

“A agência canadense poderia servir de modelo. Ela cuida dos programas federais voltados para produção de alimentos, segurança alimentar e saúde. Lá, há um corpo científico que participa ativamente e acompanha a produção de alimentos no mundo”, disse Felício, que ensina na Faculdade e Engenharia de Alimentos.

Criada a agência brasileira, segundo o professor, um técnico deveria estar à frente de problemas como o do foco da aftosa, evitando o desgaste de ministros e até do presidente da República.

O professor defende que a agência brasileira seja vinculada ao gabinete da Presidência da República e tenha um orçamento próprio. Para ele, a defesa sanitária animal e a inspeção sanitária animal, atividades fundamentais no controle de qualidade na produção de carne, não deveriam estar subordinadas ao Mapa.

“É preciso que o trabalho seja feito por um setor independente”. Além de responder pela defesa e inspeção sanitária, a agência informaria sobre doenças animais, defendeu o professor.

Fonte: Folha de S.Paulo (por Maurício Simionato), adaptado por Equipe BeefPoint

0 Comments

  1. Pedro Eduardo de Felício disse:

    Peço permissão para que eu mesmo seja o primeiro a comentar a notícia da Folha de SP.

    Esclareço que a entrevista foi dada pelo telefone ao jornalista, que possivelmente não gravou o que eu disse, daí algumas imperfeições na explanação que ele procurou fazer das minhas idéias.

    De fato eu gostaria de ver a criação de uma ou duas agências federais nos moldes da CFIA – Canadian Food Inspection Agency, que foi instalada em 1997 após um caso de BSE em bovino importado. Os motivos para propor isso ao governo são pelo menos três:

    – o primeiro é a maneira confusa como ministros, secretários e outras pessoas do governo, em nível federal – até o presidente – e também nos estados, lidam com temas de doenças animais que exigem conhecimentos científicos como se tivessem tratando de futebol, onde somos todos técnicos;

    – o segundo motivo é que os temas relacionados com a defesa sanitária e também com a inspeção de alimentos estão se tornando cada vez mais complexos;

    – e o terceiro motivo é que esses temas exigem ser tratados com muita rapidez. Não há tempo para licitações, liberações de verbas para trocar os pneus dos veículos, etc., e precisam contar com recursos humanos especializados que não são formados de uma hora para outra, que deveriam ser contratados já com o mestrado feito, quem sabe até doutorado, que só serão atraídos para o governo e lá mantidos se remunerados adequadamente, no mínimo nos níveis pagos pela Embrapa.

    E o nome da Embrapa aqui é usado de propósito para perguntar aos leitores se conseguem imaginar a pesquisa agropecuária brasileira do governo federal sem a Embrapa que é uma espécie de empresa governamental, bem mais ágil do que o Ministério. O mesmo raciocínio vale para a Defesa e a Inspeção Sanitária e não é só dos animais e seus produtos não, é dos vegetais também.

    Se o leitor discordar e achar que essa problemática toda deve mesmo ficar no Ministério da Agricultura, que faça um teste: experimente reunir uns amigos que militam no agronegócio e juntos tentem imaginar como o governo federal e dos estados agiriam diante de um ou mais casos de uma doença qualquer – não como a aftosa que é puramente de importância econômica, mas de uma que represente um sério problema de saúde pública, lembrando de considerar no teste que o Brasil foi há pouco rebaixado na classificação de risco de EEB.

    Um bom final de semana a todos os leitores do Beefpoint que, como eu, não possuem nenhuma cabeça de gado e, por isso mesmo, ainda conseguem dormir nesse país tropical abençoado por Deus, mas um tanto confuso.

  2. Euler Andres Ribeiro disse:

    De nada adianta se criar uma agência se não houver verba para vacinação assistida em áreas problemas, controle da fronteira e campanha de esclarecimento para os produtores em coisas simples, como o uso de agulha intramuscular na vacinação. A vacinação subcutânea com vacina oleosa, além da falta de higiene, causa fibrose e abcesso, fazendo com que muitos pecuaristas não vacinem para evitar estes efeitos.

  3. LENY ROSA FILHO disse:

    No Brasil já existem estruturas governamentais que cuidam da inspeção sanitária de alimentos. Estas estruturas governamentais contam com técnicos altamente capacitados para execução dos programas de inspeção e defesa sanitária animal e vegetal.

    Talvez se o ministro responsável pela pasta da agricultura tivesse apoio do governo, da mesma forma que tem prestígio com a classe política e os empresários, sobrariam mais recursos e estes chegariam em tempo hábil para execução dos programas estratégicos.

    Leny Rosa Filho
    Médico veterinário e fiscal federal agropecuário
    Cuiabá-MT